O globo, n. 31339, 27/05/2019. País, p. 4 e 5

 

Pelo governo, na rua

Bernardo Mello

Renan Rodrigues

Patrik Camporez

Sérgio Roxo

Guilherme Caetano

27/05/2019

 

 

Atos defendem Previdência e pacote anticrime

Atos favoráveis a medidas do governo do presidente Jair Bolsonaro foram registrados ontem em 156 cidades de todos os 26 estados e do Distrito Federal. Nas ruas, foram defendidas pautas como a reforma da Previdência, a Medida Provisória (MP) 870 — reorganização da estrutura dos ministérios — e o pacote anticrime apresentado pelo ministro da Justiça, Sergio Moro. O levantamento de cidades foi feito pelo G1.

A Polícia Militar e os organizadores não divulgaram estimativas de público no Rio e em São Paulo, as duas maiores cidades que receberam atos. Faixas e cartazes levados pelos participantes citavam as reformas propostas pelo governo e continham críticas a parlamentares do centrão e ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia.

As manifestações em defesa da educação, no último dia 15, registraram atos em mais de 200 cidades, também em todos os estados e no Distrito Federal. As estimativas de público dos atos pró-governo Bolsonaro divulgadas até o início da tarde de ontem variavam entre 27 mil pessoas, segundo a PM, e 152 mil pessoas nas ruas de todo o país, de acordo com os organizadores de cada local.

Em Belo Horizonte, apoiadores do presidente estimaram que 35 mil pessoas foram à Praça da Liberdade para manifestar apoio ao presidente. Já no Distrito Federal, a estimativa foi da PM: cerca de 20 mil pessoas estiveram em uma caminhada pela Esplanada dos Ministérios. Em pelo menos 16 cidades não houve divulgação de estimativas nem por parte da PM, nem pelos organizadores dos atos.

Minoritários, grupos de manifestantes atacaram o Supremo Tribunal Federal (STF) com faixas e cartazes, o que havia sido desaconselhado por Bolsonaro.

Na orla de Copacabana, milhares de pessoas se reuniram a partir das 10h para manifestar apoio às reformas. Participantes do ato, que ocupou seis quarteirões da Avenida Atlântica, também foram favoráveis à instalação no Senado da CPI dos Tribunais Superiores, conhecida como CPI da Lava Toga, que tem como um de seus alvos investigar as ações de ministros do STF.

Um boneco inflável de Rodrigo Maia com cerca de 3,5m, com termos como “Judas” e “171” às costas, foi erguido em Copacabana. O presidente da Câmara, que tem atuado em favor da reforma da Previdência, não se pronunciou. Segundo Ronaldo Magalhães, do Direita Rio, o boneco custou cerca de R$ 3,2 mil e foi pago com o auxílio de doações:

— Temos que tornar o Rodrigo Maia um símbolo nacional da velha política.

Em entrevista à TV Record, Bolsonaro falou da importância de Maia para a aprovação da Reforma da Previdência e fez uma autocrítica:

— Falta conversar mais (com os presidentes da Câmara e do Senado). A culpa é minha também. Temos que colocar na mesa o que temos de aprovar e o que precisamos revogar também.

Um guindaste com 45m de altura foi usado como mastro para que a bandeira do Brasil fosse hasteada em Copacabana. A empresa Guindastão Carvalho, responsável pela estrutura, informou que disponibilizou o guindaste sem custos, por interesse em apoiar o movimento.

Lagostas no STF

Parlamentares do PSL, partido de Bolsonaro, discursaram em um carro de som com críticas a partidos de oposição e fazendo um apelo à governabilidade.

— Estamos no mesmo barco. Se o barco afundar, afunda todo mundo—disse a deputada estadual Alana Passos.

Em Brasília, os manifestantes fizeram uma passeata pela Esplanada dos Ministérios. Carregavam faixas de apoio a Bolsonaro e em defesa das reformas e com ataques aos partidos do centrão.

