Título: Chiadeira contra a sala secreta
Autor: mascarenhas, Gabriel
Fonte: Correio Braziliense, 08/05/2012, Política, p. 3

Os integrantes da CPI do Cachoeira criticaram as regras de acesso à sala onde estão disponíveis as informações da Operação Vegas, da Polícia Federal. O espaço tem apenas três computadores que contêm o inquérito e é monitorado por câmeras e seguranças do Senado. Os parlamentares não podem entrar com telefones celulares nem acompanhados de assessores. A oposição vai formalizar um pedido à presidência do colegiado para flexibilizar as restrições, além de solicitar ao Supremo Tribunal Federal (STF) a suspensão do sigilo dos dados, o que tornaria desnecessária a manutenção do aparato de monitoramento.

A insatisfação com as regras desestimulou boa parte dos parlamentares a analisar o documento. Até o início da noite de ontem, a sala havia recebido apenas cinco visitas de senadores e deputados. Diante das queixas, o presidente da Comissão, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), se comprometeu a instalar mais sete computadores e afirmou estar estudando uma maneira de permitir a entrada de assessores. Ontem, ele recebeu as mídias com o que foi apurado durante a Operação Monte Carlo, também da PF, e deve disponibilizá-las hoje ao colegiado.

O senador Alvaro Dias (PSDB-PR) atribuiu o rigor das regras de acesso a uma tentativa da base aliada de manipular o curso das apurações. “Os parlamentares estão sendo tratados como parentes do Cachoeira (contraventor Carlos Augusto Ramos) em visita ao presídio da Papuda. O inquérito já foi devassado pela imprensa. A CPI é feita para dar luz aos fatos, não para escondê-los”, atacou Dias.

Já o senador Randolfe Rodrigues (PSol-AP) garantiu que não acessará os dados enquanto não houver mudanças. Ele pede a permissão de entrada a assessores e a ampliação do número de máquinas: “É um ‘mico’ ir àquela salinha, proibido de levar aparelhos celulares e vigiado por câmeras. O ministro do STF é monitorado enquanto olha um processo, o procurador-geral da República é impedido de mostrar um inquérito a assessores? A CPI tem poderes próprios de investigação”, exemplificou.

Depoimento Oposição e governistas continuaram ontem o cabo de guerra que envolve a convocação de governadores. PT e PMDB sustentam que somente Marconi Perillo (PSDB-GO) deve comparecer à comissão. Já o PSDB defende um requerimento obrigando também Sérgio Cabral (PMDB-RJ) e Agnelo Queiroz (PT-DF), ambos da base aliada, a prestarem depoimento no mesmo dia em que for agendado o de Perillo. Vital do Rêgo afirmou ontem, porém, que não é permitida a convocação em bloco, sob argumento de que as acusações são diferentes.

Hoje à tarde, a CPI receberá o delegado responsável pela Operação Vegas, Raul Alexandre Souza. Antes de ouvi-lo, decidirá se a sessão será aberta ou secreta. Pela manhã, o Conselho de Ética do Senado votará o relatório que pede abertura de processo contra o senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) por quebra de decoro parlamentar. Ontem, os advogados dele protocolaram um pedido para ter mais 10 dias até apresentar a defesa do parlamentar.

Afastamento no DFTrans

ARTHUR PAGANINI

O governador do Distrito Feder al, Agnelo Queiroz, afastou ontem o diretor administrativo financeiro da Transporte Urbano do Distr ito Federal (DFTrans), Milton Martins de Lima Júnior. Ele é suspeito de envolvimento com o grupo do contraventor Carlinhos Cachoeir a na contratação de empresa para administrar a bilhetagem eletrônica dos ônibus da capital federal.

Escutas telefônicas interceptadas pela Polícia Federal apontam que Milton teria atendido contato do grupo de Cachoeira para facilitar a contratação da empresa Delta Construções na concessão da bilhetagem eletrônica. Na época em que a conversa foi gravada, a bilhetagem dos ônibus havia sido recentemente assumida pelo DFTrans.

O porta-voz do GDF, Ugo Braga, garante que a conduta de Milton é apurada pelo governo. Segundo Braga, sob determinação do governador, todos os funcionários do GDF mencionados no curso da investigação Monte Carlo respondem a processo disciplinar da Secretaria de Transparência. O prazo de apuração é de 60 dias.

O diretor do DFTrans, Marco Antônio Campanella, afirma estar seguro da lisura do processo licitatório em curso na autarquia. “Nada do que eventualmente tenha sido ventilado nas conversas capturadas na Operação Monte Carlo prosperou. Em forma de contrato emergencial, muito menos”, garante.