Valor econômico, v. 19, n. 4592, 19/09/2018. Brasil, p. A5

 

Câmbio afeta preço administrado e puxa IPCA

Arícia Martins

19/09/2018

 

 

Mesmo com a atividade econômica fraca, a disparada do câmbio está elevando projeções para a inflação deste ano. Segundo economistas, o repasse cambial para os preços livres tende a ser menor devido ao excesso de capacidade ociosa na economia, mas seu efeito sobre os itens administrados é relevante. Nesse grupo, os maiores vetores de alta são os combustíveis, pressionados pela política de paridade internacional da Petrobras.

Nos 12 meses encerrados em agosto, as tarifas monitoradas acumulam alta de 9,6%, bem acima da variação dos preços definidos livremente pelo mercado, que foi de 2,4% no período.

Divulgado na segunda pelo Banco Central, o boletim Focus trouxe revisão modesta na projeção mediana para o aumento do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2018, que saiu de 4,05% na semana passada para 4,09% na atual. A previsão para a alta dos administrados no ano subiu 0,1 ponto, para 7,3%. Analistas ouvidos pelo Valor, no entanto, já trabalham com avanço de cerca de 8% para esse conjunto de preços.

É o caso de Vagner Alves, economista-chefe da Mogno Capital, gestora que está entre as instituições Top 5 de curto prazo. Mais pessimista do que o consenso de mercado, Alves estima que o IPCA encerrará 2018 com alta de 4,6% e alcançará 4,8% em 2019. Para este ano, a expectativa é que os administrados subam 8,2%. "A depreciação começou a aparecer em alguns pontos, o que fica mais claro na parte dos combustíveis", afirma Alves, para quem a gasolina vai aumentar 15% de janeiro a dezembro.

"A gasolina deve ter alta relevante em setembro e seguir pressionada até o fim do ano", comenta o economista. Nos preços comercializáveis, haverá efeito do câmbio nos alimentos e, mais para frente, em itens como bens duráveis, ainda que o repasse seja menor e mais diluído do que em outras ocasiões, moderado pela fraqueza da economia, diz. "Não consigo ver deflação de bens duráveis neste ano, ou mesmo no próximo, em razão da depreciação cambial." Em 2017, esses itens caíram 1,2%.

Os preços livres, em especial os de serviços, seguem evoluindo de maneira modesta, em linha com o elevado nível de ociosidade na economia, avalia Fabio Romão, da LCA Consultores. Por isso, Romão aumentou em apenas 0,1 ponto, para 4,3%, sua previsão para o aumento do IPCA em 2018, mesmo contando com avanço de 7,7% na parte de monitorados. Os recentes reajustes promovidos pela Petrobras terão impacto já no IPCA deste mês, observa Romão.

Além da questão dos combustíveis, o economista acrescenta que, embora 80% dos reajustes nas contas de luz já tenham ocorrido em 2018, o cenário para esses preços também piorou ao longo do ano. Em janeiro, era esperado que as tarifas de eletricidade residencial teriam alta de quase 10% em 2018, projeção que está em 14,1% atualmente, diz. A LCA considera que o patamar 1 da bandeira tarifária vermelha voltará em dezembro. Hoje, a bandeira está vermelha no patamar 2, mais caro.

A MCM Consultores revisou de 4,1% para 4,4% sua projeção para a alta do IPCA neste ano. Em relatório a clientes, a consultoria afirma que um dos fatores que levaram à mudança foram os reajustes de dois dígitos de tarifas de energia e a perspectiva menos favorável para as condições hidrológicas nos próximos meses. O segundo fator é a alta do dólar e das cotações do petróleo no mercado internacional, que elevou de 6,9% para 7,9% a previsão da MCM para o aumento dos administrados em 2018.

A desvalorização do real é destacada pelo Bradesco, outra instituição que ajustou para cima - também para 4,4% - a estimativa para o indicador oficial de inflação deste ano. "Vale ressaltar que esse ajuste se concentrou apenas no grupo de preços administrados, especificamente na gasolina, não alterando nossa avaliação de que o repasse cambial para os preços livres será abaixo da média histórica devido a um ritmo de crescimento mais moderado", comentam os economistas do banco em relatório.

Por fim, o Bank of America Merrill Lynch (BofAML) também revisou seu cenário inflacionário. A expectativa para a alta do IPCA em 2018 foi mantida em 4,1%, mas com uma composição diferente, explicam os economistas David Beker e Ana Madeira. A estimativa para o aumento de preços regulados por contrato no período avançou de 6,2% para 7,4%. A projeção para a inflação dos preços livres, por outro lado, passou de 3,4% para 3%.

Os bens comercializáveis - que sofrem competição externa e, por isso, são influenciados pela cotação do dólar - devem encerrar o ano com alta de 1,9%, ante 1,6% estimado anteriormente, devido à valorização da moeda americana, observam os economistas. O fraco desempenho da demanda doméstica, no entanto, deve conter parte do repasse cambial, ponderam eles.

