O globo, n. 30991, 13/06/2018. País, p. 4

 

PF faz busca e apreensão em endereços de Cristiane Brasil

Jailton de Carvalho

Vinicius Sassine

13/06/2018

 

 

STF proíbe deputada de ter contato com o pai, Roberto Jefferson

A Polícia Federal (PF) cumpriu ontem três mandados de busca e apreensão em endereços da deputada federal Cristiane Brasil (PTB-RJ). Ela é suspeita de participar do esquema que fraudava a concessão de registros sindicais junto ao Ministério do Trabalho. As ações fizeram parte da segunda fase da Operação Registro Espúrio, que apura a atuação da suposta organização criminosa. Agentes foram ao gabinete da parlamentar na Câmara dos Deputados, no apartamento funcional usado por ela em Brasília e na residência no Rio de Janeiro. O ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), proibiu Cristiane de entrar no ministério e manter contato com outros investigados, inclusive o pai, Roberto Jefferson.

Depois de analisar mensagens trocadas entre Cristiane e um funcionário do ministério preso na primeira fase da operação, a PF descobriu que a deputada fazia indicações na pasta e controlava a aprovação dos registros sindicais. “Lacerda falou que Paulinho comentou que a secretaria fica como está: Barbosa de fake e nós comandando”, diz o funcionário. “Sensacional”, responde a deputada.

Para a PF, “Barbosa” é Luiz Carlos Barbosa, secretário adjunto de Relações do Trabalho. A investigação aponta que ele teria o cargo apenas no papel e que o comando de fato seria de Cristiane. Ela foi indicada pelo presidente Michel Temer para o Ministério do Trabalho, mas a nomeação foi vetada pela Justiça.

A primeira fase da operação aconteceu no dia 30 de maio, quando agentes da PF cumpriram mandados de busca e apreensão nos gabinetes dos deputados federais Paulinho da Força (SD-SP), Jovair Arantes (PTB-GO) e Wilson Filho (PTB-PB) e no endereço de Jefferson, presidente do PTB. Em nota, Cristiane disse que “espera que as questões sejam esclarecidas com brevidade”.

ÁUDIO: JEFFERSON ORIENTA CRISTIANE

De acordo com as investigações, o esquema de corrupção acontecia na Secretaria de Relações de Trabalho do ministério e envolvia servidores públicos, lobistas, advogados, dirigentes de centrais sindicais e parlamentares. Cerca de dez funcionários, segundo a PF, tinham a incumbência de viabilizar as fraudes, o que incluía o desrespeito à ordem cronológica dos requerimentos de registros sindicais e o direcionamento dos resultados dos pedidos.

O núcleo político seria formado por parlamentares e ex-parlamentares que atuavam indicando e mantendo em cargos estratégicos do órgão os servidores que faziam parte do esquema. Já o núcleo captador, formado por lobistas e advogados, fazia a intermediação entre os sindicatos interessados em registros com os demais integrantes da organização criminosa. O esquema se completava com a atuação do núcleo financeiro, que viabilizava os pagamentos das entidades sindicais para os envolvidos por meio de simulação de contratos fictícios de trabalho.

Em outra questão envolvendo a deputada, um áudio obtido pelo GLOBO mostra que Jefferson orientou Cristiane a manter os pagamentos de uma dívida trabalhista por meio uma secretária parlamentar, lotada no gabinete da deputada com um salário de R$ 15 mil. Na conversa, o presidente do PTB diz à filha que o pagamento da dívida trabalhista não deveria ser feito diretamente por ela, mas da mesma maneira que vinha ocorrendo até então.

Jefferson orientava Cristiane sobre a elaboração da nota que seria enviada à imprensa para dar uma explicação sobre o assunto, em janeiro:

— Eu prefiro a primeira versão, mas até o ponto que diz: “Os pagamentos são reembolsados pela deputada.” Você não tem que mudar nenhuma gestão de coisa nenhuma. Tá certo, você faz o que é certo — disse Jefferson à filha.

O presidente do PTB vetou o acréscimo da informação de que seria feita uma “correção” na forma dos pagamentos.

— Não precisa dizer: “Não, vou corrigir, daqui para frente eu vou pagar direto”. A Vera vai continuar pagando para você, e você reembolsa a Vera. Acabou. O importante é você pagar, o modo não é da conta desses filhos da p..., minha filha.