GOVERNO MIRA NOS ACORDOS COMERCIAIS

Correio braziliense, n. 20389 , 18/03/2019. Política, p.2

DENISE ROTHENBURG

 

 

Washington, DC — O excelente humor do presidente Jair Bolsonaro com a viagem aos Estados Unidos foi amortecido pelas notícias que ele leu ainda no Brasil, a respeito das declarações de Olavo de Carvalho, considerado o guru do bolsonarismo. No voo, ele chegou a comentar com os ministros que as declarações foram, no mínimo, inoportunas. O que mais incomodou o presidente foi o fato de o professor dizer em alto e bom som que, “se continuar como está por mais seis meses, acabou”, como se fosse o fim do governo. Isso sem contar as críticas feitas aos militares próximos ao presidente, a quem Carvalho chamou de um grupo “c.” e ainda acusou o vice-presidente, Hamilton Mourão, de “mentalidade golpista”.

Olavo de Carvalho esteve no jantar oferecido pelo embaixador brasileiro, Sérgio Amaral, ao presidente Bolsonaro. A expectativa era de que os dois conversassem a respeito, porém, dada a presença de convidados estrangeiros, como Walter Russel, acadêmico conservador, e outras personalidades, como a colunista do Wall Street Journal Mary Anastasia O’Grady, que saudou a vitória de Bolsonaro em seus artigos. Perguntado numa rápida entrevista em frente à residência da embaixada se Bolsonaro conversara com o professor Carvalho, o porta-voz da Presidência, general Rego Barros, limitou-se a dizer que, “sim, porque faz parte da mesa”. E acrescentou: “As opiniões pessoais de quaisquer pessoas devem ser a elas direcionadas quando eventualmente tenhamos dúvidas sobre o que ela quis dizer ou não dizer”, afirmou o porta-voz, dando a entender que não está descartada uma conversa entre eles.

As declarações de Carvalho, segundo alguns, terminarão por marcar uma certa distância entre o presidente e o professor, apostam alguns integrantes da comitiva. Bolsonaro desembarcou ontem à tarde nos Estados Unidos para uma agenda de praticamente 48 horas, onde o pêndulo do governo balançará entre a parte econômica, capaz de alavancar o país a outro patamar — e, com isso, o prestígio de seu governante —, e uma parte mais ideológica, que estreita o diálogo com outras forças políticas, importantes. As frases polêmicas de Olavo, avaliam alguns aliados do presidente, fazem com que o presidente termine mais dedicado à pauta econômica.

Hoje, por exemplo, o ponto alto da agenda será o discurso na Chamber of Commerce, a Câmara de Comércio, onde a maioria dos ministros tem extensa agenda de negócios. As exceções são Sérgio Moro, da Justiça, que conversará com o chefe do FBI; e Marcos Pontes, da Ciência e Tecnologia, que estará dedicado aos acordos sobre a base de lançamento de Alcântara. Ontem, ao sair para o jantar, o ministro fez questão de frisar que não haverá desrespeito à soberania do Brasil. Todos os sete ministros participaram do jantar na embaixada do Brasil, o primeiro compromisso do presidente em Washington, onde ele discursou para a seleta plateia.

Nesse primeiro discurso, mais protocolar, o presidente mencionou, nas palavras do porta-voz, que “democracia e liberdade são o que une os dois países neste momento”. Rego Barros mencionou ainda que os objetivos dessa viagem são “fortalecer o nosso comércio, reconhecendo que os Estados Unidos são o segundo mercado para os produtos brasileiros; a diplomacia de fortalecer a democracia nesse lado do Ocidente é extremamente importante, reconhecendo que aspectos relativos ao antigo comunismo não podem mais imperar nesse ambiente que vivenciamos”.

 

Embaixador

O presidente não deve trocar o embaixador em Washington nesta viagem. Segundo Rego Barros, o presidente elogiou o trabalho de Sérgio Amaral, e que ainda fará os estudos necessários para a substituição do posto, considerado chave na geopolítica brasileira. Amaral, que já foi porta-voz, ainda conversou bastante com Rego Barros no coquetel que antecedeu o jantar: “Ele me disse que tomasse cuidado com vocês”, brincou o porta-voz, que saiu do jantar para conceder uma entrevista na porta da residência da embaixada, onde os termômetros marcavam 7 graus Celsius.