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PIB é o 3º menor desde a redemocratização

Bruno Villas Bôas 

19/09/2018

 

 

Com a lenta recuperação da economia, o ritmo de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do governo Temer deverá ser o terceiro pior do período pós-redemocratização, superando apenas o desempenho das administrações de Dilma Rousseff e de Fernando Collor de Mello, mostram cálculos do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV), feitos a pedido do Valor.

Segundo o levantamento, a variação média trimestral do PIB no governo Temer foi de 0,25% até o segundo trimestre deste ano (série com ajuste sazonal), contado o mandato a partir de 12 de maio de 2016, quando a petista foi afastada por 180 dias e Temer assumiu a Presidência.

Levando em conta as projeções do Ibre/FGV para a economia em 2018, a variação média trimestral do PIB no governo Temer caminha para ser positiva em 0,34% no fim do mandato.

Nas projeções do instituto, a economia brasileira vai crescer 1,5% neste ano, em comparação ao ano passado. Pelo boletim Focus, do Banco Central (BC), a mediana do mercado aponta para alta de 1,36% no PIB.

Se confirmada a projeção, o desempenho na gestão Temer será um pouco melhor que a média trimestral do PIB dos governo de Dilma Rousseff (alta de 0,02%, considerando os dois mandatos) e Fernando Collor (retração de 0,1%). São, respectivamente, o penúltimo e o último colocados da lista - dois presidentes que sofreram impeachment em circunstâncias políticas e sociais diferentes.

"O governo Collor foi marcado pelo fracasso de planos econômicos e pela turbulência do processo de impeachment. Foi um período de grande recessão", disse a economista Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do Ibre e autora dos cálculos com a economista Luana Miranda, também do Ibre/ FGV. "É difícil imaginar impeachment sem crise econômica. A crise em geral ajuda a enfraquecer um presidente da República, com perda de apoio social e político."

O presidente com melhor média de crescimento trimestral foi, curiosamente, Itamar Franco (1,6%), ajudado pelo boom de consumo das famílias proporcionado pelo Plano Real. Na sequência de melhor ritmo aparece o governo Lula, com um crescimento médio de 1,2% por trimestre. A economia avançou ainda 0,9% na média trimestral do governo José Sarney, o primeiro do período pós-redemocratização.

Em termos de variação acumulada do PIB - do início do fim do mandato -, o melhor desempenho foi do governo Lula. No agregado dos dois mandatos do ex-presidente, atualmente preso em Curitiba, a economia cresceu 37,4%. Nenhum governo se aproxima desse avanço nas últimas três décadas.

O segundo governo com maior crescimento acumulado foi o de José Sarney (18,1%). Neste caso, é preciso relativizar a baixa base de comparação do período anterior.

A economista lembra que a relação entre desempenho da economia e o mandato presidencial precisa ser, em parte, relativizada. Afinal, presidentes colhem resultados econômicos "plantados" pelo antecessor no cargo - o que vale tanto para o bem, quanto para o mal. Um dos exemplos bem acabados disso é Dilma e Temer, embora não seja o único do período.

"Ciclo econômico e ciclo político podem ser muitos distintos. O primeiro mandato de Dilma teve uma marcha forçada para manter o crescimento elevado, com uso desvirtuado da política fiscal e intervenções microeconômico. Plantou-se uma das maiores recessões da história. Isso deixou uma herança maldita para o segundo mandato dela e também para Temer", afirmou a economista do Ibre/FGV.

Lucas Souza, economista da Tendências, disse que o governo Temer foi marcado por baixo crescimento por uma série de fatores, como o elevado nível de endividamento do setor público e das famílias, a frágil confiança na recuperação da economia e ainda a elevadas incertezas políticas, que foram agravadas com o escândalo das gravações de Joesley Batista, da JBS. Ele vê, contudo, méritos do governo na retomada.

"A retomada gradual da economia observada nos últimos meses recebeu contribuição de algumas práticas reformistas, como a PEC do teto dos gastos e a modernização trabalhista. Também houve melhora substancial de fundamentos macroeconômicos, como a queda dos juros básicos, a retomada gradual do emprego e controle inflacionário", avaliou o economista.

Ao calcular o desempenho de Temer, o levantamento considerou o início de seu mandato em 12 de maio, quando Dilma foi afastada por 180 dias do cargo. O mandato da petista foi definitivamente cassado, porém, em 31 de agosto de 2016.

Se fosse considerado esse recorte temporal, de agosto de 2016, o crescimento trimestral médio do PIB de Temer seria de 0,2% até o segundo trimestre e de 0,3% ao fim do mandato, também superando o de Dilma no período (estável).

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Para analistas, vaga formal ganhou força em agosto

Thais Carrança 

19/09/2018

 

 

O início das contratações da indústria para suprir a demanda de fim de ano deve ter levado a um aumento das admissões com carteira assinada em agosto, segundo economistas. A média das projeções de 15 consultorias e instituições financeiras ouvidas pelo Valor Data aponta para a criação de 58,3 mil vagas formais em agosto, após geração de 47,3 mil postos em julho e 35,5 mil em agosto do ano passado.

