O globo, n. 31103, 03/10/2018. País, p. 6

 

Alta de Bolsonaro deixa o PT atônito

Bernardo Mello Franco

03/10/2018

 

 

A alta de Jair Bolsonaro deixou o PT atônito. O partido terminou a semana passada beirando a euforia. Considerava que Fernando Haddad havia se tornado favorito a vestir a faixa. Os mais animados já discutiam a nomeação antecipada de ministros.

As novas pesquisas jogaram água no chope petista. No Datafolha de ontem, dois dados alarmaram a campanha. A rejeição de Haddad subiu nove pontos, chegando a 41%. Ao mesmo tempo, Bolsonaro recuperou a liderança entre as mulheres, que resistem mais ao seu discurso de ultradireita.

“Acendeu uma luz amarela na campanha. De amarela para vermelha”, resume o ex-ministro Gilberto Carvalho. “As pesquisas refletem o crescimento do antipetismo. Isso significa que os ataques ao Haddad estão surtindo efeito”, analisa.

Quem acompanhou o petista nos últimos dias notou um candidato de salto alto. Embalado por pesquisas favoráveis, ele fazia uma campanha olímpica, ignorando os adversários. No debate da TV Record, chegou a menosprezar Ciro Gomes, sugerindo que queria seu apoio no segundo turno.

Agora o tom mudou. Ontem Haddad elevou a voz contra Bolsonaro. Chamou o capitão de “figura exótica”, sugeriu que ele precisa de tratamento psicológico e questionou sua evolução patrimonial.

A campanha do ex-prefeito vive um dilema. O núcleo petista quer que ele reforce a associação com Lula e as promessas para o eleitor mais pobre. Ao mesmo tempo, o candidato sabe que precisa moderar o tom em busca de votos da centro-direita no segundo turno.

Ontem ele deu sinais trocados ao dizer que “parte expressiva da elite brasileira abandonou a social-democracia pelo fascismo”. Pode ser, mas agora o seu desafio é conter o crescimento de Bolsonaro em redutos lulistas: no Nordeste e entre os mais pobres.

Os petistas também batem cabeça para entender a alta do rival entre as mulheres. Alguns acreditam que os protestos de sábado,com forte tom feminista, teria assustado eleitoras mais conservadoras. “O #EleNão pode ter ajudado o #EleSim”, diz Gilberto Carvalho.

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Estagnado, Haddad passa a atacar Bolsonaro

Jeferson Ribeiro

Fernanda Krakovics

Sérgio Roxo

03/10/2018

 

 

Aliados acreditam que ex-ministro demorou a criticar adversário em regiões importantes como o Rio, e cúpula da campanha petista planeja reconquistar voto feminino lembrando programas sociais de Lula

O candidato do PT à Presidência, Fernando Haddad, elevou o tom das críticas contra seu adversário Jair Bolsonaro (PSL) e disse ontem, no Rio, que ele precisa de um tratamento psicológico porque é “intolerante” contra mulheres e negros. A declaração ocorre um dia após ele ver a vantagem do capitão da reserva ampliar para dez pontos percentuais, segundo pesquisa Ibope divulgada na segunda-feira e faz parte da estratégia de atacar o capitão da reserva para reconquistar o voto principalmente feminino e de baixa renda.

— Façam a conta do que ele recebeu de salário, o patrimônio dele é de R$ 15 milhões. O pessoal fala que Bolsonaro é pobre, só se for na Suíça. Aqui é muito rico. O que ele trouxe para cá? O que ele trouxe foi mais ódio, mais violência, mais intolerância contra mulher e contra o negro, porque ele tem algum problema psicológico contra mulher e contra o negro —atacou o petista, em Duque de Caxias. — Eu sou a favor inclusive que a Câmara Federal pague um tratamento psicológico para os deputados que têm problema com mulher.

O comando da campanha do PT entende que o caminho para reverter ou, pelo menos, conter o crescimento de Bolsonaro principalmente entre mulheres de baixa renda passa por temas que afetam o bolso. Por isso, na reta final Haddad vai destacar a importância do Bolsa Família e recordar a quantidade de empregos gerados no país no período em que Lula esteve no governo.

Apesar de ainda considerar remota essa hipótese, o comando petista não descarta a possibilidade de o candidato do PSL vencer a disputa no primeiro turno. Para tentar deixar a estagnação nas pesquisas, Haddad deve reforçar na reta final o vínculo com Lula.

Mais tarde, em sua quarta agenda de campanha no Rio, desta vez em Nova Iguaçu, o candidato do PT voltou aos ataques contra Bolsonaro, a quem chamou de “figura exótica”. Ele ainda lembrou a polêmica sobre o 13º salário, criticado pelo candidato a vice de Bolsonaro, general Hamilton Mourão:

— As pessoas ficam prestando atenção naquela figura exótica que ele (Bolsonaro) é e não prestam atenção no que ele está prometendo, cortar direitos.

O petista alertou seus eleitores ainda que está sendo vítima de uma campanha “cheia de lixo”, com “vídeos mentirosos” no WhatsApp, e que eles devem tomar cuidado com essas informações até as eleições.

