O globo, n. 31033, 25/07/2018. País, p. 3

 

O centrão de Paes

Marcelo Remigio

Thiago Prado

25/074/2018

 

 

Com mais partidos, ex-prefeito deve ter metade do tempo de TV; adversários tentam alianças; Mesmo depois de ter sido preso três vezes, Garotinho mantém planos de campanha e já conseguiu fechar alianças com quatro partidos

A cinco dias de lançar a sua pré-candidatura ao governo do Estado do Rio, o ex-prefeito Eduardo Paes (DEM) articula uma coligação com mais de uma dezena de partidos para apoiá-lo. Entre eles está o MDB, sigla de Paes até o ano passado e que teve as suas principais lideranças fluminenses presas pela Operação Lava-Jato desde 2016. Com a mega-aliança, o ex-prefeito da capital deve ter mais da metade do tempo de propaganda de TV — acima de cinco minutos de um bloco de dez reservado a todos os postulantes ao Palácio Guanabara.

Correligionários de Paes já comemoram os acertos com PSDB, PP, Solidariedade, PTB e MDB, legenda esta que governa o estado. Articulam-se ainda os apoios de PR, PV e PPS, que atualmente mantém a pré-candidatura do antropólogo do Viva Rio Rubem César Fernandes. O PR também tem sido cortejado pelo pré-candidato do PRP, o exgovernador Anthony Garotinho. Entre os nanicos, Avante, PMN e PSDC já estão em conversas avançadas para apoiar o ex-prefeito Paes.

Os quatro principais pré-candidatos têm telhados de vidro nítidos: Paes é suspeito de receber caixa 2; o senador Romário (Podemos) precisa explicar indícios de lavagem de dinheiro; Garotinho foi preso três vezes; e o deputado federal Indio da Costa (PSD) foi citado em delação premiada como recebedor de caixa 2. Todos negam que tenham cometido irregularidades.

MARICÁ DEIXOU LEMBRANÇAS

O tamanho da aliança de Paes tem semelhança com as articuladas no passado por candidaturas vitoriosas do MDB no estado. Em 2006, Sérgio Cabral foi eleito governador em uma chapa de nove partidos. Quatro anos depois, o número subiu para 16. Paes, em 2008, teve quatro legendas na coligação. Em 2012, foram 20. À época, o então prefeito do Rio acabou enfrentando problemas para abrigar todos os aliados no governo. Já há quatro anos, Luiz Fernando Pezão teve o apoio de 17 siglas.

Nos últimos dias, a escolha de um vice para Paes, que era dada como certa, subiu no telhado. O deputado federal Marcelo Delaroli (PR) fora indicado para o posto, mas a divulgação de uma carta em que ele critica as falas do ex-prefeito do Rio sobre Maricá azedaram a relação. Delaroli é oriundo da cidade, na Região Metropolitana, que, em 2016, foi chamada de “merda de lugar” por Paes em uma conversa com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, gravada com autorização da Justiça. Caciques do PP também pressionaram o DEM a não fechar a vaga de vice com a indicação de Delaroli.

O GLOBO apurou que Paes ainda tenta tirar da disputa eleitoral Pedro Fernandes, do PDT, oferecendo a vice. Como o DEM decidiu apoiar o presidenciável Geraldo Alckmin (PSDB), em vez de Ciro Gomes (PDT), a aproximação ficou mais difícil, embora o presidente do PDT, Carlos Lupi, veja com bons olhos uma aliança regional mesmo que informal.

Pré-candidato do PRP ao Palácio Guanabara, Anthony Garotinho já tem em sua aliança Patriotas, PPL e PROS. O ex-governador se reuniu ontem com representantes de PTC e PMB, em uma tentativa de ampliar a participação dos nanicos em sua chapa. Partidos menores temem que eventuais acordos firmados com Eduardo Paes não sejam cumpridos, como o ocorrido na segunda gestão do prefeito — a distribuição de cargos não agradou a todas as siglas, que, à época, estudaram a criação de um bloco de oposição. Mesmo que de forma modesta, os nanicos ajudariam Garotinho com alguns segundos extras no tempo de propaganda gratuita no rádio e na televisão.

Também ontem, Garotinho esteve com lideranças do PR, que devem arrastar as negociações — tanto com ele quanto com Paes — até os últimos minutos antes da convenção. O pré-candidato do PRP ainda busca uma aproximação com o senador Romário, que tem liderado as pesquisas de intenções de voto nas mãos de partidos. No entanto, segundo fontes próximas a Garotinho, a dificuldade na articulação está em quem abrirá mão da cabeça de chapa. Ambos não querem ser vices. Romário e o Podemos até agora não fecharam nenhuma aliança no Rio. Outra negociação de Garotinho que não avançou foi a com os petistas.

— Fechei com o PPL, PROS, Patriotas e o PRB. O senador Lindbergh (Farias) me ligou hoje (ontem) e disse que o diretório do PT do Rio prefere lançar Marcia Tiburi — afirmou Garotinho, que atraiu o PROS para reforçar sua influência em colégios eleitorais da Baixada Fluminense e em São Gonçalo, na Região Metropolitana — o partido tem candidatos a deputado com expressiva densidade eleitoral.

INDIO ESTÁ ISOLADO NA CAMPANHA

O PRB de Marcelo Crivella fechou com Garotinho após o prefeito do Rio chegar a anunciar que apoiaria Indio. Isolado, o deputado fechou as portas do PRB ao criticar uma reunião, divulgada pelo GLOBO, em que Crivella ofereceu vantagens em serviços públicos a pastores evangélicos. No último sábado, Indio lançou uma chapa puro-sangue para o governo do estado com o delegado Zaqueu Teixeira de vice. O deputado ainda tenta tirar o PSDB da órbita de Paes.

