O globo, n. 31340, 28/05/2019. País, p. 5

 

MP atribui mortes a racha em facção do Norte

Dimitrius Dantas

Aline Ribeiro

28/05/2019

 

 

Promotor afirma que os assassinatos do último fim de semana em presídio do Amazonas repetem a lógica de controle de penitenciárias como símbolo do poder sobre o crime no estado, assim como teria ocorrido em 2017

O setor de inteligência do Ministério Público atribui as mortes nos presídios do Amazonas a um racha entre integrantes de uma facção local. Criada em 2007, essa é a maior organização criminosa do estado.

Responsável por denunciar 216 detentos que teriam participado de massacre ocorrido em 2017, o promotor Edinaldo Medeiros afirma que as mortes do último fim de semana repetem a mesma lógica de controle da penitenciária como símbolo do poder sobre o crime no Amazonas.

Naquela ocasião, no entanto, Medeiros afirma que uma das prioridades dos criminosos era a exposição das mortes para causar pânico nos rivais da principal facção paulista e nas forças de segurança:

— Em 2017, foi uma resposta para dizer quem mandava. Foi um recado. A brutalidade e a exposição eram um fator importante.

Segundo o setor de inteligência do MP, agora, no centro da briga dentro da facção local estão os fundadores José Roberto Fernandes, o “José Compensa”, e João Pinto Carioca, o “João Branco”.

Os 15 mortos na manhã de domingo seriam ligados ao grupo comandado por João Branco. De acordo com um dos promotores, um terceiro grupo da própria facção estaria plantando a discórdia entre ambos, com o objetivo de tomar o poder.

Sem exposição

Segundo um outro promotor do Amazonas, ao contrário da carnificina de 2017, desta vez os presos não filmaram nem fotografaram os corpos — prática usada para demonstrar poder.

— Um celular custa R$ 10 mil dentro das unidades, assim como uma arma. Desde a carnificina anterior, o controle de entrada está muito maior —afirmou o promotor.

Para Edinaldo Medeiros, o massacre indica que os casos de 2017 e de agora estão relacionados porque refletem que o sistema prisional do estado continua sendo dominado por facções criminosas. Segundo ele, mesmo a paz que durou desde 2017, com a hegemonia da facção local sobre a organização paulista que tentou se infiltrar no estado, foi pouco duradoura.

— Continua a facção no comando e as disputas para quem se mantiver ali dentro. Se nada for feito, vai continuar ocorrendo. Não adianta um apaziguamento com a dominação de um grupo sobre o outro. Essa ocorrência só acende o sinal vermelho para demonstrar que as coisas continuam — disse Medeiros.

Para a procuradora-geral de Justiça do Amazonas, Leda Albuquerque, o governo do estado não tomou as providências necessárias após o massacre há dois anos. Leda afirmou que há cerca de um mês foram encontradas duas armas enterradas no Compaj. O material foi apreendido, e a revista foi intensificada.

A partir do episódio, o governo do estado decidiu retirar todos os integrantes de uma facção criminosa de São Paulo da unidade e transferi-los para outro presídio vizinho, temendo uma briga com a organização criminosa que atua na região Norte.

— O estado retirou todos os integrantes da facção paulista do Compaj e colocou no presídio feminino ao lado. O que não se esperava era que as mortes iam se dar dentro da organização criminosa local —afirmou.