As estimativas vão da geração de 37,3 mil a 85 mil vagas. Se confirmada a média das projeções, este será o melhor saldo para o emprego formal no mês de agosto desde 2014, quando foram criados 101,4 mil postos. O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) ainda não informou a data de divulgação do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), mas a expectativa dos analistas é que o dado seja publicado nesta semana.

Segundo Cosmo Donato, economista da LCA Consultores, o aumento das contratações com carteira assinada em agosto é resultado de um efeito puramente sazonal e não indica nenhuma melhora significativa do mercado de trabalho. "Agosto é o mês em que começa a contratação da indústria para a demanda habitual de fim de ano", afirma. A LCA projeta geração de 59,9 mil vagas formais no oitavo mês do ano.

No entanto, na série ajustada para retirada deste efeito sazonal, não há grande avanço das contratações líquidas, pondera Donato. Pela estimativa da consultoria, o saldo de vagas formais com ajuste seria de 8,1 mil vagas em agosto. Se confirmadas as estimativas da casa, o saldo acumulado de janeiro a agosto será de 451 mil vagas sem ajuste e 79,7 mil na série dessazonalizada.

Donato começou o ano esperando uma geração de 1 milhão de postos de trabalho formais em 2018. Agora, tem viés de baixa para sua projeção de criação de 250 mil empregos com carteira.

O economista lembra que o mercado de trabalho formal costuma registrar saldo positivo de vagas no acumulado do ano até novembro. Já em dezembro, tradicionalmente há forte fechamento de postos, com as demissões na indústria após o fim da produção para atender à demanda das festas de fim de ano.

Como a LCA espera que sejam fechadas cerca de 400 mil vagas formais em dezembro, precisaria haver uma melhora muito grande do mercado de trabalho nos próximos meses para o saldo do ano ficar próximo à estimativa de 250 mil, o que é improvável.

Ainda assim, o economista espera alguma melhora na geração de vagas nos próximos meses, como efeito defasado da recuperação tímida da atividade e da dissipação das incertezas relacionadas à greve dos caminhoneiros.

"Se houver uma certa diluição desse impacto negativo de confiança até o fim do ano, isso é compatível com uma aceleração mesmo que tímida do saldo de empregos do Caged", acredita.

Para o ano de 2018 como um todo, a média das projeções de seis casas aponta para uma geração líquida de 308 mil vagas com carteira, com intervalo de 177 mil a 407 mil. Ao longo do ano, os economistas reduziram suas estimativas para o mercado de trabalho formal, após seguidas surpresas negativas no Caged, em meio a um ambiente de incertezas que inibe investimentos e contratações pelas empresas.

Ontem, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) informou que foram fechados 2,5 mil postos de trabalho na indústria paulista em agosto, queda de 0,11% em relação a julho na série sem ajuste sazonal.

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Cenário incerto reduz expectativa de investimento da indústria, indica FGV

Alessandra Saraiva

19/09/2018

 

 

A incerteza política, e o ritmo fraco de recuperação da economia, levaram a indústria a um compasso de espera nos investimentos. É o que mostrou ontem a Fundação Getulio Vargas (FGV) ao anunciar recuo de 3,1 pontos no Indicador de Intenção de Investimentos da Indústria da Transformação, entre o segundo e terceiro trimestres deste ano, para 113 pontos. Com o desempenho, a intenção de investimento da indústria mostrou nível mais baixo desde o terceiro trimestre de 2017 (105,1 pontos).

A incerteza sobre o próximo presidente e a condução de política econômica, junto com a recuperação débil da demanda, levou o empresariado a engavetar projetos e aguardar 2019 para investir, afirmou Aloisio Campelo Jr., superintendente de estatísticas públicas do Ibre/FGV.

Na sondagem, que abrange respostas de 656 empresas, houve redução da proporção de empresas que preveem investir mais, de 28,9% para 28,3%, e aumento da proporção das que preveem investir menos, de 12,8% para 15,3%. Em relação ao grau de certeza com relação ao plano de investimentos, a proporção de empresas certas quanto à execução do projetado nos 12 meses seguintes foi de 27,5% no terceiro trimestre, e a de incertas, 31,9%.

"Creio que a incerteza eleitoral é um componente muito importante [para entender o resultado], empatado com ritmo de crescimento da economia, que está lento mesmo", resumiu ele.

Ao detalhar o cenário político, Campelo lembrou que, até o momento, a indefinição sobre quem ocupará a Presidência também é um ponto de incerteza sobre quais serão as regras para investir, no ano que vem.

Outro aspecto que tem desanimado o setor empresarial é o ritmo lento de recuperação da atividade econômica, com sinais pouco expressivos de reação no mercado interno. A indústria ainda entende que a recuperação econômica prossegue, mas a cadência está muito mais lenta do que esperado. "A greve dos caminhoneiros abriu um 'flanco' na recuperação da economia" disse Campelo.

No entanto, o economista não descarta possível reação de investimentos na economia no final do ano, após resolução do pleito presidencial no final de outubro.