O globo, n. 31341, 29/05/2019. País, p. 10

 

Entrevista - Santos Cruz: "Coisas boas não aparecem com essa fumaceira"

Santos Cruz

Janaína Figueiredo

29/05/2019

 

 

Alvo de ataques na rede, ministro diz que discordâncias existem num ambiente democrático, mas muitas vezes brigas pessoais acabam tendo grande reflexo

Já são quase cinco meses de governo, o senhor faz um balanço positivo dessa etapa?

Tem muita coisa boa acontecendo e muitas vezes elas não aparecem por essa fumaceira toda, por pequenas coisas, discussões, até brigas pessoais que têm um grande reflexo. Essas discordâncias que existem num ambiente de democracia e liberdade de expressão. Sem dúvida o balanço é positivo. Um novo governo chegou, com agenda e expectativa boa. O Bolsonaro teve o grande mérito de mobilizar a população brasileira. A segurança pública, por exemplo, melhorou muito, o índice nacional de assassinatos caiu mais de 20%.

Por que, então, as pesquisas mostram uma queda notável de apoio ao governo?

Ter uma pequena queda depois de um tempo é normal. A vida real obriga o governo a fazer opções e nem sempre essas opções são tão alegres.

Os cortes na educação, por exemplo?

O corte na educação não foi tão significativo. Talvez a interpretação da coisa tenha sido muito mais significativa.

Houve uma falha na comunicação sobre o corte?

A maneira às vezes como é transmitida dá espaço a interpretações. Também existem interesses políticos, que também são normais. Tudo isso acaba dando uma ideia errada sobre o contingenciamento.

Qual a sua avaliação sobre as manifestações do último domingo a favor do governo?

No último domingo as manifestações foram pacíficas e expressivas, mostrando maturidade política dos manifestantes. São coisas da liberdade individual e de manifestação. Tem todo tipo de agenda e de pauta. Mesmo que, no caso das manifestações da educação, tenham sido equivocadas, é da sociedade. As pessoas têm ansiedade, expectativa e preocupações. Não é estimulado pelo governo, nem tem participação formal de governo. Sendo pacífico, vejo como algo normal.

Conversou com o presidente sobre os ataques ao senhor, alguns feitos por pessoas do círculo íntimo de Bolsonaro?

O presidente tem um acargade responsabilidade inimaginável. Não vou perturbar o presidente com esse tipo de coisas, são coisas pessoais que você resolve pessoalmente.

O senhor falou com as pessoas que o atacaram?

Não. Algumas coisas são decisões interiores, outras você responde, outras não. Você vai avaliando cada uma, o que você não pode é encher a cabeça do presidente.

Foi difícil ver a hashtag #forasantoscruz nas redes?

Hoje temos um fenômeno, as redes sociais. Há um arsenal de tecnologia, uma disponibilidade de mídias sociais e todos deverão se adaptar a isso. Isso aí não abala de jeito nenhum. É normal que determinados grupos discordem da maneira como você administra, conduz as coisas públicas. A única coisa que eu acho é que muita gente terá de se adaptar e manter as discussões realmente em termos de discordâncias de ideias. A pessoa pode discordar mas ou traco isa é agredir você pessoalmente. Isso é um exemplo ruim para a sociedade e a sociedade não aceita isso. Há pessoas que acham que aquilo ali é uma liberdade de ataque pessoal de toda forma. De fazer um tipo de guerrilha, um comportamento criminoso.

Se especula muito sobre a convivência entre a ala militar e a ala civil do governo. É tão complicada como se vê de fora?

Não, não é. São especulações. Tem vários militares no governo, o que acontece é que a vida militar é muito caracterizada, então o pessoal faz as contas de quantos tem. Nós nunca contamos quantos advogados tem, quantos políticos... não existe grupo militar, nem ala militar. Jamais houve qualquer conversa entre dois militares com espírito de grupo militar dentro do governo.

O senhor sente que para alguns setores os militares no governo são um fator de tranquilidade?

O que acontece é que os militares têm uma cultura, são 40, 50 anos na mesma organização. Dentro dessa cultura tem princípios basilares, a honestidade, a lealdade, então isso aí é fundamental para nós todos.

O PSL, partido do presidente, e até mesmo os filhos de Bolsonaro enfrentam denúncias.

Sim, mas por exemplo, você pega o PSL, um partido absolutamente novo. Até ele se transformar num partido sólido tem um tempo de acomodação. Depois do tsunami Bolsonaro o partido cresceu muito, com muita gente em primeiro mandato, até solidificar como um partido demora.

Para as irregularidades em partidos e, no caso, de pessoas existe a Justiça. Este é um processo que está sendo bem liderado, só que algumas pessoas continuam se comportando com a efervescência da campanha. Devagar vai se acomodando.