O globo, n. 31055, 16/08/2018. País, p. 12

 

Cunha, agora mestre de obras, reduz pena

Gustavo Schmitt

16/08/2018

 

 

Ex-presidente da Câmara faz cursos e lê livros para diminuir tempo de prisão

O ex-deputado Eduardo Cunha (MDB-RJ) conseguiu reduzir em oito meses sua pena com cursos à distância, trabalho na penitenciária e resenhas de livros. Somando a remissão da pena aos quase dois anos que Cunha passou na cadeia, a defesa entende que o ex-deputado já cumpriu um sexto dos 14 anos e seis meses de prisão estabelecidos pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), a segunda instância da Lava-Jato, e, por isso, pediu a progressão para o regime semiaberto.

Para conseguir o abatimento da pena, o ex-presidente da Câmara fez cursos de espanhol, de mestre de obras e de agricultura. Para comprovar o feito, os advogados apresentaram diplomas do Instituto Universal Brasileiro, especializado em ensino profissionalizante à distância. Em seu site na internet, a entidade oferece um curso de 400 horas de “Mestre de Obras e Edificações” por R$ 246, que podem ser parcelados e cobrem o custo de apostilas e aulas online —cada 12h de curso conta um dia a menos na pena.

Cunha também se dedicou à leitura de livros da biblioteca do presídio, na maioria clássicos da literatura. O ex-deputado escolheu, por exemplo, romances como “O estrangeiro”, de Albert Camus; “O quarto dourado”, de Rebecca Kohn; além de obras de Moacyr Scliar, como “O exército de um homem só”, “A festa no Castelo” e “Mês de cães danados”. Após a leitura, o preso é obrigado a fazer uma resenha. Cada livro lido desconta dois dias na pena do sentenciado.

O ex-deputado também trabalhou na penitenciária na área de serviços de manutenção e na entrega de quentinhas aos presos da ala onde ficam os réus da Lava-Jato. Entre os companheiros da carceragem estão Aldemir Bendine, ex-presidente da Petrobras e do Banco do Brasil; João Vaccari Neto, extesoureiro do PT; e o ex-deputado federal André Vargas.

Cunha está preso no Complexo Médico-Penal em Pinhais, Região Metropolitana de Curitiba, desde outubro de 2016. Ele responde pelos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e evasão de divisas na ação que investiga a compra, pela Petrobras, de um campo de petróleo em Benin, na África. A negociação, segundo as investigações, rendeu propina de US$ 1,5 milhão para Cunha, embora a estatal não tenha encontrado óleo no campo.

Mesmo que a Justiça conceda a progressão de pena para o regime semiaberto, Cunha não será autorizado a deixar a cadeia, já que ainda há dois mandados de prisão contra ele. O primeiro se refere às delações dos irmãos Joesley e Wesley Batista, da JBS, em que é acusado de tentar obstruir a Justiça. O segundo diz respeito à condenação a 24 anos e dez meses de prisão por desvios do Fundo de Investimento (FI) do FGTS.