O globo, n. 31048, 09/08/2018. Sociedade, p. 27

 

ONU alerta sobre feminicídio na América Latina

Clarissa Pains

09/08/2018

 

 

Relatório mostra que registros de assassinatos de mulheres aumentaram entre 2013 e 2016

A preocupação com o alto índice de feminicídio nos países latino-americanos marcou a Terceira Reunião da Conferência sobre População e Desenvolvimento da América Latina e Caribe, que começou na terça-feira e termina hoje, em Lima, capital do Peru. Desde 2013, os índices de agressões e mortes resultantes de violência de gênero cresceram.

De acordo com os dados mais recentes fornecidos por 16 países da região (13 da América Latina e três do Caribe), foram registrados em 2013 um total de 1.496 feminicídios, índice que saltou para 1.831 em 2016. Chama a atenção a ausência de dados do Brasil. O país — que nos últimos dias teve casos de grande repercussão, como o da advogada Tatiane Spitzner, morta depois de levar uma surra de seu marido — não tem apresentado às organizações quaisquer números relacionados ao tema.

Organizada pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) e pela Comissão Econômica da América Latina e Caribe (Cepal), a conferência avaliará a evolução das dez metas de desenvolvimento sustentável fixadas em 2013 no Consenso de Montevidéu, entre elas, o alcance da igualdade de gênero.

A falta de informações de alguns país e sé um entrave para que organismos internacionais recomendem políticas públicas. Outro dificultador é a discrepância no entendimento do conceito de feminicídio. Em Honduras, por exemplo, entende-se que quase todas as mortes de mulheres são feminicídio. Não à toa, o país é líder no indicador em números absolutos, com 466 registros em 2016. El Salvador vem em segundo lugar, mas lidera em termos de taxa: 11,2 mortes por cada cem mil habitantes. As menores taxas estão em Suriname, Chile, Costa Rica e Peru.

‘LACUNAS DE GÊNERO’

“O bem-estar das sociedades latino-americanas será maior quanto menores forem as lacunas de gênero em todas as áreas, e essa redução de lacunas é especialmente urgente em relação aof emi nicídio ”, diz o relatório .“Avida de muitas mulheres ainda é perdida devido a mortes evitáveis na região todos os dias.”

Anteontem, o governo brasileiro divulgou que, entre janeiro e junho deste ano, recebeu 72.839 denúncias por meio do número de telefone 180. Houve aumento de 37,3% nos relatos de homicídio e de 16,9% nos de violência sexual em relação a 2017. A representante do Brasil na conferência, Marise Nogueira, conselheira do Ministério das Relações Exteriores, ainda não se pronunciou no evento.

O relatório também aponta a necessidade de melhorar o acesso de mulheres a direitos sexuais e reprodutivos para reduzira gravidez indesejada e diminuir as complicações e mortes por aborto inseguro.