Título: Aprovada a quebra dos sigilos
Autor: Valadares, João
Fonte: Correio Braziliense, 15/06/2012, Política, p. 3

CPI vai analisar dados fiscais, bancários e telefônicos de Agnelo e Perillo dos últimos 10 anos

Num ato meramente formal, a CPI do Cachoeira aprovou, na sessão de ontem, a quebra dos sigilos fiscal, telefônico e bancário dos governadores do Distrito Federal (PT), Agnelo Queiroz, e de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), dos últimos 10 anos. Os integrantes da comissão também terão acesso aos torpedos (SMS) recebidos no celular e aos e-mails enviados e recebidos pelos dois políticos.

Durante depoimento na CPI, Agnelo abriu espontaneamente o seu sigilo. Um dia antes, Perillo havia se negado. Alegou que a decisão não caberia a ele e sim aos integrantes da CPI. Horas depois do gesto de Agnelo, o governador de Goiás telefonou para o deputado Bruno Araújo (PSDB-PE), líder do partido na Câmara, comunicando que faria o mesmo. Inicialmente, o período da quebra seria por apenas cinco anos.

Na sessão de ontem, a comissão aprovou a convocação da mulher de Carlinhos Cachoeira, Andressa Mendonça, considerada a musa da CPI, e também do jornalista Carlos Bordoni. Em entrevistas à imprensa, Bordoni declarou que havia recebido R$ 40 mil, durante a campanha eleitoral, por serviços prestados a Marconi Perillo. O problema é que o dinheiro, segundo investigação da Polícia Federal, teria saído de uma empresa fantasma do esquema Cachoeira. Na CPI, Perillo negou o pagamento e disse que já abriu processo contra o jornalista para que ele prove que recebeu o recurso do caixa da campanha eleitoral.

Os integrantes da CPI quebraram o sigilo telefônico, bancário e fiscal da empresa de confecções Excitant Indústria e Comércio, que recebeu transferências da construtora Alberto e Pantoja. A empreiteira ganhou cerca de R$ 30 milhões em depósitos bancários da Delta, no centro do esquema Cachoeira. A Excitant, de propriedade do sobrinho do bicheiro, Leonardo Augusto Ramos, emitiu o três cheques que pagaram a compra da casa de Perillo.

Depósitos O que chamou a atenção da CPI é o fato de o primeiro cheque, datado de 2 de março de 2011, ter sido compensado em 4 de abril. Nessa data, de acordo com os dados colhidos pela comissão, a Alberto Pantoja transfere R$ 250 mil para a Excitant. O último pagamento entra na conta do governador em 2 de maio. Outra coincidência. Nesse dia, a Alberto Pantoja, que já recebeu depósitos da Delta de pelo menos R$ 30 milhões, repassa mais R$ 400 mil para Excitant. Exatamente o mesmo valor do último cheque recebido por Perillo.

Lúcio Fiuza, ex-assessor do governador de Goiás, também teve o seu sigilo quebrado. Ele teria recebido parte do dinheiro na transação de compra e venda da casa de Perillo. A CPI aprovou em bloco a quebra do sigilo de outras empresas, consideradas fantasmas, utilizadas pela organização criminosa para lavar dinheiro sujo do jogo do bicho.

Além de Andressa, Bordoni e Lúcio Fiúza, também foram convocados para prestar depoimento mais sete pessoas. Entre eles, Alcino de Souza, um policial civil aposentado apontado pela PF como dono de empresa de fachada usada pelo esquema de Cachoeira, e Aredes Correia Pires, ex-corregedor da Polícia Civil de Goiás e apontado pela PF como braço do grupo de Cachoeira na polícia.

R$ 40 mil Valor que o jornalista Carlos Bordoni afirmou ter recebido durante a campanha eleitoral de Marconi Perillo. Ele é um dos convocados a prestar depoimento na CPI