Correio braziliense, n. 20104, 07/06/2018. Política, p. 2

 

A maratona do debate democrático

Simone Kafruni

07/06/2018

 

 

Onze pré-candidatos ao Palácio do Planalto se revezaram durante 12 horas de sabatina no auditório do Correio Braziliense para expor ideias e esclarecer propostas de governo, no que pode ser considerada a maior prévia da campanha eleitoral até aqui

Em uma maratona de sabatinas de 12 horas, das 9h às 21h de ontem, 11 presidenciáveis apresentaram propostas de governo, abordaram temas polêmicos e, em alguns casos, atacaram adversários, numa prévia do que será a corrida eleitoral deste ano pelo Palácio do Planalto. A quatro meses das eleições, o quadro ainda é indefinido e as candidaturas só serão oficializadas em agosto. As demandas dos brasileiros, no entanto, pouco mudaram e são conhecidas.

Assuntos como violência, educação, saúde, as reformas tributária e da Previdência, corrupção, privilégios, segurança, privatização e política econômica dominaram os debates durante o Correio Entrevista — Pré-candidatos 2018. Instigados pela equipe de jornalistas do Correio, os políticos tiveram que esclarecer projetos para ajudar a população na escolha do próximo presidente da República.

Com o patrocínio do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal (Sindifisco), 13 pré-candidatos foram convidados para o evento, que foi transmitido ao vivo pela página do Correio no Facebook e em programas da TV Brasília. Ao fim da última entrevista, os vídeos disponíveis na internet somaram meio milhão de visualizações. O eleitor Vergilio Reis, que participou on-line, elogiou a iniciativa. “É muito importante para o momento político que vivemos em nosso país. A divulgação é abrangente. Deve ficar disponível para visualizações futuras”, pediu o morador de São Paulo.

O pré-candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, prometeu medidas para resolver os problemas fiscais do país, reduzir o deficit e promover a retomada da competitividade. Disse que pretende mudar as regras de aposentadoria porque o Brasil caminha para se tornar um país velho. “Temos que mudar o jeito de fazer saúde pública”, afirmou.

O senador Álvaro Dias (Podemos), que se diz crítico da forma atual de se fazer política, defendeu uma reforma sistêmica. “É preciso um pacto social para a reformulação da República”, disse. Segundo ele, historicamente, o Brasil sempre foi governado por uma minoria que explora o esforço coletivo. Mesmo a favor de privatizações, é contra a venda da Petrobras e das estatais do setor financeiro, como o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal.

O pré-candidato do PSL, Jair Bolsonaro, sustentou que adotará medidas “radicais” para combater o problema da segurança pública no Brasil e defendeu a flexibilização do uso e porte de arma de fogo pelo cidadão comum. Bolsonaro se apresentou como um candidato honesto, que não governa na base do “toma lá dá cá”. Indagado sobre propostas para economia, no entanto, defendeu a redução do Estado e menos intervenção para não atrapalhar o seor produtivo.

Polêmico, o ex-ministro Ciro Gomes, pré-candidato do PDT, não poupou críticas às políticas públicas do atual governo e aos adversários políticos, sobretudo Bolsonaro, a quem chamou de “boçal despreparado”. “Cabe aos democratas a obrigação de extirpar esse câncer enquanto ainda pode ser extirpado”, atacou. O ex-governador do Ceará defendeu o fim de privilégios, a manutenção de estatais e a revogação da emenda constitucional que estipula o teto dos gastos. E prometeu sanear as contas públicas em dois anos.

O empresário Flávio Rocha, pré-candidato pelo PRB, garantiu que não deixou o comando da rede varejista Riachuelo para ser um coadjuvante na disputa pelo Palácio do Planalto. Ressaltou que trabalhará pelos “milhões de brasileiros que estão órfãos politicamente”. Rocha se posicionou favorável à privatização da Petrobras, Caixa Econômica Federal e Correios e defendeu um “Estado mínimo”.

Reforma

Filiado ao PSD, Guilherme Afif aposta na reforma política, na desburocratização e em menor interferência do Estado sobre as empresas para retirar o país da crise econômica e combater a corrupção. Questionado sobre a greve dos caminhoneiros, disse que a solução está na redução de impostos para evitar novas paralisações.

