O Estado de São Paulo, n. 45641, 03/10/2018. Política, p. A9

 

Delação de Palocci vira arma contra Haddad

Pedro Venceslau, Marcelo Osakabe e Jonathas Cotrim

03/10/2018

 

 

Eleições 2018 Campanha / Afirmações do ex-ministro são usadas por Alckmin para tentar atrair o voto antipetista

Às vésperas do primeiro turno da eleição, o depoimento do ex-ministro Antonio Palocci à Polícia Federal, relatando o elo dos governos Lula e Dilma com corrupção na Petrobrás, virou arma de adversários do candidato do PT à Presidência, Fernando Haddad.

O tucano Geraldo Alckmin afirmou que a delação terá impacto sobre o pleito. “Vamos aguardar a Justiça. O que o brasileiro quer é uma Justiça e uma polícia independentes”, disse ele.

O programa de TV de Alckmin destacou ontem, logo na abertura, trechos da delação de Palocci, na tentativa de atrair o eleitor antipetista e também os indecisos, nessa reta final.

Depoimentos do ex-ministro de Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva, hoje preso da Lava Jato, foram divulgados depois que o juiz Sérgio Moro levantou parte do sigilo do processo.

A propaganda do candidato do PSDB mostrou reportagens, enquanto um locutor dizia: “Escândalo. Comprovado o que o Brasil tinha certeza. Lula sabia de tudo sobre a corrupção na Petrobrás. Se o PT voltar, a corrupção vai continuar”.

O comercial também atacou Jair Bolsonaro (PSL), líder das pesquisas de intenção de voto, e o comparou ao candidato do PT, sob o argumento de que ambos querem criar uma nova Constituição. De acordo com o Ibope, Alckmin permanece em quarto lugar na disputa, com 8%, atrás de Bolsonaro – que cresceu quatro pontos e chegou a 31% –, de Haddad, com 21%, e de Ciro Gomes (PDT), que passou de 12% para 11%.

Questionado se considera que a delação de Palocci pode ajudá-lo a chegar ao segundo turno, Ciro disse não conseguir ficar “alegre” com isso. “Vamos passar os últimos cinco dias de eleição de novo na mesma lenga-lenga, no mesmo escândalo, na mesma nojeira, que é o que tem marcado a vida brasileira desde a crise de 2014”, afirmou.

Vice na chapa de Alckmin, a senadora Ana Amélia (PP) acusou o PT de não respeitar a Lava Jato, em debate promovido ontem pelo jornal Folha de S.Paulo, UOL e SBT. A estocada ocorreu após Manuela d’Ávila (PCdoB), que faz dobradinha com Haddad, criticar o fato de Moro levantar o sigilo da delação de Palocci a poucos dias da eleição.

 

O QUE PALOCCI DISSE

Corrupção na Petrobrás

O ex-ministro Antonio Palocci afirmou à PF que o ex-presidente Lula sabia, desde 2007, do esquema de corrupção na Petrobrás.

 

Cargos

Segundo o ex-ministro, Lula loteou cargos na estatal para partidos, de 2003 a 2014, durante sua gestão e também na de Dilma.

 

Diretores

Renato Duque, Paulo Roberto Costa e Jorge Zelada, conforme Palocci, foram nomeados para atender a interesses políticos.

 

Captação de recursos

A distribuição de diretorias da Petrobrás tinha como objetivo captar recursos ilícitos para campanhas do PT e de siglas aliadas.

 

Campanhas

Palocci disse que as campanhas de Dilma (2010 e 2014) custaram R$ 1,4 bi – o valor supera em quase 3 vezes o declarado ao TSE.

 

Medidas provisórias

O ex-ministro relatou a “venda” de MPs durante os governos petistas para atender a “interesses de financiadores”.