Correio braziliense, n. 20348, 05/02/2019. Mundo, p. 12

 

Maduro na defensiva 

05/02/2019

 

 

O governo chavista de Caracas reagiu com rechaço a mais um bloco de adversários e anunciou a decisão de revisar “integralmente” as relações com 12 países europeus que reconheceram o oposicionista Juan Guaidó como “presidente encarregado”, em substituição a Nicolás Maduro. Espanha, Reino Unido, França, Alemanha e outras nações da Europa adotaram a posição ontem, uma vez expirado o ultimato dado a Maduro para que convocasse novas eleições presidenciais. O Executivo venezuelano expressou o “mais enérgico rechaço” à medida e acusou os apoiadores de Guaidó de aderirem aos “planos golpistas” dos Estados Unidos e se “vergarem oficialmente à estratégia da administração americana de derrubar o governo legítimo” de Maduro.

A despeito do passo dado pelos governos de 12 dos 27 países-membros, a União Europeia (UE), como bloco, não havia até ontem tomado partido na crise venezuelana. A Itália bloqueou uma declaração conjunta sobre a questão, impedindo a adoção do texto, já que decisões sobre política externa devem ser aprovadas por unanimidade.

A análise dos laços diplomáticos com os governos europeus que reconheceram Guaidó foi anunciada em comunicado da chancelaria venezuelana. Segundo o texto, serão “revisadas integralmente” as relações bilaterais, “até que seja feita uma retificação que descarte seu respaldo aos planos golpistas”. Em um ato comemorativo dos 27 anos da fracassada tentativa de golpe liderada pelo falecido líder do chavismo, Hugo Chávez, o chanceler Jorge Arreaza acusou os 12 países europeus de atuarem “alinhados” com o presidente americano, Donald Trump.

De acordo com Arreaza, a “sequência de pronunciamentos” do grupo — que inclui Áustria, Suécia, Dinamarca, Portugal, Holanda, Lituânia, Letônia e Finlândia — não surpreendeu o governo de Maduro, “porque essa jogada já estava cantada”. “É o roteiro dos gringos (os EUA) e o roteiro que a Europa segue hoje. Talvez reflitam. Deram passos em falso, mas não nos perturbam, não nos distraem, porque sabemos quem está tomando as decisões”, sustentou. “Os esforços do governo são para impedir que o imperialismo (de Trump) se converta em intervenção.”

O reconhecimento dos 12 governos europeus a Guaidó se soma ao manifestado por Estados Unidos, Canadá e uma dúzia de países latino-americanos do Grupo de Lima, incluindo o Brasil. O líder oposicionista se autoproclamou “presidente encarregado” da Venezuela em 23 de janeiro, depois de a Assembleia Nacional, que ele preside, declarar Maduro “usurpador”.

“O governo da Espanha anuncia que reconhece oficialmente o presidente da Assembleia da Venezuela, o senhor Guaidó, como presidente encarregado da Venezuela, para que convoque eleições presidenciais no menor prazo possível”, afirmou o primeiro-ministro Pedro Sánchez. Em reação, Maduro criticou o líder socialista, a quem acusou de ser “um fantoche” a serviço das intenções “guerreiristas” de Washington. Imediatamente após a manifestação de Madri, Reino Unido, França, Alemanha, Áustria, Suécia e Dinamarca expressaram apoio a Guaidó.

A Rússia, um dos principais aliados do regime de Maduro, condenou o que classificou como “ingerência” europeia na situação de outro país e apontou o presidente interino como “usurpador”. “Percebemos as tentativas de legitimar a usurpação do poder como uma ingerência direta e indireta nos assuntos internos da Venezuela”, disse à imprensa o porta-voz do Kremlin, Dimitri Peskov.

 

Grupo de contato

As Nações Unidas não se somarão a grupos de países que promovam iniciativas para resolver a crise na Venezuela, indicou o secretário-geral da organização, Antonio Guterres. Assim como se absteve de tomar posição na disputa pela presidência, Guterres anunciou que a ONU não participará da reunião convocada para quinta-feira, entre Montevidéu, pelos governos do Uruguai e do México, além da UE, que decidiu na semana passada propor a formação de um “grupo de contato” com a missão de tentar promover o diálogo entre o governo de Maduro e a oposição.

 

Frase

“É o roteiro dos gringos (os EUA) e o roteiro que a Europa segue hoje. Deram passos em falso, mas não nos perturbam, não nos distraem”

Jorge Arreaza, chanceler da Venezuela

 

12

Total de governos europeus que reconheceram oficialmente como legítimo o presidente interino da Venezuela