O globo, n. 31050, 11/08/2018. País, p. 10

 

No debate, 1 em cada 10 tuítes foi de robô ou fake

Igor Mello

11/08/2018

 

 

 Recorte capturado

Segundo levantamento de empresa de análise de dados, Marina Silva foi a candidata mais afetada pela ação de perfis falsos no programa, com postagens negativas; Bolsonaro foi o mais lembrado; Daciolo teve o maior crescimento em buscas na internet

Uma medição em tempo real no Twitter durante o debate da Band, realizado na noite de anteontem, mostra que um em cada 10 tuítes de todas as publicações que citaram os presidenciáveis foi feito por robôs ou perfis falsos. Os dados foram compilados pela AP/Exata, empresa especializada em análise de big data. No total, foram analisadas quase 148 mil postagens.

De acordo com o levantamento, o uso dos perfis automatizados —estratégia já conhecida na manipulação do debate político nas redes sociais — teve como principal vítima Marina Silva (Rede). Dos 12.762 tuítes sobre a exsenadora, 16,84% foram publicados por esse tipo de conta. Segundo Sergio Denicoli, diretor da AP/Exata e pósdoutor em comunicação digital, no caso de Marina a ação dos robôs foi provavelmente um ataque.

— Em relação aos perfis falsos e robôs, ela foi proporcionalmente a mais visada. Começaram a postar memes depreciativos, numa tentativa de desconstruir a candidata. Em sondagens anteriores já tínhamos visto que a atuação de robôs a favor de Marina é quase zero — explica Denicoli.

O candidato mais citado na rede social foi Jair Bolsonaro (PSL). Sozinho, o capitão da reserva, que lidera as pesquisas nos cenários sem o expresidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), protagonizou 40.736 tuítes, 27,5% das publicações sobre o debate. Cerca de 11,5% das menções foram feitas por perfis suspeitos, aponta o levantamento. Denicoli explica que tanto Bolsonaro quanto Lula contam com extensas redes de robôs atuando a seu favor nas redes sociais.

—A ação desses robôs afeta imensamente a disputa, até porque isso não começou agora. Fizemos uma análise um ano antes da eleição e já naquela época constatamos uma presença muito forte desses perfis. E majoritariamente para Bolsonaro —relata.

A fala enérgica, as insinuações mirabolantes, termos despojados e as múltiplas menções a Deus serviram para o candidato Cabo Daciolo (Patriotas) se transformar em um dos protagonistas do primeiro debate presidencial dessa eleição. Segundo os dados do Google Trends, o deputado fluminense foi o participante que mais cresceu nas buscas na internet. Guilherme Boulos (PSOL) foi outro nome que capitalizou bastante com sua participação no debate, já Marina (Rede) e Alckmin (PSDB) ficaram na lanterna no índice de pesquisa.

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PF conclui nos próximos dias inquérito sobre Daciolo

Amanda Almeida

11/08/2018

 

 

Um dos candidatos mais citados nas redes sociais durante debate na Bandeirantes, deputado é investigado por suposto desvio de verba

A Polícia Federal deve concluir, nos próximos dias, um inquérito que investiga o deputado Cabo Daciolo (RJ), candidato do Patriota à Presidência, por suposto desvio de verba pública. Um dos candidatos mais citados nas redes sociais durante o primeiro debate presidencial, na última quinta-feira na TV Bandeirantes, o militar é investigado no Supremo Tribunal Federal (STF) por suspeita de ter desviado dinheiro de sua verba indenizatória de gabinete. À Procuradoria-Geral da República, Daciolo nega irregularidades e atribui as denúncias a “opositores políticos”.

O candidato do Patriota, que não conseguiu sequer pontuar nas últimas pesquisas, tornou-se atração no debate pelo “estilo religioso” de falar das suas propostas de governo e pelas perguntas inusitadas feitas a adversários. A Ciro Gomes (PDT), por exemplo, indagou sobre a União das Repúblicas Socialistas da América Latina (Ursal) e o suposto plano da esquerda brasileira de transformar a região em uma “única nação”. Acrescentou que, no governo dele, “o comunismo não vai ter vez” e que, se eleito, vai transformar o Brasil na primeira economia do mundo.

—A democracia é uma delícia, mas tem certos custos —ironizou Ciro.