— Eu esperava que o PRB apoiasse o Indio (da Costa). Mas os partidos seguiram diferentes caminhos nos últimos dias — afirmou Marcelo, filho de Crivella, pré-candidato a deputado federal.

A aliança do PRB com Garotinho passou por um acordo com o tio de Crivella e líder religioso da Igreja Universal do Reino de Deus — ligada ao partido —, bispo Edir Macedo. A negociação inclui ainda a possível adesão do PRTB, que tem como pré-candidato ao Senado o cunhado de bispo Macedo José Luís Rangel. O grupo de Crivella deverá indicar um nome para a vaga de vice, podendo ser do PRB ou o próprio Rangel, que é da Igreja Nova Vida e atrairia o voto evangélico além dos templos da Universal.

Também disputarão o Palácio Guanabara Tarcísio Motta, que lançou na última sexta-feira seu nome pelo PSOL, e Marcelo Trindade, lançado ontem pelo Novo. Wilson Witzel (PSC), Miro Teixeira (Rede), Leonardo Giordano (PCdoB) e Dayse Oliveira (PSTU) completam a lista.

EDUARDO PAES

Fantasmas do passado:

O ex-prefeito terá que responder sobre a prisão de seus antigos aliados do MDB e a respeito de acusações envolvendo suas próprias campanhas do passado. Em delação premiada, executivos da Odebrecht citaram pagamentos de caixa dois, entre os quais depósitos em contas no exterior de US$ 5,7 milhões para a campanha de 2012.

ROMÁRIO

Ocultação de patrimônio:

O senador terá pela frente uma campanha na qual será confrontado com um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) que apontou indícios de lavagem de dinheiro nas suas movimentações financeiras milionárias. O documento de maio afirma que Romário usa o nome da irmã com o “intuito de ocultar” os seus recursos.

GAROTINHO

Prisões e delações:

Além de ter sido preso três vezes em acusações sobre compra de votos, o ex-governador é alvo de inquéritos com base em delações premiadas de executivos da Odebrecht. Os colaboradores da empreiteira afirmaram que Garotinho e sua esposa Rosinha receberam R$ 20 milhões em caixa dois para as campanhas de 2008, 2012 e 2014.

INDIO DA COSTA

Esqueletos no armário:

O deputado federal já foi citado na delação premiada do empresário Paulo Fernando Magalhães Pinto, ligado a Sérgio Cabral, como recebedor de recursos de caixa dois para campanhas. Além disso, embora rompido com Marcelo Crivella, terá que responder sobre o desgaste de ter participado de seu governo como secretário de Obras.

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Ex-marqueteiro de Crivella negocia com ex-prefeito

Marcelo Remigio

Thiago Prado

25/07/2018

 

 

Ex-prefeito também já fechou com publicitário baiano que fez campanha para o PT

Depois de duas eleições ao lado do marqueteiro Renato Pereira, Eduardo Paes desta vez vai investir em profissionais de menos grife para a eleição. Da Bahia, virá Maurício Carvalho, que já trabalhou com o publicitário João Santana e em diversas campanhas petistas. Para ajudá-lo na confecção de programa de governo e outras estratégias de comunicação, Paes negocia ainda com o economista Marcello Faulhaber, ex-marqueteiro de Marcelo Crivella na campanha para a prefeitura de 2016. Procurados, os dois lados confirmaram as conversas para O GLOBO.

Antes de ajudar na vitória de Crivella, Faulhaber participou do governo Paes na subsecretaria da Casa Civil. O afastamento da dupla foi marcado por um episódio de repercussão. No auge da campanha para a reeleição, em 2012, Faulhaber classificou o prefeito como um “monstro” de atuação política “desprovida de escrúpulos” num e-mail enviado a então vereadora Andréa Gouveia Vieira, na época apoiadora do candidato de oposição Marcelo Freixo (PSOL). O prefeito retrucou e chegou a dizer que demitiu o economista pelo fato de ele ser conivente com a corrupção, o que ele negou na época.

Ao trazer Faulhaber para perto, Paes evita ter inimigos do passado em campanhas adversárias. Na semana passada, o ex-secretário de Assistência Social Rodrigo Bethlem foi fotografado em encontro com o senador Romário (Podemos). Ele fora demitido do governo Paes em 2014 após ser gravado pela ex-mulher Vanessa Felippe admitindo receber uma mesada de um fornecedor da prefeitura e ter uma conta não declarada na Suíça. Procurado, Bethlem diz que a conversa com Romário foi “casual”. Em 2016, o ex-secretário de Paes também participou da campanha de Crivella ao lado de Faulhaber.

Escolhido como o marqueteiro oficial da campanha, Maurício Carvalho foi redator e depois diretor de criação da agência Propeg. Auxiliou diversas petistas e suas campanhas, como Alexandre Padilha e Fernando Haddad. A estrutura deste ano terá, certamente, menos recursos disponíveis do que as anteriores do ex-prefeito sob o comando de Renato Pereira. Em delação premiada homologada pelo Supremo Tribunal Federal, Pereira afirmou que a campanha de Paes em 2012 custou R$ 20 milhões em serviços de marketing, embora apenas R$ 8,6 tenham sido declarados. Paes nega as acusações de caixa dois.