O globo, n. 31340, 28/05/2019. Economia, p. 18

 

Proposta reduz questionário do Censo em 37%

Daiane Costa

Stephanie Tondo

28/05/2019

 

 

Diretor de Pesquisas diz que foco da pesquisa é ‘contar pessoas e medir estrutura etária da população’. Com novo formato em discussão, temas como emigração, tempo de deslocamento para o trabalho ou escola e valor do aluguel ficariam de fora

O novo diretor de Pesquisas do IBGE, Eduardo Rios Neto, apresentou ontem uma nova proposta de redução para o questionário do Censo 2020, com apenas 70 questões, em reunião fechada com o Conselho Consultivo do Censo, segundo fontes que participaram do encontro. A mudança representaria um corte de 37% no total de perguntas em relação ao tamanho original do questionário, de 112 itens. A informação foi antecipada pelo colunista do GLOBO Bernardo Mello Franco, em seu blog.

Em conversa com a imprensa após a reunião, Rios não confirmou o tamanho do corte, mas disseque alterações buscam melhorara qualidade de cobertura da pesquisa. E negou que o objetivo tenha sido reduzir custos ou se adequara restrições orçamentárias:

—Aceitei o desafio( de assumira Diretoria de Pesquisas) sem referência monetária. O desafio é fazer uma operação de guerra, que é o Censo. Sou um teórico. Não teve parâmetro econômico. O Censo é principalmente para contar pessoas e medira estrutura etária delas. É o grande desafio. O objetivo é ampliara cobertura. O Censo precisa visitar todos os domicílios brasileiros. É uma operação logística complexa, não pode haver subestimação nem superestimação.

Rios ponderou que a maior preocupação co maconta gemeidade da população não significa que há intenção de minimizara cobertura de temas no Censo.

Uma das principais críticas do corpo técnico, porém,é a perspectiva de exclusão da pesquisa de temas relacionados ao número de brasileiros que deixaram o país e dados sobre o tempo dedes locamento para o trabalho e para a escola. Estas informações sã ousadas na formulação de políticas e investimentos público senas projeções populacionais. Além disso, não há no Brasil outro ti pode registro, anão ser pelo Censo. Também devem fi carde fora questões relacionadas ao valor pagode aluguel, natureza da união de casais e posse de bens como geladeira, telefone celular e automóvel.

Críticas dos técnicos

O novo corte no questionário — o terceiro proposto desde que a presidente do IBGE, Susana Cordeiro Guerra, determinou uma revisão para adequar a pesquisa a um orçamento menor —teria sido feito sem a aprovação do corpo técnico. Insatisfeitos, os técnicos encaminharam carta ao Conselho Consultivo do Censo informando que não apoiam a proposta. Eles argumentam que há “risco incalculável ao sistema estatístico nacional” e “possibilidade de prejuízo à eficácia do investimento realizado pelo Estado”.

Segundo Rios, a proposta foi bem recebida pelo Conselho Consultivo e podem ser acrescidos mais quatro quesitos no questionário. O próximo passo será apresentara proposta ao corpo técnico e, ainda esta semana, fechar um questionário final para o Censo, que vai acampo em agosto de 2020. Com relação às críticas, Rios disse que tem autonomia técnica para dar a palavra final:

—Par acada dilema( sobre as questões) dei minha sentença (na reunião com o Conselho). Nem todas foram aprovadas. Estou absolutamente convencido da minha autonomia técnica. Eu vou retornar aos técnicos (do IBGE) por uma questão de respeito, não para fazer assembleia.

A segunda prova piloto da pesquisa, aplicada entre março e o mês passado em cinco mil domicílios brasileiros, tinha 112 perguntas. O corpo técnico já havia apresentado outras duas propostas, desde então, com 96 e 84 questões, respectivamente. Para os técnicos, qualquer corte adicional colocará em risco a qualidade e eficácia da pesquisa.

O Censo foi orçado inicialmente em R$ 3,4 bilhões, mas o ministro da Economia, Paulo Guedes, já disse que o governo federal só concederá R$ 2,3 bilhões.

O economista Cláudio Considera, pesquisador da FGV e ex-chefe de Contas Nacional do IBGE, lamentou o corte no questionário do Censo, que, segundo ele, é o verdadeiro retrato do país. As perguntas sobre renda, emigração, tempo de deslocamento para o trabalho, gastos com aluguel e posse de bens são fundamentais, diz Considera, e servem de base para políticas públicas estaduais e municipais, além de outras pesquisas:

—Os equipamentos domésticos, por exemplo, mostram mais ou menos qualé o nível de bem-estar das famílias brasileiras. O trabalho do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), que é feito com base no Censo, não vai poder ser feito como antes.

Priorizar cobertura

Já o ex-presidente do IBGE Sérgio Besserman aponta que está cada vez mais difícil fazer com que as pessoas respondam à pesquisa, que leva 40 minutos, e diz que, nesse momento, o mais importante é priorizar a cobertura.

— Toda informação é útil, nada do que foi tirado é de graça, mas, se puder ter a informação de outro jeito, nesse momento eu priorizaria a cobertura. E a redução do número de perguntas ajuda, diminui um pouco a dispersão —explica.

Besserman avalia que grande parte dos dados pode ser obtida por meio de uma integração com os estados e municípios, com a melhora de registros administrativos.