A PF recebeu a denúncia contra Daciolo em 2015. Com a verba da Câmara, o deputado teria pago R$ 227,5 mil a uma empresa de informática ligada a conhecidos dele que, no período em que teria prestado serviços ao deputado, não tinha sequer funcionários registrados em seu quadro funcional. O prazo para a conclusão do inquérito sobre o caso acabou em junho, mas o Supremo concedeu mais dois meses para o fim das investigações. Depois disso, a Corte decidirá se abre ação penal e torna o deputado réu. Procurado, o gabinete de Daciolo informou que a assessoria de imprensa do candidato é feita por sua mulher. Cristiane Daciolo não atendeu as ligações e não respondeu a mensagens.

Pouco conhecido, Daciolo se tornou um dos termos mais buscados na internet durante o debate. Ao ser questionado sobre os índices de violência contra a mulher no Brasil, ele disse que “o grande problema que a nação está enfrentando hoje é a falta de amor”.

ELEITO PELO PSOL

O deputado garantiu participação nos debates presidenciais porque o Patriota tem cinco deputados. Segundo a regra eleitoral, todas as legendas que têm pelo menos esse número de parlamentares devem ser convidadas para os debates. Daciolo foi escolhido candidato pelo partido depois de o presidenciável Jair Bolsonaro desistir de migrar para a sigla e se filiar ao PSL.

Eleito pelo PSOL, Daciolo está em seu primeiro mandato. Ele foi expulso do partido quatro meses depois de assumir a cadeira na Câmara. O rompimento ocorreu quando o deputado propôs mudar o primeiro artigo da Constituição para “todo o poder emana de Deus”. Antes de chegar ao Patriota, ele passou pelo PTdoB.

Aos 42 anos, o militar nasceu em Florianópolis, mas seu mandato é pelo Rio, onde ganhou projeção ao liderar uma greve de bombeiros em 2011. Perdeu o cargo, mas foi anistiado. Evangélico, não raro, ele segura a Bíblia em seus pronunciamentos na tribuna. Em 2016, ao citar o atraso de pagamentos ao funcionalismo do governo do Rio, o deputado pregou um caminho para o socorro:

— Aí, eu pergunto: de onde virá o socorro? Qual vai ser a solução para essa opressão? De onde virá o socorro? O socorro virá do Senhor, que fez os céus e a terra. Todo poder emana de Deus —disse à época.

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Moro diz ser inviável falar sobre convite de Alvaro Dias

Cleide Carvalho

Gustavo Schmitt

11/08/2018

 

 

Candidato afirmou que, se eleito, chamaria juiz para ministro da Justiça

O juiz Sergio Moro afirmou em nota que, agora, não pode se manifestar sobre o convite do candidato à Presidência Alvaro Dias (Podemos) para que seja ministro da Justiça: “Informo aos jornalistas e publicamente que reputo inviável no momento manifestarme, de qualquer forma e em um sentido ou no outro, sobre esta questão, uma vez que a recusa ou a aceitação poderiam ser interpretadas como indicação de preferências políticas partidárias, o que é vedado para juízes”.

Dias falou diversas vezes durante o debate entre os presidenciáveis, na noite de quinta-feira, que convidaria Moro para o cargo. Aliados do senador disseram ao GLOBO que Moro foi avisado pelo candidato que seu nome seria usado na campanha. Oficialmente, porém, o senador negou qualquer conversa com o juiz da Lava-Jato sobre o assunto. A primeira vez que Dias mencionou o nome do magistrado foi na convenção que lançou o senador ao Planalto, no último sábado, em Curitiba. Na ocasião, o presidenciável disse que o juiz não sabia de nada.

A assessoria de Dias afirmou que o senador apresentou três propostas de mudança na legislação por sugestão de Moro. Uma delas, de julho passado, insere na Constituição a possibilidade de execução da pena em segunda instância.

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Sem sentido

11/08/2018

 

 

MENOS MAL que o TSE voltou atrás na decisão impensada de não divulgar de forma detalhada a declaração de bens dos candidatos. Espera-se que haja tempo para colocar à disposição de todos as informações completas.

A JUSTIFICATIVA de que a sonegação de dados seria para “dar agilidade ao sistema” é risível, dada a importância de o eleitor saber a situação patrimonial de quem lhe pede votos.