Correio braziliense, n. 20146, 19/07/2018. Política, p. 3

 

Alckmin caça com Jefferson

Luiz Carlos Azedo

19/07/2018

 

 

A Executiva Nacional do PTB aprovou o apoio ao candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, decisão que será oficializada em 28 de julho. Com isso, o tucano começa a consolidar alianças para garantir pelo menos 20% do tempo de televisão destinado aos partidos na campanha eleitoral. Essa é a aposta do ex-governador de São Paulo para crescer nas pesquisas de intenção de voto e chegar ao segundo turno. Seus estrategistas avaliam que a ampliação da coligação em direção ao centro permitirá que a candidatura saia da estagnação eleitoral.

Não chega a ser uma novidade, porque a aliança com PTB com Alckmin em São Paulo é histórica, mas tem significado porque põe um ponto final nas especulações de que poderia desistir da candidatura ou ser substituído pelo ex-prefeito João Doria, que disputa o Palácio dos Bandeirantes. A decisão do PTB também repercute junto a outros aliados que ainda não formalizaram seu apoio a Alckmin, os casos do PSD, do ex-prefeito Gilberto Kassab, que ainda não removeu a candidatura de Paulo Rabelo de Castro, e do PPS, de Roberto Freire, que aprovou um indicativo de aliança com o tucano no seu congresso, mas só vai decidir mesmo no começo de agosto.

Esses aliados de Alckmin estão como aquele malando do samba de Bezerra da Silva, que apertou, mas não fumou. “Pra fazer a cabeça tem hora”, diz a canção. Para Alckmin, a hora é esta. Todo o seu esforço agora está voltado para a aliança com o DEM, numa queda de braços com Ciro Gomes (PDT), que avançou seus entendimentos com as seções nordestinas por meio do senador José Agripino (RN), e com Jair Bolsonaro, que montou uma cabeça de ponta na legenda no Sul, com Ônix Lorenzoni (RS). Outro partido que está em vias de fechar com Alckmin é o PV, cujo presidente, o ex-deputado José Luiz Pena, é secretário de Cultura de São Paulo nomeado pelo tucano.

Alckmin dá sinais de que não se empenha para fazer uma aliança formal com o MDB, principalmente por causa do desgaste do governo de Michel Temer e da candidatura de Paulo Skaf ao governo de São Paulo. Difícil, porém, é atrair o chamado Centrão, bloco formado pelo PP, PRB, SD e PSC, com mais de 120 deputados na Câmara. O grupo negocia com Ciro Gomes, que hoje se reunirá com os sindicalistas ligados ao Solidariedade. A alternativa de Alckmin está sendo trabalhar para que o bloco fique independente. Para isso, conta ainda com as movimentações do PT, que também estimula a neutralidade do grupo.

O tempo

O tempo de televisão, muito mais do que seu programa de governo ou a imagem dos aliados, move as articulações de Alckmin. Segundo levantamento feito pela Arko Advice, nas últimas sete disputas ao Palácio do Planalto (1989 a 2014), houve mudanças no cenário duas semanas após o início da propaganda eleitoral gratuita na TV. Mas, em nenhuma das eleições presidenciais, houve modificação em agosto, no período anterior ao início da campanha na TV. Nessas sete disputas, quem liderava nessa época chegou ao Planalto.

Antes disso, são raros os precedentes de mudança na situação eleitoral antes de começar a propaganda na TV. Isso somente ocorreu nas eleições de 1989 e 2002, quando os candidatos que estavam em terceiro lugar nas pesquisas antes do início do horário eleitoral (Lula e José Serra) ultrapassaram os adversários (Brizola e Ciro, respectivamente) e chegaram ao segundo turno. Porém, tanto Lula quanto Serra foram derrotados. Ocorre que Bolsonaro  e Mariana, que lideram a disputa, tem pouco ou quase nenhum tempo de televisão.

Nas eleições passadas, com mais tempo de tevê, Marina ultrapassou Aécio Neves (PSDB) e assumiu o segundo lugar duas semanas após o começo do horário eleitoral, embalada pela comoção causada pela morte do ex-governador Eduardo Campos (PSB). Entretanto, acabou perdendo a vice-liderança para Aécio no decorrer da campanha.

