O globo, n. 31108, 08/10/2018. País, p. 11

 

Ciro indica apoio a Haddad no 2º turno: ‘Ele não, sem dúvida’

Catarina Alencastro

08/10/2018

 

 

Candidato do PDT anuncia oposição a eleição de Bolsonaro e decidirá nos próximos dias adesão ao petista, que divide o PDT

Com 12,5% dos votos válidos, o candidato do PDT à Presidência, Ciro Gomes, ficou fora da disputa do segundo turno, mas já anunciou que entrará na campanha contra Jair Bolsonaro (PSL). Ciro obteve votação menor do que apontavam as pesquisas, frustrando a expectativa nutrida por ele até o fim, de que viria uma onda de votos em seu favor na reta final.

Mesmo com a frustração, encerrada a contagem dos votos o candidato desceu para a portaria de seu apartamento e disse terminar a campanha com “profunda gratidão”. Apesar de não declarar, por enquanto, apoio ao petista Fernando Haddad, ressalvando que precisa antes discutir com o partido, Ciro afirmou que lutará contra o fascismo.

— Eu costumo decidir as coisas assim, mas é que agora eu represento um conjunto muito grande de forças. Então eu quero anunciar por mim, o meu espírito é continuar fazendo o que eu fiz a minha vida inteira: lutar em defesa da democracia e contra o fascismo. Ele não, sem dúvida —disse.

Nos próximos dias, Ciro e o PDT devem decidir de que forma se dará o provável apoio a Haddad. Na campanha pedetista, até ontem era proibido tratar de cenários em que ele não estivesse no segundo turno. Mesmo assim, o entorno de Ciro vislumbrou que possivelmente teria que engendrar uma estratégia para a segunda fase da disputa presidencial em que estariam o petista e o ex-militar. A avaliação geral era de que um apoio ao petista era a hipótese mais provável, mas que só aconteceria no último minuto do segundo tempo.

Divisão no PDT

Ao fim da apuração, Ciro disse que a decisão e um anúncio formal deve ocorrer nos próximos dias:

— Não posso demorar uma semana, não.

No PDT há uma divisão quase ao meio entre os que consideram inevitável um apoio ao petista no segundo turno por conta do “retrocesso” a que ficaria entregue o Brasil em caso de vitória de Bolsonaro. E uma ala que avalia que o PT não merece o apoio do PDT porque nunca foi capaz de abrir espaço para a sigla, que em todos os momentos viveu a reboque dos petistas.

Como o PT virou alvo de ataques de Ciro na reta final da campanha, a adesão não seria uma missão automática e sem traumas. Um pedetista acredita que o mais provável é que o presidente do partido, Carlos Lupi, convoque toda a legenda para discutir e decidir uma posição de consenso.

Foi com Lupi, seu irmão e senador eleito Cid Gomes, e a namorada, Giselle, que Ciro resolveu terminar o dia, pegando o carro e contando que ia para algum “pé de bodega":

— Vamos agora tomar uma para espalhar o sangue.

Quando foi à zona eleitoral depositar seus votos, pela manhã, Ciro falou que havia uma “revolução em curso”, e apontou que as pesquisas de intenção de votos não estavam conseguindo captar o seu real potencial, sugerindo até que podiam ser compradas.

Apostou que ao final ou ganharia por uma margem muito pequena de Haddad, garantindo o passaporte par o segundo turno, ou perderia do petista também por pouco. Ciro, no entanto, se recusou a discorrer sobre o cenário de Bolsonaro ganhar já no primeiro turno, e ao comentar a vitória antecipada manifestada pelo exmilitar na hora de votar, chamou-o de “arrogante e despreparado”.

— Pesquisa no Brasil é como deputado, se vende e se compra , eles estão apenas ajustando os números daquilo que eu já sabia. Eu nunca deixei de ter 15% dos votos em momento algum e a agora tudo indica que tem um plus a mais, como diz o caboclo lá em Sobral — disse Ciro após votar, quando ainda nutria forte esperança de ir ao segundo turno.

“Meu espírito é o de continuar fazendo o que fiz a vida inteira: lutar pela democracia”

Ciro Gomes

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Resultado tem discrepâncias com pesquisas

Elisa Martins

08/10/2018

 

 

Rio, São Paulo e Minas apresentaram grandes surpresas; onda bolsonarista e voto útil influenciaram

Em ao menos seis estados, o resultado das urnas mostraram grande diferença com o indicado nas últimas pesquisas de intenção de voto, realizadas no sábado. Na maioria dos casos, Ibope e Datafolha chegaram a apontar a tendência de crescimento dos candidatos, mas a arrancada foi vertiginosa na reta final antes da votação.

Se, para presidente, houve segundo turno mantendo o cenário mostrado pelas pesquisas de sábado, nas eleições para senado e governos estaduais se deram as maiores arrancadas das últimas horas. Os institutos explicam que as pesquisas da véspera da eleição representam a fotografia de momento, e não uma projeção de qual será o resultado final.

A maior surpresa foi no Rio de Janeiro, que terá um segundo turno entre Wilson Witzel (PSC) e Eduardo Paes (DEM). O ex-juiz federal teve 41,28% dos votos, contra 19,52% do ex-prefeito. Nas sondagens de sábado, pesquisas mostraram alguma evolução de Witzel, mas ele ainda aparecia em segundo lugar no Datafolha (17% dos válidos) e em terceiro no Ibope (12%), ainda muito longe do primeiro lugar que alcançou, com mais de 41%.

Os estados de São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo, Paraná e Santa Catarina também registraram surpresas, em um “vendaval” na política brasileira, segundo o cientista político Marco Aurélio Nogueira, da Universidade Estadual Paulista (Unesp). A opção por um voto útil e a força do bolsonarismo podem ter pesado nessa diferença entre as pesquisas e o resultado do primeiro turno.

—Não chega a ser uma revolução, mas a tendência de alteração da representatividade é impressionante. O bolsonarismo impulsionou candidatos na reta final — afirma Nogueira.

Em São Paulo, o atual vereador Eduardo Suplicy (PT), que liderava as pesquisas com 20% das intenções de voto, perdeu a vaga para Major Olímpio (PSL) e Mara Gabrilli (PSDB). Terminou em terceiro, com

13,32% dos votos válidos. Major Olímpio quase dobrou seus 14% indicados no sábado.

Em Minas Gerais, Romeu Zema (Novo) teve arrancada fulminante, ultrapassando Antonio Anastasia (PSDB) e Fernando Pimentel (PT) para terminar em

primeiro lugar. Já no Paraná, para o Senado, Roberto Requião (MDB) liderou por toda a campanha e ficou fora, sucumbindo à forte subida de Oriovisto Guimarães (Podemos), vencedor da disputa com quase o dobro de votos do que tinha no sábado segundo as pesquisas.