O globo, n. 31084, 14/09/2018. País, p. 6

 

Haddad cita Lula uma vez a cada 22 segundos

Mariana Martinez

Bruno Góes

Sérgio Roxo

14/09/2018

 

 

Em sua primeira caminhada, ex-prefeito de São Paulo repete estratégia da propaganda de TV e cita líder petista 31 vezes, fora referências como ‘presidente’ e ‘ele’; Ciro diz que votará no candidato do PT caso ele vá ao segundo turno com Bolsonaro

Em seu primeiro corpo a copo com eleitores depois de ser oficializado como candidato à Presidência pelo PT, Fernando Haddad citou ontem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva uma vez a cada 22 segundos em três discursos. Num total de pouco mais de 11 minutos de falas, o ex-prefeito repetiu a estratégia de seus programas de TV e mencionou o padrinho político 31 vezes, sem contar referências como “presidente” e “ele”.

Vestido com uma camiseta vermelha estampada com uma foto e com o nome do petista, o presidenciável foi chamado ao microfone na caminhada em Carapicuíba, na região metropolitana de São Paulo, de “Fernando Lula Haddad” e de “Luiz Fernando Lula Haddad”.

O ex-prefeito de São Paulo foi anunciado como candidato na terça-feira em um ato na frente da Superintendência da Polícia Federal do Paraná, em Curitiba, onde Lula cumpre pena desde o dia 7 de abril por corrupção e lavagem de dinheiro. O ex-prefeito foi indicado depois de o PT apresentar 17 recursos para manter a candidatura do expresidente, que foi enquadrado na Lei da Ficha Limpa.

Logo no início da caminhada desta quinta-feira, Haddad fez uma rápida fala de dois minutos e meio na qual mencionou o nome de Lula nove vezes. O candidato disse que o ex-presidente ganharia as eleições no primeiro turno se não fosse impedido pelas autoridades de concorrer. Destacou também que Lula deixou um “plano de governo pronto”, e que nos tempos do líder petista a cidade foi beneficiada com convênios para construir 12 creches.

Declaração de voto

Depois de fazer duras críticas a Haddad (PT) em sabatina promovida ontem pelos jornais O GLOBO, Valor e a revista Época, o candidato do PDT à Presidência, Ciro Gomes, afirmou ontem que votaria no petista caso ele consiga chegar ao segundo turno. Ciro não estava só ao declarar ontem simpatia a um adversário. Ex-governador da Bahia e candidato ao Senado pelo PT, Jaques Wagner admitiu que votaria em Geraldo Alckmin (PSDB) se Haddad não chegar ao segundo turno.

Para Ciro, o cenário é fácil de ser compreendido:

—Se ele (Haddad) for para o segundo turno, voto nele, simples assim. Como votei nos últimos 16 anos, engolindo tudo o que eu não precisava engolir.

De acordo com pesquisa Ibope divulgada nesta semana, Ciro e Haddad estão tecnicamente empatados, com 11% e 8% das intenções de voto, respectivamente, junto com Marina Silva (Rede) e Geraldo Alckmin, ambos com 9%. Jair Bolsonaro aparece em primeiro lugar, com 26%.

Já Wagner relacionou a história de PT e PSDB na redemocratização para justificar seu pensamento.

— Se você me perguntar: se houver uma hecatombe e o Fernando Haddad não for para o segundo turno, você vai votar em quem se o Bolsonaro for para o segundo turno? No outro —indicou, ao chegar à posse do novo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli.

Ao responder se o outro poderia ser Alckmin, Wagner respondeu.

— Claro. Acho que a gente tem que parar. Já que a História nos colocou em campos opostos, a nossa gênese é mesma, os dois nasceram depois do regime militar. E os dois eram a novidade à época — disse Wagner, que se ofereceu para conversar com o tucano. — Se me derem essa missão, farei com muito gosto. Esse jogo de canto de rua tem que parar.

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Senador e filho de Crivella são notificados pelo MP

Gisele Ouchana

Luiz Ernesto Magalhães

14/09/2018

 

 

Suspeita é que haja abuso de poder religioso de Eduardo Lopes, candidato à reeleição pelo PRB, e de Marcelo Crivella Filho

A fiscalização da propaganda eleitoral no Rio, feita pelo Tribunal Regional Eleitoral (TRE) e Ministério Público Eleitoral (MPE), pediu a notificação de três candidatos do PRB e de um bispo da Igreja Universal do Reino de Deus por possível prática de propaganda irregular com abuso de poder religioso.

O senador Eduardo Lopes, que tenta a reeleição, e os candidatos a deputado federal Marcelo Crivella Filho e a deputado estadual Danniel Librelon são acusados de terem sido favorecidos politicamente após um culto celebrado pelo bispo Jadson Santos.

Os fiscais acompanharam uma celebração no Templo da Glória do Novo Israel, em Del Castilho, no dia 26 de agosto. Eles constataram que, após um discurso e pedidos de orações ao “trio da fé” sem que fossem pedidos votos, cabos eleitorais distribuíram santinhos aos milhares de fiéis na saída do templo. O partido e a igreja negaram ter cometido irregularidade.

Na segunda-feira, Eduardo Lopes também esteve presente a uma reunião na sede do PRB em Benfica para discutir estratégias da campanha com assessores indicados politicamente para cargos na Prefeitura do Rio e outros órgãos do estado, como revelou ontem O GLOBO. A reunião ocorreu durante o horário de expediente.

Marcelinho, como é mais conhecido o candidato a deputado federal, é filho do prefeito do Rio, Marcelo Crivella. Já Danniel Librelon é pastor da Universal.

O Ministério Público Eleitoral encaminhou à Procuradoria Regional Eleitoral (PRE) um procedimento para apurar o fato. O promotor Bruno Guimarães, que assina o documento, diz que esse tipo de ação causa desequilíbrio com os demais postulantes:

— Quem tem um canal forte na mão, elege. E o canal deles é muito forte .

A coordenadora do Centro de Apoio Operacional das Promotorias Eleitorais do MPRJ, Gabriela Serra, afirma que não há crime eleitoral, mas os indícios apontam para um possível abuso de poder econômico.

A Universal disseque“orienta e exige que seu corpo eclesiástico cumpra, com rigor, a legislação do país ”. Advogados do PR B afirmaram que alei eleitoral autoriza a entrega de material impresso em via pública, no exterior de bens de uso comum, inclusive de igrejas” e que não há “qualquer ilegalidade e/ou abuso de poder.”

MC Tikão barrado

O Tribunal Regional Eleitoral do Rio indeferiu ontem, por unanimidade, o pedido de registro de candidatura de Fabiano Baptista Ramos, o MC Tikão, a deputado federal por haver “evidências concretas de envolvimento com organizações criminosas ou paramilitares”. O Solidariedade, partido do candidato barrado, disse que “vai encaminhar o caso ao conselho de ética para as devidas providências”.