O globo, n. 31184, 23/12/2018. País, p. 6

 

Bolsonaro anunciou 14 de 22 ministros no Twitter

João Paulo Saconi

23/12/2018

 

 

Post de presidente eleito com maior repercussão foi a indicação de Moro para a Justiça, com 266 mil interações

O período de transição que acaba no próximo dia 31 confirmou que as redes sociais terão papel central no anúncio de decisões do governo do presidente eleito, Jair Bolsonaro. Foi pelo Twitter e para os seus 2,6 milhões que ele anunciou 14 das 22 indicações de seus ministros e também fez as primeiras declarações sobre momentos-chave dos últimos dois meses, como a saída de Cubado programa Mais Médicos e a visita do assessor de Segurança Nacional dos Estados Unidos, John Bolton. As transmissões ao vivo pelo Facebook, por outro lado, perderam espaço na rotina virtual de Bolsonaro. Diferentemente das quase seis horas em que permaneceu ao vivo durante a campanha (entre 31 de agosto e 28 de outubro), Bolsonaro apareceu para dialogar com os seguidores por apenas 58 minutos entre o fim do segundo turno e a última quarta-feira, 19. No Twitter, porém, publicou cerca de 150 mensagens em 50 dias de transição — média de três tuítes por dia.

O impacto foi expressivo: em dois meses, foram cerca de 1,4 milhão de reações aos nomes indicados (somados os números de respostas, retuítes e curtidas angariados por Bolsonaro em 14 publicações diferentes).

A maior repercussão no Twitter foi do ex-juiz federal Sergio Moro, indicado para a Justiça, cuja nomeação publicada pelo presidente totalizou 266 mil interações (entre elas, 208 mil curtidas — o recorde na conta do eleito). Para o professor Marco Aurelio Ruediger, diretor de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas (DAPP-FGV), o uso que Bolsonaro faz das redes hoje é uma continuidade do hábito que desenvolveu desde que se apresentou como candidato do Planalto. — Não existe razão alguma que o leve a abrir mão dessa capacidade de mobilizar a sociedade para temas que são de interesse do governo, sejam políticas públicas em geral ou debates genéricos. Vai ser um elemento forte.

O Congresso sentirá essa pressão. Ruediger destaca que a comunicação parece ser feita de “forma natural e orgânica”.

— Traduz uma relação do cidadão com o dia a dia, longe das superproduções. O cidadão de hoje é muito desconfiado, então, quanto mais simples e rápida a comunicação, mais eficaz ela será.