Valor econômico, v. 18, n. 4525, 15/06/2018. Finanças, p. C1

 

Dólar volta a superar R$ 3,80 e BC reforça atuação

Lucas Hirata

Eduardo Campos

Fábio Pupo

Adriana Cotias

Sérgio Tauhata

15/06/2018

 

 

A nova disparada do dólar colocou em xeque a estratégia do Banco Central para conter o nervosismo no mercado. Sem um sinal claro sobre os próximos passos da autoridade monetária, os investidores aumentaram as compras da moeda americana para enfrentar um quadro cada vez mais adverso para emergentes.

Nem a intervenção recorde de US$ 5 bilhões do BC via contratos de swap cambial foi capaz de evitar o salto de 2,65% do dólar ontem, que fechou a R$ 3,81. A injeção de liquidez foi ainda mais robusta que no estouro da crise política há um ano e que em 2013, com a turbulência que afetou os emergentes. Mas a incerteza pesava ainda mais que a própria atuação. E tamanha ansiedade no mercado acabou forçando uma resposta do BC, que anunciou a continuidade do programa de swap cambial.

Só nesta sexta-feira, o BC deve ofertar US$ 5,75 bilhões em swaps. Esse é o montante que falta para a autarquia cumprir a promessa, reforçada ontem, de colocar US$ 24,5 bilhões no mercado entre os dias 8 e 15 de junho. Para a próxima semana, o BC disse que "estima" oferecer montante em torno de US$ 10 bilhões em contratos de swaps, que equivalem à venda de dólares no mercado futuro.

Já o Tesouro Nacional atuará na renda fixa com operações diárias de compra e venda de uma série maior de títulos públicos (NTN-F, LTN e NTN-B) - antes, a atuação estava concentrada nos prefixados. "O Tesouro Nacional poderá ainda realizar leilões adicionais ao longo do dia, caso avalie ser necessário", afirma o comunicado divulgado. Também foi cancelado o leilão de venda de títulos prefixados (LTNs e NTN-Fs), que ocorreria no dia 21. Já a venda de LFT, título pós-fixado, prevista para a mesma data, foi mantida.

A intervenção conjunta de Banco Central e Tesouro vem num momento de saída global de recursos de emergentes, na onda do enxugamento de liquidez pelos bancos centrais. A virada de fluxo potencializou a desvalorização do real, a despeito das sucessivas intervenções do BC, segundo Fabiano Rios, gestor da Absolute Investimentos. "O BC fez uma atuação grande para prover liquidez, [o volume anunciado] estava acabando e o mercado acha que o fluxo de saída continua", afirma. Para ele, o câmbio não volta aos níveis anteriores, com a aposta do mercado em um dólar mais próximo de R$ 4.

A desvalorização mais expressiva da moeda local está associada a uma busca por proteção de estrangeiros com investimentos diretos de longo prazo no Brasil, bem como de agentes locais que querem proteção para seu patrimônio em reais, na avaliação de David Vaisberg Cohen, sócio-gestor da Paineiras Investimentos. "E sendo um movimento global do dólar, é razoável apostar que o BC não vai ser tão agressivo para defender um nível mais baixo" para o dólar", diz. A intervenção, diz, deve servir apenas para suavizar os solavancos.

O professor do Centro de Macroeconomia Aplicada (Cemap) da Fundação Getulio Vargas (FGV) Emerson Marçal defende uma atuação mais forte e prolongada do BC, pelo menos até que as incertezas políticas tenham se dissipado depois das eleições. "Acho que o Banco Central deveria pensar em colocar não só swap, mas também reservas, pois temos um nível muito elevado de reservas que tem um custo alto e poderia usar isso para uma atuação mais forte."

A tensão dos investidores também tem contagiado o mercado de juros, que reforçou as apostas para um aperto monetário já na próxima semana. Os contratos de DI indicam alta de 0,43 ponto percentual da meta Selic. Isso significa que a manutenção da meta Selic em 6,50% é um quadro cada vez mais distante no mercado.

Cohen não acredita que na política monetária o BC vá pela via da alta de juros, porque tem sido enfático em separar as duas atuações. "O BC tem dito que os juros não são usados para controlar o dólar e deve olhar os efeitos de segunda ordem", diz. "Só que a um certo nível [a desvalorização cambial] vai influenciar os modelos e o BC talvez tenha que mudar de postura para evitar que a inflação suba acima da meta."

Embora o mercado futuro de juros já precifique alta da Selic na semana que vem, Rios, da Absolute, acha que, baseado no atual discurso da autoridade monetária, não haveria razão para isso, dado o baixo nível de atividade econômica e da inflação. "Até onde entendo, o BC vai olhar a inflação e combater efeitos de segunda ordem, não vai ter noção agora [no próximo Copom]. Mas a curva precifica 50 pontos-básicos, tendo a achar que estou errado."