O globo, n. 31296, 14/04/2019. País, p. 9

 

Alcolumbre tenta se projetar como conciliador

Amanda Almeida

14/04/2019

 

 

Presidente do Senado acena ao governo e tem agido para atenuar crises entre Executivo e Congresso

A agenda externa do Presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), na semana passada, começou com a Marcha dos Prefeitos, em Brasília, na última terça-feira. Passou por um almoço com pastores evangélicos, no Rio, e terminou com a inauguração do aeroporto internacional de Macapá, na sexta-feira. Em todos os compromissos, a foto oficial foi ao lado de Jair Bolsonaro. Cada vez mais alinhado ao presidente, Alcolumbre tenta se projetar como administrador de crises e se cacifar com os colegas. O movimento de Alcolumbre mira também o Judiciário. Nas últimas semanas, acenou para o governo e o Supremo Tribunal Federal. Ele decidiu arquivar requerimento para criar a CPI dos Tribunais Superiores. Embora tenha recebido o apoio do partido do presidente, o PSL, a CPI não era um desejo do Palácio do Planalto, que temia a piora do ambiente político e dificuldades para aprovar a reforma da Previdência. Pressionado por colegas, Alcolumbre decidiu então que a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e o plenário precisavam referendar o arquivamento. Na última quarta-feira, o colegiado já aprovou relatório neste sentido. O plenário ainda precisa votar o parecer, mas a derrota já é esperada pelo grupo que apresentou o requerimento de criação da CPI. Toda a articulação foi comandada por Alcolumbre, que chegou a pedir, em reuniões reservadas, que colegas revissem a decisão de assinar o pedido de investigação. O senador ainda participou da negociação para uma votação considerada fundamental para o governo. Depois de a Câmara aprovar proposta que engessa ainda mais o Orçamento, o Senado fez alterações que suavizaram o texto, estabelecendo um aumento gradual do percentual de execução obrigatória. A mudança garantiu mais tempo ao governo para negociar o texto final, que volta para a Câmara. A atuação de Alcolumbre tem sido vista como um contraponto à do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que já se indispôs com Bolsonaro e ministros. Alcolumbre busca coma estratégia, segundo aliados, se cacifar como um interlocutor do Planalto junto a senadores e deputados.

O ministro Onyx Lorenzoni (Casa Civil ), amigo do senador, tem ajudado na aproximação com Bolsonaro. Não à toa, o presidente escolheu o Amapá como um dos destinos para iniciar seu giro pelo país.