Descontraída, Manuela D’Ávila, pré-candidata pelo partido do PCdoB, atacou dois temas cruciais: a ineficiência do Estado brasileiro e a corrupção. Mesmo com a pressão para a unificação de uma candidatura de esquerda, garantiu ser candidata até outubro. “Existe uma insistência em dizer que a esquerda está fragmentada. Nós temos quatro candidatos. O outro lado tem 14”, ressaltou.

Marina Silva, pré-candidata pelo partido Rede Sustentabilidade, fundado por ela, se posicionou como opção de centro. “Uma alternativa à polarização que prejudicou o crescimento do país e resultou em discursos extremistas.” Marina colocou na conta da “velha estrutura” os pedidos de intervenção militar vistos em manifestações populares.

O pré-candidato pelo MDB, ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles, reforçou a necessidade da reforma da Previdência no próximo governo para evitar uma crise maior nas contas públicas. “A discussão não é se vai ser feita a reforma da Previdência no Brasil, mas quando. Porque ela é inevitável”, argumentou. O ex-ministro aposta em uma pulverização das empresas estatais, com cuidado para evitar oligopólios ou monopólios privados.

Pré-candidato pelo PSC, Paulo Rabello sustentou dois pilares em sua campanha: eficiência e simplificação. O economista e ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) prometeu estratégias incisivas para diminuir a tributação da classe média, reverter o desperdício de dinheiro público em programas obsoletos, reformular a reforma da Previdência e combater o alto preço dos combustíveis.

O controle dos gastos públicos e uma agenda liberal foram as propostas apresentadas pelo presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM), pré-candidato do partido. “Se não olharmos o lado da despesa não vamos conseguir implementar políticas públicas sérias nas três áreas fundamentais: educação, saúde, segurança”, afirmou. Maia defendeu o teto dos gastos, as reformas administrativa, tributária e da Previdência e não poupou ataques ao governo federal. “A gestão do presidente Michel Temer está desarticulada”, disse.

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O nosso leão do dia

Ana Dubeux

07/06/2018

 

 

Eleição é prato que se come quente. Com alegria e muito trabalho, o Correio Braziliense colocou a lenha para queimar e esquentar esse suculento caldo pré-campanha. Ao longo de todo o dia de ontem, 11 pré-candidatos à presidência da República estiveram no auditório do jornal para responder a perguntas de jornalistas. Foi uma maratona de sabatinas, que posso me orgulhar de dizer, deu um pontapé na cobertura da campanha presidencial.

Ouvir tantas pessoas em sequência, ainda mais postulantes ao cargo eletivo mais importante do Brasil, foi um desafio. Colocamos à prova nossa estrutura, organização, resistência, tecnologia e talento profissional para levar aos nossos leitores informação de qualidade, a saber: o que pensam, o que pretendem e como se posicionam as pessoas que disputam nosso voto e têm como missão conduzir o país a um caminho mais seguro, nobre, digno — assim esperamos.

Deu certo. Fizemos bonito, sem falsa modéstia. Por meio de uma cobertura on-line, atualizamos minuto a minuto os momentos de um dia exaustivo e histórico para nós. O nome disso é coragem de inovar. Testamos um novo formato de entrevistas e só o fizemos porque acreditamos que está no DNA do Correio a capacidade de reinvenção, de driblar fórmulas prontas e abrir caminhos novos.

Hoje, quando você abrir o jornal, terá a seu dispor um compilado de 15 páginas, praticamente a íntegra das sabatinas, um esforço hercúleo de nossa equipe — editores, repórteres, fotógrafos, diagramadores, equipe de aarte e tantos outros profissionais envolvidos na cobertura. Sem contar as outras áreas do jornal, como o comercial e o marketing, parceiros da redação neste projeto. Um projeto dessa envergadura não se faz sozinho. Nosso agradecimento especial também ao Sindifisco, que apoiou a iniciativa e participou com perguntas. O dia de ontem foi apenas o início de uma cobertura consistente das eleições. Estamos trabalhando em novos projetos para agosto, quando os nomes dos possíveis presidenciáveis forem confirmados. Todo o nosso esforço é para você, leitor e eleitor. Ajudá-lo nesta decisão é uma tarefa para nós — parte dessa missão foi cumprida ontem. Esperamos que tirem excelente  proveio da edição de hoje. Foi um prazer servi-los.