Valor econômico, v.19, n.4598, 27/09/2018. Empresas, p. B6

 

Crédito da faculdade é mais usado que FIES

Beth Koike

27/09/2018

 

 

Diante da redução do Fies, programa de financiamento estudantil do governo, nos últimos anos, as faculdades particulares passaram a oferecer crédito estudantil próprio para atrair os alunos. No ano passado, 28,3% dos calouros ingressaram no ensino superior com essa modalidade de crédito. Em contrapartida, apenas 5,7% dos novos alunos contrataram o Fies, segundo levantamento do Semesp, sindicato que reúne instituções de ensino superior.

Há quatro anos, quando a oferta do Fies era alta, a proporção era oposta. Cerca de 21% dos calouros da graduação tinham o financiamento estudantil do governo e 14,4% se matricularam com o crédito próprio das faculdades.

Segundos dados do Ministério da Educação (MEC), no ano passado, havia 1,1 milhão de alunos estudando com crédito estudantil concedido pela instituição de ensino. Esse número é maior do que a quantidade de estudantes com Fies, que somava 1 milhão.

No ano passado, 44% das faculdades ofertavam crédito estudantil próprio, que funciona como uma espécie de parcelamento de mensalidades, uma vez que as escolas não podem cobrar juros nesse tipo de programa porque não são instituições financeiras. O que as escolas fazem para não perder dinheiro é cobrar 50% do valor da mensalidade vigente no período da amortização da dívida.

O aumento na oferta desse tipo de benefício é consequência do prolongamento da crise econômica. Até então, as faculdades concediam bolsas de estudo para não perder alunos, mas agora têm preferido crédito estudantil, que possibilita o retorno da mensalidade. Normalmente, os alunos pagam metade do valor da mensalidade durante o curso e o restante após a formatura, sem juros ou fiador. Questionado sobre o risco de inadimplência, Rodrigo Capelato, diretor-executivo do Semesp, afirmou que esse risco também existe entre aqueles que pagam a mensalidade cheia e acrescentou que a preferência é por alunos com rendimento e sem restrição na Serasa.

Capelato observou, no entanto, que o crédito próprio é uma iniciativa limitada, ou seja, não é possível ofertá-lo em grande escala. Ele defendeu o repasse de recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para as instituições de ensino ofertarem empréstimo universitário. Há um projeto em estudo do banco de fomento com o MEC para a criação de uma linha de crédito de R$ 2 bilhões para essa finalidade.

Grandes grupos educacionais como Kroton, Estácio e Ser Educacional têm programas de parcelamento de mensalidades. Na Kroton, líder do setor, 22 mil alunos se matricularam por meio do crédito universitário próprio no vestibular do começo do ano e apenas 700 calouros contrataram o Fies. (Colaborou Hugo Passarelli)