Valor econômico, v. 18, n. 4524, 14/06/2018. Política, p. A7

 

Maia diz que aliança mais provável é com o PSDB

Raymundo Costa

Raphael Di Cunto

14/06/2018

 

 

Pré-candidato do Democratas ao Palácio do Planalto, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, acha que é mais provável uma aliança do DEM com o PSDB ou Podemos, na hipótese dele desistir em favor da união do centro político. O PDT "é a maior probabilidade do DEM? Claro que não é. Mas se criamos este ambiente chamado centro, que nunca existiu, se a gente restringe o diálogo a A, B ou C não é mais centro", disse o deputado na Abertura do ciclo de debates com os presidenciáveis promovido pela Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), em Brasília.

Já no sábado o deputado havia declarado que vê maior afinidade política entre o DEM e o candidato a presidente Geraldo Alckmin (PSDB) que entre o seu partido e o PDT do pré-candidato Ciro Gomes. Em Santa Catarina, onde esteve ontem, Alckmin afirmou que respeita a candidatura de Maia, mas que deseja a união das siglas do centro. Alckmin e Maia tinham encontro previsto pra ontem à noite, em Brasília.

A declaração de Alckmin foi bem recebida por Maia, que fez referência a ela no encontro da Abert. Além da conversa entre os dois, outro anúncio feito ontem sinaliza para uma reaproximação entre PSDB e DEM - o Democratas vai indicar o candidato a vice-governador na chapa encabeçada por João Doria, candidato tucano.

"É natural que a gente tenha mais condições de diálogo com o governador Geraldo Alckmin, com o senador Alvaro Dias, mas não significa que a gente não possa conversar com PDT, PCdoB, etc", disse Maia.

O pré-candidato foi enfático ao dizer que está efetivamente disposto a sentar à mesa com Alckmin e o pré-candidato do Podemos, Alvaro Dias - que não se considerar propriamente de centro-direita nem de esquerda -, se houver condições reais de uma aliança. "O momento é de menos radicalização, menos ódio e mais diálogo", disse.

Está previsto um encontro nesta semana entre Rodrigo Maia e o ex-governador cearense Cid Gomes, irmão e coordenador da campanha de Ciro. É improvável, contudo, que o DEM entre na campanha de Ciro Gomes, em especial no primeiro turno, muito embora o candidato do PDT tenha ajudado o Democratas em situações eleitorais difíceis no Rio de Janeiro e na sua própria eleição para presidente da Câmara dos Deputados. A data limite para a composição é julho, o prazo das convenções.

As agendas do DEM e do PDT são bastante diferentes para eventual acordo agora. Os dois partidos devem estabelecer pontes para um eventual entendimento no segundo turno. Maia defendeu na Abert a reorganização do Estado brasileiro de modo que ele possa caber novamente dentro do Orçamento da União. Mas esse "Novo Estado" exige um combate às corporações ao qual a centro-esquerda não parece muito aberta neste momento eleitoral.

Maia defende o diálogo até com o PT, se o candidato a ser indicado pelo partido for o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad. O que o DEM não quer é conversar com Lula. Segundo Maia, devido à virulência contra o partido empregada no passado pelo ex-presidente hoje preso em Curitiba. Nessa delimitação territorial, caberia ao governo do presidente Michel Temer o papel de servir de contraponto a todos os candidatos de oposição. A eleição será como sempre foi na redemocratização: governo e oposição.

Maia tratou com desenvoltura dos assuntos relacionados aos meios de comunicação. "Nenhum tipo de censura, nenhum tipo de limite pode ser colocado à imprensa brasileira", afirmou. Revelou preocupação em relação às "fake news' nas eleições. "A revolução tecnológica continua avançando, não teremos soluções no curto prazo, mas acredito que a divulgação por parte da imprensa tradicional sobre as 'fake news' é muito importante, porque isso acaba dando condições à criação de limites das notícias falsas".

Maia recebeu de Paulo Tonet Camargo, presidente da Abert, as propostas do setor para os candidatos ao Planalto.

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PDT pode apoiar DEM em Minas, Goiás e Rio e receber apoio no RN

Raphael Di Cunto

Marcelo Ribeiro

14/06/2018

 

 

As conversas com o PDT sobre um possível apoio à candidatura presidencial de Ciro Gomes são criticadas por líderes do DEM nos bastidores, dadas as diferenças ideológicas. Três dos principais candidatos da sigla, contudo, podem repetir essa coligação nos Estados, composições que seriam facilitadas por um acordo nacional, segundo fontes dos dois partidos. No Rio Grande do Norte, é o PDT que pode receber o apoio do DEM.

Em Goiás, o senador Ronaldo Caiado (DEM), que lidera em todas as pesquisas, convidou a deputada Flávia Morais (PDT) para vice. A pedetista disse que o partido quer montar um palanque forte para Ciro no Estado e uma eventual composição nacional facilitaria a aliança local. Já Caiado só comentará depois de conversar com o presidente nacional do DEM, ACM Neto. "Não posso me posicionar antes, seria uma descortesia."

No Rio de Janeiro, o ex-prefeito Eduardo Paes (DEM) mantem boa relação: deu ao PDT a vaga de vice do candidato à sua sucessão há dois anos e busca o partido para concorrer ao governo. As conversas nacionais são lideradas pelo presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que lembra que quando seu pai disputou a eleição para voltar à Prefeitura do Rio em 2000, estava isolado e foi o PDT o primeiro a apoia-lo.

Outro possível ponto de convergência é Minas Gerais, onde o deputado federal Rodrigo Pacheco é o candidato do DEM. O PDT já anunciou apoio ao ex-prefeito de Belo Horizonte Márcio Lacerda (PSB), mas, numa composição nacional em que o PSB também apoie Ciro, a chapa pode ser desfeita, com Lacerda de vice-presidente ou ao Senado e uma coligação com as três siglas. Para Pacheco, o DEM precisa conversar com todos que tem "boa intenção".

No Ceará, terra de Ciro, o prefeito de Fortaleza é do PDT e o vice, do DEM. Ambos negociam uma ampla aliança em torno do governador Camilo Santana (PT), aliado da família Gomes. No Rio Grande do Norte, o senador Agripino Maia, ex-presidente do DEM, concorrerá a reeleição fazendo campanha para Carlos Eduardo (PDT) ao governo. Agripino ressalta que não houve reunião com Ciro - apenas com interlocutores, como o irmão dele, Cid Gomes-, mas defende que as conversas são normais e que também ocorrem com o pré-candidato do PSDB, Geraldo Alckmin. "Se a aliança de um lado ou de outro for feita, haverá justificativas. Não dá para criticar antes de ouvi-las."

Para o deputado Efraim Filho (PB), há divergências na agenda, mas também há convergências locais e o diálogo pode abrir portas para apoio no segundo turno contra um candidato mais radical.

A maioria das críticas no DEM, por enquanto, estão nos bastidores. Os deputado Alberto Fraga (DF) é um dos poucos a falar abertamente. "Acho que é como água e óleo, não tem a menor chance de prosperar", disse. "Nosso partido lutou muito para tirar a esquerda do poder, não tem sentido apoiarmos a volta."

Secretário-geral do DEM, o deputado Pauderney Avelino (AM) diminuiu o tom após conversar com ACM Neto, que prometeu que a decisão será da maioria do partido e não apenas da cúpula, mas continua a criticar. "Eu e todos que falaram comigo, e foram muitos, estamos contra", disse. Em São Paulo e Bahia, também há resistência à aliança.