Correio braziliense, n. 20404, 02/04/2019. Política, p. 2

 

Bolsonaro pede que PEC "não seja muito desidratada"

Rosana Hessel

02/04/2019

 

 

Em Israel, presidente afirma que a decisão sobre a reforma da Previdência está com o Congresso e que apenas pode "dar sugestões", mas diz esperar que o texto não seja modificado em excesso. Para ele, é possível que a votação da proposta ocorra, em primeiro turno, até julho

Jerusalém — O presidente Jair Bolsonaro comentou pela primeira vez em Israel sobre a reforma da Previdência. Ao ser questionado se haveria investimentos da nação do Oriente Médio no Brasil, ele aproveitou para defender a proposta enviada pelo Executivo, em fevereiro, e que ainda não começou a tramitar no Congresso, para que os investimentos venham para o país.

“Israel é um país irmão. Eu me dou muito bem com o (Benjamin) Netanyahu (primeiro-ministro israelense). Agora, o Brasil tem de mostrar que está fazendo o dever de casa. Com as nossas contas desequilibradas, a reforma da Previdência é necessária para isso. Reequilibrando as contas, o investimento irá para o Brasil”, disse.

Foi a primeira vez, desde que chegou a Israel para uma visita oficial, no domingo, que Bolsonaro tocou no assunto. Ele contou que, na quinta-feira, quando retornar ao Brasil, terá uma reunião com “alguns líderes partidários”. “A decisão está com o parlamento. No que depender de mim, farei sugestões. Eu conheço mais da metade dos parlamentares. Fiquei 28 anos lá dentro. Sei como funciona aquilo. Podia até dar sugestões, mas não quero me meter, porque estou em outra casa”, afirmou. Ele ressaltou que a próxima viagem internacional dele, “se ocorrer”, será depois do primeiro turno de votação da reforma da Previdência.

Para o presidente, é possível que isso ocorra até julho. “Nós mandamos uma proposta. Ela não é minha nem do governo. É do Brasil. Nós não temos alternativa. Chegou a esse ponto”, frisou. “A Previdência está deficitária, e temos de fazer a reforma. Espero que o Congresso aprove, sem que ela seja muito desidratada.”

O presidente não acredita que a proposta previdenciária dos militares, que gerou resistência entre os parlamentares, prejudique a tramitação da PEC da Previdência. “Não tem nada a ver. O militar não é Previdência. Eu sou suspeito para falar, porque sou capitão do Exército. Mas a vida do militar é diferente. Ele trabalha 24 horas por dia. Tem situação extraordinária da tropa”, ressaltou. “É GLO (Garantia da Lei e da Ordem), são as interferências nossas, as missões, as mais variadas possíveis… A vida é complicada”, defendeu, acrescentando que a categoria já teve mudanças desde 2000. “A única reforma que foi feita no governo Fernando Henrique Cardoso foi a nossa, por medida provisória. E ninguém mais entrou. A nossa é muito mais profunda que a dos demais.”

Visita

Bolsonaro visitou, ontem, o Muro das Lamentações, acompanhado de Netanyahu. Foi a primeira vez que o premier israelense acompanhou um presidente brasileiro ao local.

Os dois chefes de Estado chegaram ao Muro por volta das 17h (pelo horário local). Eles se dirigiram a uma área reservada para a visita e posaram para fotos. Bolsonaro fez um pedido no local: “Que Deus olhe para o Brasil”, contou depois a jornalistas.

Também conhecido como Muro Ocidental, o local é um dos mais sagrados do judaísmo, atrás apenas do Santo dos Santos, no Monte do Templo. Trata-se do único vestígio do antigo Templo de Herodes, erguido por Herodes, o Grande, que foi destruído pelo Império Romano.

Em seguida, os dois seguiram para os túneis subterrâneos da Cidade Antiga de Jerusalém, onde, há menos de um ano, foi construída uma sinagoga na parte em que os judeus consideram mais próxima de onde era o Templo. Em hebraico, Sharey Tshuva, que significa algo como o portão da penitência ou da resignação.

