Correio braziliense, n. 20145, 18/07/2018. Opinião, p. 11

 

A importância da classe política

Ruy Altenfelder

18/07/2018

 

 

No Brasil, a chamada classe política é muito mal avaliada. A política é considerada atividade desabonadora para quem nela milita. Ao contrário do que acontece na maioria dos países onde ela se caracteriza por sua bem avaliada categoria ética e cultural. Uma situação dessa natureza, como adverte o saudoso mestre Miguel Reale, “põe em risco a causa democrática, pois esta tem nos políticos uma de suas bases primordiais por serem os representantes da coletividade na órbita do Estado, dos vereadores aos senadores” (Miguel Reale – Variações 3 – editora Migalhas).

Atualmente, são raros os cursos de política. Pela relevância da classe política deveriam os partidos cuidar do tema, notadamente, quando conseguem eleger número significativo de legisladores (deputados, senadores e vereadores). No Brasil, os nossos partidos políticos cuidam mais de resultados eleitorais, não de matéria relativa aos poderes do Estado.

A Constituição de 1988 não cuidou do importantíssimo tema de sistema de poder, ou seja forma de governo, de tal maneira, como frisou Miguel Reale, “que não somos parlamentaristas, nem presidencialistas, ou mesmo uma combinação inteligente desses dois regimes”. A grande conclusão é que sem classe política com um mínimo de preparo teórico, não existe regime democrático. O resultado é que temos a Câmara dos Deputados, o Senado Federal e as câmaras municipais que não legislam, não cuidam dos projetos de lei  de que o povo reclama.

É sempre bom lembrar que os princípios éticos são fundamentais para nortear as ações das pessoas num país, que se pretenda verdadeiramente democrático e justo. Não se trata de sociedade utópica, como a construída por Thomas Morus, mas de práticas perceptíveis e necessárias, porém, vergonhosamente esquecidas nos dias atuais.

Ao acompanhar o noticiário veiculado diariamente, são frequentes as vezes em que o leitor se depara com relatos de denúncias de corrupção, desmandos e abusos de autoridades em diferentes níveis e de mau uso do dinheiro público — ações essas que remetem claramente a questões de desvios éticos e morais. E, como uma praga que se dissemina, tais práticas atraem seguidores em velocidade tão impressionante quanto a propagação de novo vírus pela internet.

Os inimigos da democracia, do Estado democrático de direito, do comportamento aético, criminoso e fraudulento poderão ser afastados definitivamente da vida pública. Daí, a importância das próximas eleições: a renovação dos quadros parlamentares. O exercício da cidadania em que cidadão tem nas mãos a arma mais mais poderosa do regime democrático: o voto.

O eleitorado precisa ser bem informado a respeito da importância do seu voto: está nas suas mãos separar o joio do trigo. Renovar os quadros políticos. A mídia (televisão, rádio, jornal, revista e mídia digital) tem uma missão importante: dar informações precisas e fiéis dos candidatos, auxiliando a formação de uma autêntica classe política, na qual surgirão os grandes estadistas. Precisamos rever e renovar as instituições, reorganizar o Estado, reinventar os partidos, base direta da democracia. As nossas instituições públicas carecem de modernização. Só assim o Brasil poderá retomar a confiança, ingrediente indispensável para o desejado desenvolvimento.