O globo, n. 30984, 06/06/2018. País, p. 3

 

Ataques a ônibus foram retaliação do PCC, afirmam autoridades

Aline Ribeiro e Jussara Soares

06/06/2018

 

 

Ações em Minas e no Rio Grande do Norte são ligadas a novas regras de prisões

A ordem para os ataques a ônibus, órgãos públicos e agentes penitenciários em Minas Gerais e Rio Grande do Norte partiram da facção paulista Primeiro Comando da Capital (PCC), segundo o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT), e o Ministério Público de São Paulo. Os ataques seriam retaliação do bando ao tratamento recebido nos presídios.

Cerca de 50 ônibus foram incendiados em 26 cidades mineiras desde domingo. No Rio Grande do Norte, três ônibus, incluindo um de transporte escolar, foram atacados desde sábado. A polícia investiga se a morte de um policial na cidade de Mossoró (RN) tem relação com a onda de ataques.

Em entrevista coletiva, o governador de Minas admitiu que os ataques partiram de uma organização criminosa.

— A essa altura está confirmado que (o ataque) é obra de uma facção criminosa que atua no Brasil inteiro e, que nesse momento, concentrou sua atuação em Minas Gerais — disse Pimentel.

Oficialmente, a Secretaria de Segurança Pública do Rio Grande Norte informou que ainda investiga a autoria dos ataques. Entretanto, agentes públicos que atuam no combate ao crime organizado afirmam que a ofensiva é uma resposta dos integrantes da facção às novas regras no sistema prisional após o massacre na penitenciária de Alcaçuz (RN), em janeiro de 2017. O motim resultou em 26 presos mortos.

Segundo pessoas ligadas à Segurança Pública no estado, uma confusão iniciada no dia 1º na ala C do pavilhão 5 de Alcaçuz, desencadeou os ataques. A suspensão da visita em decorrência de “reclamações e gritarias” motivou presos a cantarem o hino da facção paulista no pátio. Pouco depois, agentes penitenciários teriam agido, deixado presos feridos.

— O detentos alegam que é opressão, mas a questão é que o estado retomou o controle dos presídios e tirou o poder dos presos — informou um investigador.

A ação nos dois estados tem características típicas do PCC, segundo o promotor Lincoln Gakiya, do Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado (Gaeco) de Presidente Prudente (SP). Os presos, segundo ele, reclamam da opressão carcerária à cúpula da organização criminosa, que determina que outros detentos verifiquem a veracidade da denúncia. Se as reivindicações não são atendidas pela administração penitenciária, ordenam os “atos terroristas”.

— É um jogo de força contra o Estado. E, como está dando audiência, pode ser que haja joguete semelhante em outros lugares — disse Gakiya.

De acordo com o MP, a ordem para atacar chegou tanto ao Rio Grande do Norte quanto a Minas Gerais por mensagens via WhatsApp. O MP está investigando a origem dessa diretriz. Outros dois estados estão de sobreaviso para possíveis investidas dos bandidos: Maranhão e Goiás.