O globo, n. 31023, 15/07/2018. País, p. 6

 

Ciro diz ao blocão que pode ajustar discurso econômico

Luís Lima e Gustavo Schimitt

15/07/2018

 

 

Pedetista esteve com líderes de grupo, cujo apoio segue indefinido

 

O pré-candidato do PDT à Presidência, Ciro Gomes, mostrou disposição para ajustar seu discurso, sobretudo na área econômica, durante uma reunião, ontem, em São Paulo, numa tentativa de conquistar finalmente o apoio das legendas do blocão (PP, PRB, DEM, Solidariedade). O aceno tem por objetivo vencer as resistências do DEM. O pedetista prometeu incorporar propostas destas legendas ao seu programa. Apesar disso, Ciro saiu do encontro sem a garantia de apoio do grupo, que também estuda aderir à candidatura do tucano Geraldo Alckmin.

O anfitrião para as negociações foi o empresário Benjamin Steinbruch, filiado ao PP e cotado para ser vice do pedetista. O encontro, que durou cerca de três horas, foi dividido em dois momentos, um com Ciro e outro reservado aos dirigentes do blocão. Segundo participantes, Ciro falou e ouviu muito, se comprometeu a acatar parte das demandas dos partidos, mas um anúncio sobre qual pré-candidato à Presidência terá o apoio dessas legendas só deve ocorrer nas próximas semanas.

 

CONTROVÉRSIA SOBRE REFORMAS

Na negociação com o Democratas, as principais resistências são sobre as posições de Ciro em relação às reformas trabalhista e da Previdência. Ciro fala em revogar a reforma trabalhista, aprovada por Temer e apoiada pelo DEM, e defende um sistema de capitalização para o setor previdenciário. A legenda é contra essas propostas. Já a posição do presidenciável de rever a regra do teto de gastos públicos é encarada como um “problema menor”, segundo participantes do encontro.

Participaram da reunião os presidentes do PP, Ciro Nogueira; do Solidariedade, Paulinho da Força; do PRB, Marcos Pereira; do PDT, Carlos Lupi; e do DEM, ACM Neto, além do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).

Na última quarta, caciques de DEM, PP, PRB, PR, PSC e PHS se reuniram na casa de Maia, em Brasília, e as divisões do grupo ficaram mais evidentes. O PRB prefere se aliar a Alckmin, que esteve na noite de sexta-feira ao lado de Pereira em um evento evangélico. Já Ciro tem a preferência do PP e do Solidariedade. O DEM avalia que Ciro é mais competitivo que o tucano. Mais distante, o PR, flerta com Jair Bolsonaro (PSL).

Na estrada.

Ciro buscou apoio do blocão em reunião em SP

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Bolsonaro defende PM em massacre no Pará

15/07/2018

 

 

Para presidenciável, tiros a queima-roupa foram dados em legítima defesa

Em agenda em Eldorado do Carajás, sudoeste do Pará, o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) defendeu, anteontem, policiais presos pela morte de 19 trabalhadores rurais semterra no massacre que marcou a região há 22 anos. Segundo Bolsonaro, “os policiais reagiram para não morrer".

“Quem tinha que estar preso era o pessoal do MST (Movimento dos Sem Terra), gente canalha e vagabunda. Os policiais reagiram para não morrer”, declarou Bolsonaro, aplaudido por um grupo de policiais que acompanhava seu discurso, em frente a troncos de castanheiras queimados que marcam o local dos assassinatos. A declaração do pré-candidato foi publicada ontem pelo jornal “O Estado de S. Paulo”.

O massacre de Eldorado do Carajás é o mais emblemático conflito pela posse de terras ocorrido no país. Em abril de 1996, 1,5 mil sem-terra, que marchavam em direção a Belém em um protesto contra a demora da desapropriação de terras, acamparam na rodovia PA-150, na altura de Eldorado de Carajás. A Polícia Militar foi acionada pelo então governador Almir Gabriel (PSDB) para desbloquear a via. Comandada pelo coronel Mário Pantoja, o major José Maria Oliveira e o capitão Raimundo Almendra, a tropa chegou no dia seguinte. Enquanto os semterra usavam paus e pedras para conter a ação dos PMs, os policiais revidaram com tiros a queima-roupa. Além dos 19 mortos, o combate deixou mais de 60 feridos.

Dos 155 policiais que participaram da ação, apenas Mário Pantoja e José Maria de Oliveira foram condenados por terem ordenado a ação, e estão presos desde 2012. As penas superaram os 150 anos de prisão.

 

'PROGRESSO' A ALDEIAS

Na agenda de pré-candidato no Pará, Bolsonaro também prometeu que, se eleito, vai levar “progresso” a aldeias indígenas e permitir que quilombolas abram garimpo em terras demarcadas ou até mesmo que possam vendê-las. — No meu governo, o progresso vai entrar nas terras indígenas, como vai entrar nos quilombolas também. O quilombola que quiser garimpar na sua terra, vai garimpar. Se quiser vender sua terra, vai vender também. O que a comunidade indígena quer é se integrar cada vez mais à nossa sociedade — afirmou a simpatizantes, em evento em Parauapebas.

Em abril, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, denunciou Bolsonaro ao Supremo Tribunal Federal (STF) pelo crime de racismo contra quilombolas. Parte da denúncia é baseada nas declarações do pré-candidato do PSL sobre uma comunidade quilombola. Uma das frases questionada é a que ele diz que visitou um quilombo e que os moradores de lá “não fazem nada” e “nem para procriar servem mais”.