Em frente ao Congresso foram inflados dois bonecos, um de Moro vestido de “herói brasileiro”, e outro do ex presidente Lula com dinheiro no bolso. Houve espaço para o bom humor, com manifestantes vestidos de “lagosta” para ironizar um episódio recente em que a STF foi pressionado a cancelar a compra de itens gastronômicos de alto valor.

Em São Paulo, os manifestantes se espalharam por nove quarteirões da Avenida Paulista, mas em alguns trechos a concentração de pessoas era pequena. Oito carros de som foram estacionados ao longo da via — os responsáveis disseram que a estrutura foi paga por meio de doações. O nome do ministro da Economia, Paulo Guedes, foi entoado em coro na Paulista por manifestantes que cobravam a reforma da Previdência.

Políticos do PSL compareceram, como os deputados federais Luiz Philippe de Orleans e Bragança (SP), Carlos Jordy (RJ) e Filipe Barros (PR).

— Força Bolsonaro, força Sergio Moro, se liga STF — discursou Major Olímpio, líder do PSL.

Um boneco inflável com a imagem do presidente foi erguido na avenida. Movimentos de direita que não aderiram ao ato, como o MBL e o Vem Pra Rua, eram alvo de provocações.

Líder do Nas Ruas, a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) foi vaiada quando defendeu a importância de Maia para as reformas:

— No momento em que ficamos contra o Congresso, a gente enfraquece o Bolsonaro.

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No Rio, presidente diz que foi dado 'recado' contra 'velhas práticas'

Letycia Cardoso

Bruno Góes

27/05/2019

 

 

Bolsonaro afirma que manifestações respeitaram as leis e as instituições; Moro comemora ‘festa da democracia’

O presidente Jair Bolsonaro afirmou na manhã de ontem que o povo foi às ruas nos atos pró-governo para “defender o futuro da nação”. As declarações foram feitas ao lado da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, durante um culto na Igreja Batista Atitude da Barra da Tijuca, no Rio.

— Hoje é um dia em que o povo está indo às ruas. Não para defender um presidente, um político ou quem quer que seja. Está indo para defender o futuro desta nação —disse Bolsonaro.

O presidente disse ainda acreditar que os manifestantes quiseram dar um recado para pessoas que insistem em “velhas práticas”,

sem determinar que pessoas são essas e quais práticas estão sendo criticadas.

—Uma manifestação espontânea. Com uma pauta definida, com respeito às leis e às instituições, mas com o firme propósito de dar recado àqueles que teimam, com velhas práticas, não deixar que esse povo se liberte — afirmou o presidente.

Mais tarde, questionado sobre o que seria o “recado”, o presidente disse:

—Pergunta para o povo. Bolsonaro também escreveu em rede social que a maioria foi às ruas para manifestações democráticas. “Há alguns dias atrás, fui claro ao dizer que quem estivesse pedindo o fechamento do Congresso ou STF hoje estaria na manifestação errada”, escreveu, nas redes.

Os atos em favor do governo foram registrados em todos os estados e no Distrito Federal. Os manifestantes defendem projetos da gestão do presidente, como a reforma da Previdência e o pacote anticrime e anticorrupção, apresentado pelo ministro da Justiça, Sergio Moro. Foram usados também cartazes contra o centrão e o Supremo Tribunal Federal ( STF ).

Moro também se manifestou pelo Twitter: “Festa da democracia (...). Sem pautas autoritárias. Povo na rua é democracia.”

Nunca antes...

A convocação para os protestos ganhou volume depois das manifestações em defesa da educação no último

dia 15. O governo evitou envolvimento, embora deputados do PSL tenham apoiado desde o início a organização dos atos.

Ainda na igreja, Bolsonaro disse que, “pela primeira vez na História do Brasil”, um presidente está cumprindo o que prometeu durante a campanha eleitoral:

—Os problemas se avolumam. Se fosse só eu a sofrer, estava feliz. Mas quem está ao meu lado, seja parente ou não, também sofre. São 208 milhões de pessoas às quais eu devo obediência, lealdade e o norte que tem que ser dado para o futuro do nosso país.

O presidente passou o final de semana no Rio. No sábado, foi ao casamento do filho Eduardo, deputado federal pelo PSL, com a psicóloga Heloísa Wolf.