O presidente e o premier participaram de uma breve celebração com um rabino na sinagoga, acompanhados dos integrantes da comitiva e de autoridades israelenses.

Hoje, Bolsonaro abre o encontro empresarial Brasil-Israel na parte da manhã, com Netanyahu. Estão previstos de 200 a 250 participantes no evento. À tarde, ele vai ao Centro de Memória do Holocausto e ao Bosque das Nações, onde está previsto o plantio de uma muda de oliveira.

Condecoração

Além do Muro das Lamentações e dos túneis, Bolsonaro visitou a Igreja do Santo Sepulcro, a Unidade de Contraterrorismo da Polícia israelense e a Brigada de Resgate e Salvamento do Comando da Frente Interna de Israel, onde entregou a insígnia da Ordem Nacional Cruzeiro do Sul para a Brigada, que enviou pessoal para ajudar a resgatar vítimas do desastre de Brumadinho (MG).

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A irritação dos palestinos

02/04/2019

 

 

 

 

Jerusalém — Jair Bolsonaro chegou no domingo a Israel. No dia da chegada, anunciou a abertura de um escritório para fortalecer os negócios entre os dois países, o que frustrou a expectativa do primeiro-ministro israelense, Benjamin Natanyahu, por um anúncio de transferência da embaixada brasileira de Tel Aviv para Jerusalém.

Ontem, Bolsonaro disse que a decisão não significa que tenha desistido da mudança de endereço da representação diplomática. Ele afirmou que tem até o fim do mandato para cumprir o compromisso, assumido ainda no ano passado.

O anúncio da abertura do escritório, no entanto, enfureceu a Autoridade Palestina, que chamou seu embaixador no Brasil para consultas. Bolsonaro disse ontem que “é direito deles reclamar”, mas que “não pretende ter atrito com ninguém no mundo”. “Temos viagem marcada para a China. Iremos, com toda a certeza, para algum país no Norte da África no segundo semestre também. Temos de aprofundar negócio com o mundo todo”, frisou. “Agora, Israel tem o direito de escolher sua capital. Ponto final. Se o Brasil hoje fosse abrir sua diplomacia com Israel, onde seria a embaixada? Seria aqui, em Jerusalém. Essa questão é simbólica de um lado e, do outro, é respeitar as decisões do respectivo Estado.”

Apenas Estados Unidos, aliado histórico de Israel, e a Guatelamala têm suas embaixadas em Jerusalém, que é disputada por árabes e judeus. A possibilidade de mudança da representação diplomática pode fazer o Brasil despertar a hostilidade de palestinos e países árabes. Por isso, a medida desagrada aos exportadores brasileiros de aves e carnes para nações árabes. Em janeiro, a Liga Árabe enviou uma carta em que pedia que o Brasil cumprisse o direito internacional e ameaçou retaliação. E elas vieram. A Arábia Saudita descredenciou cinco frigoríficos brasileiros que exportam para o país.

Ontem, embaixadores de países árabes decidiram pedir uma reunião com Bolsonaro quando ele voltar de Israel, e com o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. (RH)

“É direito deles reclamar. A gente não quer ofender ninguém, mas nós queremos que respeitem nossa autonomia”

Jair Bolsonaro, presidente da República

Festa de apoiadores

No hotel onde está hospedado em Jerusalém, Jair Bolsonaro foi recepcionado por um grupo de apoiadores católicos que o aguardava da volta da visita ao Muro das Lamentações. Eles estavam em Israel para visitar a Terra Santa e conseguiram alguns minutos com o presidente. Fizeram uma prece com o padre da comunidade Filhos da Misericórdia, de João Pessoa (PB), George Batista, e depois cantaram. Bolsonaro se emocionou quando eles começaram a cantar, com os braços estendidos, Derrama, Senhor, um hino pedindo bençãos ao presidente.