Em todas as eleições, eventos de grande impacto acabaram repercutindo nas campanhas. “Em 1989, por exemplo, Collor teve uma generosa cobertura dos meios de comunicação em favor de sua pré-candidatura. Em 1994, antes da campanha na TV, o Plano Real já havia alavancado FHC. E, em 2010, a partir da exposição de Dilma Rousseff como a candidata do governo Lula, avaliado positivamente na época por cerca de 85% dos brasileiros, a então ex-ministra disparou nas pesquisas”, ilustra o cientista político Murilo Aragão.

É importante registrar: as redes sociais poderão ter influência muito maior nas deste ano eleições do que nas anteriores, embora a maioria dos marqueteiros e a cúpula dos partidos apostem numa “campanha analógica”. Contribuirão para isso o fato de que não houve programas eleitorais para testar os candidatos, o tempo de campanha é menor (45 dias) e a tendência do eleitor é decidir o voto na última hora, como nas eleições presidenciais de 2014 e municipais de 2016.

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Sobrou para Janaína

Deborah Fortuna

19/07/2018

 

 

ELEIÇÕES 2018 » Depois das recusas do PR e do PRP, o partido de Bolsonaro, o PSL, tenta solução interna com a advogada das manifestações do impeachment

Na ausência de alianças com outros partidos, cresce a possibilidade de que o PSL, partido do pré-candidato Jair Bolsonaro, faça uma chapa puro-sangue, ou seja, escolha um vice-presidente da própria sigla. A tendência aponta para a advogada Janaína Paschoal que, em 2016, ficou conhecida por defender arduamente o impeachment da presidente Dilma Rousseff — o que reforça o voto da sigla contra o PT.

A expectativa era de que Bolsonaro indicasse ontem o vice da chapa, mas a decisão foi adiada. Isso porque, após afirmar que escolheria o general Augusto Heleno (PRP) como vice-presidente, o partido do militar barrou a aliança. Motivo: a legenda estaria preocupada com as candidaturas nos estados. Esta não é a primeira vez que Bolsonaro é rejeitado por um partido. Favorito para vice, o senador Magno Malta (PR-ES) recusou a proposta na semana passada.

As desistências e falta de alianças levam a um só caminho: uma chapa formada apenas por integrantes do PSL. Filiada ao partido, Janaína é quem dispara como possível vice. Na conta do Twitter, a advogada disse que tem recebido ligações, mas que ainda “não há nada a informar”. O deputado federal Major Olímpio (PSL-SP), por sua vez, não descartou um acordo entre ambas as partes, caso o partido opte por alguém da própria legenda. “Quando ela se filiou ao PSL, eu a convidei para ser candidata a governadora de São Paulo, pelo seu perfil guerreira, de mulher, e pelo que ela representou para a sociedade brasileira. Se eu a convidei para ser candidata a governadora, é lógico que ela será indicação minha a vice-presidência”, afirmou.

Major Olímpio disse “estar triste” com a barreira do general Augusto Heleno, e criticou a recusa do PRP como um “erro histórico”. “Heleno declarou que está saindo do PRP, e eu faria o mesmo. Ele tem um papel fundamental dentro da formação de programa do governo, e certamente dentro do futuro governo Bolsonaro”, completou. Mas a sigla ainda não desistiu de tentar outras coalizões, antes de se decidir pela chapa. A convenção do partido está prevista para o próximo domingo, no Rio. “O Gustavo Bebianno, (presidente do PSL), outros integrantes e até Jair Bolsonaro estão dentro do campo político fazendo interlocuções para saber se haverá a possibilidade de alianças com outros partidos. A convenção é no domingo, onde deverá ser firmada a candidatura à presidência, deixando aberta a condição do vice. Isso tem como resolver até 5 de agosto”, explicou, referindo-se à data do calendário eleitoral, que estipula o término das convenções.

Na opinião do cientista político Geraldo Tadeu, a dificuldade de Bolsonaro em fazer alianças é justificada pelo perfil do ex-militar. “Ele não se caracteriza por ser flexível, maleável. Assim como também tem as questões estaduais. Tem partidos que querem priorizar as campanhas dos estados e isso dificulta”, explicou. Mas, apesar de Bolsonaro ser o pré-candidato com mais seguidores nas redes sociais, isso não será suficiente se não houver alianças que aumentem o tempo de propaganda na televisão. “As redes sociais têm tendência a falar com seu próprio público. O problema da candidatura dele é a tentativa de ampliar a audiência, e a televisão atinge outros públicos”, disse.