Valor econômico, v. 19, n. 4616, 24/10/2018. Política, p. A5

 

PGR pede inquérito contra coronel que fez ameaças

Luísa Martins

Isadora Peron 

24/10/2018

 

 

A Procuradoria-Geral da República (PGR) requereu ao Ministério da Segurança Pública a instauração de um inquérito policial contra o coronel do Exército Carlos Alves, após ameaças que ele fez a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) - principalmente à presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministra Rosa Weber.

Em um vídeo publicado no YouTube, o militar diz que o Exército vai "derrubar" o TSE caso a Corte dê prosseguimento à denúncia de que a chapa do candidato Jair Bolsonaro (PSL) cometeu abuso de poder econômico ao contar com apoio financeiro não declarado de empresários. Também sugere que resultado diferente da vitória de Bolsonaro será a comprovação de fraude nas urnas eletrônicas.

Segundo a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, o coronel fez "graves ofensas à honra da ministra Rosa Weber, imputando-lhe tanto fatos definidos, em tese, quanto conduta criminosa, além de difamar-lhe a reputação, mediante imputação de fatos extremamente ofensivos".

Dodge quer "a imediata instauração" do inquérito para apuração de crimes como calúnia, difamação, injúria e ameaça, tanto contra Rosa quanto contra outros ministros do Supremo, como Ricardo Lewandowski e Edson Fachin. O próprio coronel deverá prestar depoimento, apontou a procuradora.

Alvo de manifestações de repúdio por parte de vários ministros do STF, o coronel voltou a atacar a Corte e disse que vai se lançar na política após as eleições. Em novo vídeo publicado no YouTube, endereçou suas ameaças ao ministro Gilmar Mendes - foi o magistrado quem sugeriu a instauração de uma investigação contra o militar. "Se você mexer comigo, eu juro pela minha honra que minha guerra contra você vai ser tirana", afirmou.

A maioria dos ministros da Corte manifestou-se ontem contra as falas do coronel. O decano, ministro Celso de Mello, disse que Alves envergonhou as Forças Armadas e ultrapassou os limites da liberdade de expressão, resvalando para a prática de calúnia, difamação e injúria.

"O primarismo vociferante deste ofensor da honra alheia faz-me lembrar dos personagens patéticos que, privados da capacidade de pensar com inteligência, optam por manifestar ódio visceral e demonstrar intolerância radical contra os que consideram seus inimigos, expressando, na anomalia dessa conduta, a incapacidade de conviver em harmonia e com respeito pela alteridade, no seio de uma sociedade fundada na democracia", disse o ministro, no início da sessão da Segunda Turma.

Em tom indignado, Carlos Alves gravou novo vídeo em que diz "não ser qualquer um" e que conta com o apoio de "milhões de brasileiros". Afirma ainda que caso algo de grave lhe aconteça, vai responsabilizar Gilmar - "um criminoso que não é digno de ser chamado de juiz".

Ele ainda profetizou que, antes de domingo (quando ocorre o segundo turno das eleições presidenciais), a chapa de Fernando Haddad (PT) irá sofrer um atentado simulado pelo próprio PT com o objetivo de culpar Bolsonaro e enfraquecê-lo politicamente.

"Só por causa disso, vou entrar com tudo após as eleições, aprender tudo sobre política e entrar para combater pessoas como você [Gilmar]. Com imunidade parlamentar, eu vou destruir esses corruptos", anunciou, apoiando a fala de Eduardo Bolsonaro de que "basta um soldado e um cabo" para fechar o STF.

Segundo ele, o general Girão Monteiro, eleito deputado estadual pelo PSL-RN, vai entrar com pedido de impeachment contra Gilmar no ano que vem. "Não mexa comigo", diz, referindo-se ao ministro. "É meu direito democrático tecer críticas contra a maneira como vocês conduzem esse Supremo, que só serve para soltar bandido."