O globo, n. 30997, 19/06/2018. Rio, p. 10​

 

Marielle: Brazão nega conhecer delator

Gustavo Goulart

19/06/2018

 

 

Conselheiro afastado do TCE diz ainda à polícia que não tem qualquer desavença com Siciliano

Após prestar depoimento, ontem, para policiais civis que investigam o assassinato de Marielle Franco, o ex-deputado estadual e conselheiro afastado do Tribunal de Contas do Estado (TCE) Domingos Brazão negou conhecer a testemunha-chave do caso, que apontou o vereador Marcello Siciliano (PHS) e o miliciano Orlando Oliveira de Araújo, o Orlando de Curicica, como interessados na morte da parlamentar. Brazão e Siciliano são considerados adversários políticos: ambos contam com eleitorado em comunidades de Jacarepaguá, mas o ex-deputado disse que jamais teve problema com o parlamentar.

— Nunca tive desavença com o Siciliano — afirmou Brazão a jornalistas, acrescentando que deu esta mesma resposta durante o depoimento.

O conselheiro afastado do TCE disse que seu assessor Gilberto Ribeiro da Costa também não têm qualquer ligação com a testemunha-chave da investigação, que, primeiramente, procurou a Polícia Federal para denunciar Siciliano e Orlando. Gilberto é policial federal aposentado, e foi indicado a um cargo no TCE por Brazão.

Marielle e o motorista Anderson Gomes foram executados no dia 14 de março, no Estácio. O ex-deputado disse que não chegou a conhecê-la.

— Conhecia a Marielle só de nome, pelo fato de ela ter figurado como um dos vereadores mais votados, e pelo infeliz acontecimento. Foram essas duas vezes que eu ouvi falar dela. Torço para que esse caso seja elucidado o mais rapidamente possível. Como cidadão, como agente público, torço para isso. Creio que os investigadores ficaram contentes com meu depoimento, e não acho necessário voltar aqui — disse Brazão, que foi à Delegacia de Homicídios, na Barra, acompanhado do advogado Ubiratan Guedes.

A testemunha-chave da investigação, que admite ter feito parte de uma milícia da Zona Oeste, contou à polícia que ouviu Siciliano xingar Marielle durante uma conversa com Orlando, que está preso. Após o depoimento do delator, a polícia pediu a transferência do miliciano para um presídio federal fora do Rio, o que deve acontecer hoje.

— Foi perguntado se eu conhecia a testemunha. Eu não conheço nem faço ideia de quem seja — disse Brazão.

Afastado do TCE desde março do ano passado, Brazão é investigado pela Operação Lava-Jato por corrupção e lavagem de dinheiro. Ele chegou a ficar dez dias preso.

O promotor Homero de Freitas, da 23ª Promotoria de Investigação Penal (PIP), acompanhou o depoimento. Ao ser perguntado sobre as informações passadas pela testemunha-chave à polícia, ele afirmou que cada ponto da declaração está sendo investigado.

— Cada menção que ela faz, a gente está investigando, e, no fim, vamos ver se é frágil ou não — comentou o promotor. — Existe muita ilação, muita especulação. Vamos ouvi-lo (Brazão) com calma.