O globo, n. 31293, 11/04/2019. Mundo, p. 23

 

Ainda mais à direita

11/04/2019

 

 

 Recorte capturado

Partidos ligados a Netanyahu ganham maioria e devem garantir novo mandato a premier

Com mais de 97% das urnas apuradas, os partidos de direita devem conquistar 65 dos 120 assentos do Parlamento de Israel, apontando a recondução de Benjamin Netanyahu ao cargo de primeiro-ministro. Ao fim de uma das mais acirradas campanhas eleitorais da História de Israel, a composição do Parlamento que emergiu das eleições de terça-feira deve dar o quinto mandato ao primeiro-ministro Benjamin Netanyahu. A disputa era amplamente vista como um referendo sobre o premier, contra o qual pairam investigações de corrupção. O principal adversário dele, o ex-comandante militar Benny Gantz, reconheceu a derrota no fim da tarde de ontem em Israel.

Com mais de 97% das urnas apuradas, as legendas da direita nacionalista e religiosa encabeçadas pelo Likud (“união” em hebraico) de Netanyahu devem conquistar um total de 65 das 120 cadeiras da Knesset, o Parlamento israelense. Assim, o premier tem grandes possibilidades de ser reconduzido ao cargo para um inédito quinto mandato.

Caso seja convocado pelo presidente Reuven Rivlin para formar o novo governo, Netanyahu terá condições de reunir uma coalizão com quatro cadeiras a mais do que as que controla ao encerrar seu quarto mandato. Atualmente, o premier tem o apoio de 61 dos 120 deputados.

—É uma noite de vitória colossal — disse a apoiadores Netanyahu, de 69 anos, em discurso na sede do Likud, antes de beijar a mulher, Sara.

A multidão devolveu com gritos de “ele é um mágico”.

O principal desafiante do premier, o ex-comandante do Exército Benny Gantz, havia antes reivindicado a vitória, após sua legenda Kahol Lavan (Azul e Branco) conquistar nas urnas 35 cadeiras no Parlamento, a mesma bancada obtida pelo Likud individualmente. No entanto, os demais partidos que apoiariam um governo dirigido por Gantz não conseguiram assentos suficientes para formar uma maioria.

Na tarde de ontem, em comunicado na televisão, o partido de Gantz reconheceu a derrota. Os principais rivais de Netanyahu haviam formado uma aliança para reforçar as chances de superá-lo nas urnas.

— Nós não vencemos desta vez. Na oposição, vamos tornar a vida do Likud um inferno — ressaltou Yair Lapid, o número 2 da coligação opositora.

Problemas com a justiça

Segundo o jornal israelense Haaretz, Netanyahu prometeu consolidar o bloco parlamentar “rapidamente”. Juntos, os partidos da direita devem ter dez cadeiras a mais do que os de centro, esquerda e centro-esquerda na próxima legislatura, 65 a 55, de acordo com as projeções.

Com a repercussão da apuração eleitoral, a Bolsa de Valores de Tel Aviv abriu ontem com alta de 0,5%, um sinal de confiança do mercado no premier.

Caso se mantenha no cargo, Netanyahu se tornará em julho o primeiro-ministro que terá servido mais tempo no cargo ao superar nesta marca um dos fundadores do país, David Ben-Gurion. Tal perspectiva pode ser posta em xeque se denúncias de corrupção acabarem por derrubá-lo do posto.

Ainda assim, analistas preveem que a nova vitória de Netanyahu e seus aliados deve reforçar ainda mais a guinada do país à direita desde a chegada do premier ao poder em 2009. Segundo David Halbfinger, do New York Times, “uma luta pelo poder entre o Judiciário —um dos últimos redutos do progressismo no país — e os nacionalistas em ascensão ruma para uma confrontação que poderia alterar drasticamente a natureza da democracia israelense”. Isso porque o bloco que une conservadores e ultraconservadores busca reduzir, por meio de legislação, os poderes da Suprema Corte de Israel .

Processo de paz inerte

Outra manobra do grupo ligado a Netanyahu no Parlamento poderia resultar, de acordo com Halbfinger, numa lei para conceder imunidade ao premier, que até o fim do ano poder ser indiciado por corrupção, fraude e quebra de confiança pelo procurador-geral Avichai Mandelblit.

Outra consequência do resultado eleitoral é no atualmente inexistente processo de paz com os palestinos. Os palestinos exigem um retorno total às fronteiras que existiam antes da guerra de 1967, quando Israel ocupou a Cisjordânia, Jerusalém Oriental e a Faixa de Gaza. Netanyahu disse, no sábado, em última promessa de campanha, que anexaria os assentamentos israelenses na Cisjordânia ocupada se fosse reeleito. A última rodada de negociações de paz mediadas pelos EUA entrou em colapso em 2014.