O crescimento do candidato do PSL fez também que os integrantes da campanha petista deixassem de lado os planos que já vinham traçando para o segundo turno e passassem a focar exclusivamente em chegar à etapa final da disputa.

A avaliação é que Bolsonaro foi beneficiado por uma mobilização de lideranças evangélicas contra o candidato do PT. Esse movimento fez com que o capitão da reserva conquistasse votos principalmente entre as mulheres de baixa renda. Também teria ocorrido uma reação às manifestações de mulheres no último sábado contra o candidato do PSL.

O comando da campanha do PT afirma ainda ter detectado a divulgação de informações vinculando o presidenciável ao partido do chamado “kit gay”. O tema não tem sido abordado em debates ou na propaganda, apenas no que os petistas chamam de “submundo da internet”, por isso a dificuldade de combatê-lo.

A ofensiva de Haddad contra Bolsonaro na Baixada Fluminense ocorreu após integrantes do PT do Rio mostrarem dados sobre o crescimento do presidenciável no estado. Hoje, o deputado alcança mais de 50% dos votos válidos no Rio, segundo pesquisas. Os petistas fluminenses consideram que Haddad demorou a confrontar Bolsonaro eque ele vem crescendo em regiões que antes apresentavam intenção de voto em Lula.

Debate na TV Globo

Em 2011, o Ministério da Educação, sob o comando de Haddad, encomendou a uma ONG a elaboração de material de combate à homofobia para ser distribuído nas escolas. De acordo com o ex-ministro, após a divulgação da informação, parlamentares da bancada evangélica passaram a apresentar uma cartilha produzida pelo Ministério da Saúde para ser distribuída a caminhoneiros como sendo o kit que seria enviado às escolas. O petista ainda diz que o material verdadeiro nunca chegou a ser entregue aos alunos porque a proposta foi descartada.

Essa também deve ser alinha adotada pelo candidato no debate da TV Globo, amanhã. A expectativa, porém, é que no debate mais uma vez Haddad seja o alvo. Os petistas acreditam que os ataques sofridos contribuíram para o aumento da rejeição do candidato.

A avaliação no P Té que o tucano Geraldo Alckmin, dono do maior tempo na propaganda na TV, ao adotar uma linha ofensiva contra o PT, apesar de estar mirando em Bolsonaro, tem ajudado indiretamente o candidato do PSL.

“Eu sou a favor inclusive que a Câmara Federal pague um tratamento psicológico para os deputados que têm problema com mulher”

Fernando Haddad, Candidato do PT à Presidência da República

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Após Palocci, Alckmin tenta emplacar o 'Eles não!'

Cristiane Jungblut

03/10/2018

 

 

Candidato do PSDB a presidente usa denúncias de corrupção em busca de votos de eleitores que rejeitam os governos do PT

A campanha do candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, levou para a TV, no programa eleitoral de ontem à noite, as revelações da delação do ex-ministro Antonio Palocci, que envolve uma série de integrantes da cúpula do PT em crimes relacionados ao esquema de corrupção da Petrobras. O tucano manteve as críticas que tem feito ao presidenciável do PSL, Jair Bolsonaro. Aseis dias da eleição, Alckmin lançou a campanha “Eles não !”, que citou pela primeira vez no debate de domingo, na TV Record.

O presidente nacional do DEM, ACM Neto, avaliou que o programa, ao abordar as confissões de Palocci, reforça o discurso antipetista da campanha de Alckmin.

— A delação de Palocci comprova tudo que se falava. Vamos mostrar que apenas o Geraldo tem condições de vencer o PT no segundo turno. Estamos firmes com Geraldo até o fim —disse ACM Neto.

Na propaganda, o locutor se refere à delação como um “escândalo” e diz comprovar que o ex-presidente Lula “sabia de tudo”. “Um país feliz de novo, só se for para os corruptos. Se o PT voltar, a corrupção vai continuar”, diz o narrador.

Em seguida, a vice na chapa, senadora Ana Amélia (PP-RS), reforça o discurso.

— Se você não quer o PT de volta, o voto certo é Geraldo Alckmin — diz ela, afirmando que somente o tucano terá apoio no Congresso e, por isso, terá condições de governabilidade.

No programa, são feitas críticas tanto ao PT como a Bolsonaro, afirmando que os dois lados votaram contra o Plano Real e que ambos querem uma nova Constituição.

Alckmin encerra a sua propaganda com o pedido de que o país não escolha “o caminho da intolerância” no próximo domingo.

Campanhas de R$ 1,4 bi

Palocci afirma em um dos anexos do seu acordo que as duas últimas campanhas presidenciais do PT, que elegeram e reelegeram a ex-presidente Dilma Rousseff, em 2010 e 2014, teriam custado juntas R$ 1,4 bilhão, mais do que o dobro dos valores declarados oficialmente à Justiça Eleitoral. Segundo o ex-ministro de Lula, as campanhas foram largamente abastecidas por recursos ilícitos recolhidos pelo PT a partir de esquemas de corrupção. A delação foi tornada pública na segunda-feira por decisão do juiz Sergio Moro.