Correio braziliense, n. 20427, 25/04/2019. Política, p. 4

 

Ataques de Carlos preocupam lideranças

Rodolfo Costa

25/04/2019

 

 

Os ataques do vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ) ao vice-presidente Hamilton Mourão estão complicando a já difícil situação da articulação política do governo com o Congresso. Mesmo depois de o presidente Jair Bolsonaro ter anunciado, em nota na terça-feira, a intenção de colocar “ponto final” no conflito, o embate continuou ontem ao longo do dia. Para a insatisfação de lideranças no Congresso, que prometem dar respostas ao governo, se a briga continuar.

As lideranças não enxergam um confronto entre Carlos e Mourão. A leitura é de um duelo entre Bolsonaro e o vice. “Se eu sou presidente e meu filho começa a brigar com meu vice, quem vai ser cobrado politicamente? É claro que sou eu. Isso não é bom em lugar nenhum do mundo”, afirmou um líder.

A avaliação é que os ataques do vereador desgastam o governo e passam a imagem de instabilidade política. Parlamentares comparam a situação ao mercado financeiro. “Os investidores não colocam dinheiro em banco ou economia falida. É preciso sentir confiança para investir”, frisou outro líder.

Os congressistas ainda acreditam que há tempo para Bolsonaro frear Carlos. Mas recados serão dados em ações no próprio parlamento, caso os ataques continuem, como em derrotas ao governo em votações ou negociações de projetos, caso da própria reforma da Previdência.

Diferentemente do vereador, que vê “ambição presidencial” de Mourão e “alinhamento com políticos que detestam o presidente” — de acordo com manifestações que fez ontem no Twitter —, lideranças enxergam apenas que o vice exerce o papel institucional ao zelar pela união do país mantendo diálogo com diferentes frentes.

Ontem, Carlos postou recorte de uma reportagem na qual o vice sugere que o deputado Jean Wyllys deveria ter ficado no Brasil, por acreditar que “lei, política e polícia” brasileiras poderiam protegê-lo. Depois, o vereador disse que não reclama do vice “só agora”. “São apenas informações! Não ataco ninguém, são apenas fatos que já aconteceram, e gostaria de continuar compartilhando com os amigos!”, escreveu.

Mesmo hostilizado, Mourão manteve o tom neutro. Ontem, pregou uma “virada de página”. Ele também negou que tenha mencionado o assunto com Bolsonaro. “Converso a hora que é necessário. A hora que for necessário, a gente conversa”, disse. “Tudo é motivo (para conversar), mas a gente procura levar sem aumentar as tensões. As tensões no dia a dia já são suficientes e não precisamos aumentar isso aí.”

À noite, Carlos negou que queira o impeachment de “quem quer que seja”. “Informar e mostrar a verdade de posicionamentos inadequados e anteriores a qualquer crítica por mim revelada virou motivo para distorções e fake news. Palavra acima jamais citada por mim”, defendeu-se.

Tudo é motivo (para conversar com Jair Bolsonaro), mas a gente procura levar sem aumentar as tensões. As tensões no dia a dia já são suficientes e não precisamos aumentar isso aí”

Hamilton Mourão, vice-presidente da República