Valor econômico, v. 18, n. 4475, 04/04/2018. Política, p. A9.

 

ACM Neto vive dilema por receio de derrota na Bahia

Andrea Jubé/ Daniel Rittner 

04/04/2018

 

 

O prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), vive o maior dilema de sua carreira política nesta semana. Ele tem se mostrado inclinado a renunciar até sexta-feira para entrar na disputa pelo governo da Bahia, mas a demora em tomar uma decisão ilustra a dificuldade em definir seus próximos passos. Há forte pressão dos aliados. Um grupo de WhatsApp criado em defesa de sua candidatura, por exemplo, reúne vereadores e prefeitos de quase 90 municípios do interior do Estado.

Interlocutores frequentes de Neto apostam que ele bancará o risco. O primeiro lance do xadrez eleitoral envolve uma tentativa de filiação do vice-prefeito, Bruno Reis, ao DEM. Ele ainda está no MDB e, com a mudança de sigla, garante-se a permanência da terceira maior cidade do país nas mãos do partido. Até agora, uma candidatura a governador tem os apoios do PSDB e do PTB praticamente garantidos. Neto busca atrair MDB, PR e PV à sua chapa.

Reeleito em 2016 com 74% dos votos, maior vantagem em capitais brasileiras, o prefeito já teve caminho mais favorável para chegar ao Palácio de Ondina. O governador Rui Costa (PT), que tentará um novo mandato, parecia definhar junto com o desgaste petista causado pela Operação Lava-Jato. Mas sua popularidade em Salvador, onde se mostrava mais frágil do que no interior, melhorou em meio à agenda de inauguração de obras de infraestrutura. O destaque foi a abertura da linha 2 do metrô, com 12 estações, em um contrato de parceria público-privada (PPP) com o grupo CCR que é considerado modelo no setor de mobilidade.

Um experiente político baiano em Brasília define a situação de Neto da seguinte forma: tanto se falou sobre a inevitabilidade de sua candidatura que se o prefeito desistir agora, mesmo diante do risco real de derrota para o PT, carregará a fama de "amarelão". Para um membro da família Magalhães, diz essa liderança, isso é pior do que ficar sem mandato.

Diante da complexidade do cenário, parte de seus interlocutores defende um plano C, que desponta como alternativa às hipóteses de ficar na prefeitura ou disputar o governo. Partindo da premissa de que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), não se sustentará na corrida ao Palácio do Planalto, querem emplacar o nome de Neto como vice da chapa encabeçada por Geraldo Alckmin (PSDB). "Ele tem mais votos e mais traquejo do que Maia ou do que o Mendonça Filho [ministro da Educação e também de saída do governo federal]", diz um amigo, que pede anonimato.

Um antigo integrante da bancada carlista no Congresso Nacional, o deputado José Carlos Aleluia (DEM-BA) conversou com o prefeito dias atrás e acredita em sua decisão de sair para o governo estadual. "O Rui Costa vem forte, sim, mas tenho quatro pesquisas em mãos que colocam o Neto na frente", afirma Aleluia.

O líder do PR na Câmara, deputado José Rocha (BA), chama atenção para a necessidade de mais composições. "Ele é um ótimo político, tem uma história familiar de grandes serviços prestados à Bahia e ao Brasil, mas precisa de tempo de televisão para uma disputa mais equilibrada", avalia Rocha. "Bater o PT nas eleições de outubro não será fácil."

A relação mais delicada é com o MDB, que se desintegrou no Estado após a prisão de seu principal líder, o ex-ministro Geddel Vieira Lima, flagrado com a posse de dezenas de malas de dinheiro no valor total de R$ 51 milhões. O DEM cobiça o fundo partidário e o tempo de televisão do MDB, mas não gostaria de ter em seu palanque o irmão de Geddel, o deputado Lúcio Vieira Lima, que mantém o controle da sigla no Estado e será candidato à reeleição. Lúcio também aparece como investigado no inquérito relativo a Geddel em curso no Supremo Tribunal Federal.

Neto nega, mas o MDB atribui ao prefeito a publicação de notas na imprensa de que Lúcio trocaria o partido por uma sigla nanica, possivelmente o PHS, para permitir a aliança e poupar o demista de constrangimentos na eleição.

Ao Valor, Lúcio disse que está conversando com Neto e acredita nas negativas do prefeito sobre a pressão por sua saída do MDB. "Ele não me pediria isso, é só fofoca de imprensa", diz o deputado. "Não tem lógica eu sair do MDB, meu único partido há 25 anos. Nunca vi alguém sair de casa para morar em um orfanato; o normal é sair do orfanato e mudar para uma casa."

Na tentativa de animar Neto, amigos lembram um episódio vivido pelo senador Jader Barbalho (MDB-PA) há exatamente duas décadas. Rival histórico do velho Antonio Carlos Magalhães, morto em 2007, Jader era pressionado por seu grupo político a concorrer para o governo do Pará contra o tucano Almir Gabriel.

Em 1998, Almir tentava a reeleição com os cofres públicos cheios pela venda da distribuidora de energia Celpa. Prometeu ao adversário cargos no governo, indicações no tribunal de contas e nomeações de secretários caso ele desistisse. Jader seguiu em frente, mesmo com derrota cantada, e sempre terminava dizendo: "Às vezes você ganha perdendo, às vezes perde ganhando".