Valor econômico, v. 18, n. 4485, 18/04/2018. Política, p. A8.

 

Candidatura de Joaquim Barbosa enfrenta resistências dentro do PSB

Marina Falcão

18/04/2018

 

 

A candidatura do ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa pelo PSB ainda encontra resistências dentro do partido. Ao Valor, o governador da Paraíba, Ricardo Coutinho (PSB) revelou que ainda não está convencido de que a candidatura do ministro seja a melhor opção para o PSB. "Ainda não disponho de elementos para avaliar uma candidatura do ministro. Precisamos de reuniões para nos aproximar e o tempo é exíguo", afirmou o governador.

O governador disse que não ficou surpreso com o desempenho de Barbosa na última pesquisa Datafolha, em que o ex-ministro apareceu com 10% das intenções de voto. "Ele tem um certo carisma, embora isso não tenha vindo da política", disse. "Qualquer que seja a solução, ela não será dada pela negação da política, pela ideia de que a política não resolve nada", diz.

Até então, Coutinho vinha defendendo uma "frente democrática de centro-esquerda". O objetivo principal, disse, é conseguir uma candidatura de fôlego no médio e longo prazo para enfrentar um "surto de expressões fascistas na política nacional" e planejar um futuro. "O que há hoje é uma festa orgástica midiática com muita intolerância e muito ódio".

Juntamente com o governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB), Coutinho fez parte do grupo de governadores nordestinos que foram à Curitiba prestar solidariedade ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, na semana passada.

Coutinho também declarou que não vê "nenhuma possibilidade" de uma chapa presidencial com Geraldo Alckmin (PSDB) e Barbosa, como sugeriu o governador de São Paulo, Márcio França (PSB). "Essa tese de união com o PSDB já perdeu. É preciso que fiquem claras as divergências de projetos que se têm na política, senão acabamos praticando estelionato eleitoral", afirmou.

Por parte da ala pernambucana do PSB, liderada pelo governador Paulo Câmara, também há cautela. Câmara busca uma aliança com o PT para fortalecer sua candidatura à reeleição, evitando o enfrentamento da candidatura da vereadora Marília Arraes (PT). Para isso, o PSB precisaria estar alinhado com PT na eleição nacional.

O deputado Tadeu Alencar (PSB-PE) diz que não há uma "resistência específica ao nome de Barbosa", mas uma "cautela" por parte dos governadores do partido que já costuravam alianças locais. "Isso é natural, a candidatura precisa ser amadurecida, embora tenha mostrado envergadura nas pesquisas", diz.

O parlamentar pondera que uma eventual candidatura de Barbosa não deve necessariamente atrapalhar uma aliança entre PSB e PT em Pernambuco, porque não seria uma postulação contra Lula. "Pelo contrário. A ideia é que seja uma candidatura que aglutine forças contra a onda conservadora e que esteja no segundo turno", diz o deputado, que não descarta a possibilidade de aliança com o PT já no primeiro turno. "Isso vamos ver mais para frente", disse.

Procurado, Câmara não quis dar declarações sobre Joaquim Barbosa. Sua equipe afirmou que o governador fez um convite para que o ex-ministro venha à Pernambuco.

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PPS abre espaço para movimentos de renovação e estuda mudar de nome

César Felício/ Ricardo Mendonça

18/04/2018

 

 

Vinte e seis anos após a fundação do Partido Popular Socialista (PPS), oriundo do antigo Partido Comunista Brasileiro ou "Partidão" (PCB), a legenda comandada pelo atual suplente de deputado federal Roberto Freire (SP) deve trocar de nome. O político aceitou a sugestão de novos dirigentes militantes de movimentos que pregam renovação e autorizou a realização de estudos para criação de uma marca partidária.

"O diretório ficou de definir em reunião que vamos convocar em breve. Depois da troca de nome que fizemos em 1992, que mexia com a história das pessoas, mudar de novo agora não tem problema", afirmou. A sigla recebeu a filiação de diversos integrantes de movimentos como o Agora!, Renova BR, Livres e Acredito. Grande parte deles orbitava em torno do apresentador Luciano Huck, que foi cogitado como candidato a presidente, mas desistiu de concorrer e não se filiou este ano.

"Nós temos motivo para mudar de novo, porque o partido mudou com estas filiações. Estamos nos aproximando do modelo da Alemanha, onde governa uma coalizão de democratas-cristãos, liberais e sociais-democratas. Só que a gente repete isso no microcosmo de uma sigla", afirmou.

Os envolvidos preferem não citar as sugestões de nomes em análise. Um que tem sido mencionado em conversas informais é Movimento 23, em alusão ao número eleitoral. Freire afirma que, caso haja concordância no diretório nacional, é possível fazer a mudança até junho, a tempo de ser usado nas campanhas deste ano.

Um dos entusiastas da ideia é o economista Humberto Laudares, recém-filiado, integrante do movimento Agora!. Ligado a Luciano Huck e bolsista do RenovaBR (que financia a formação de jovens interessados em exercer influência na política), ele é pré-candidato a deputado federal em São Paulo. A sugestão de aposentar a sigla PPS foi feita por meio de uma carta à direção partidária, assinada em conjunto com representantes de outros dois movimentos, o Livres e o Acredito.

"O nome do PPS não diz muito para os movimentos. Popular Socialista não combina nem com os posicionamentos do partido no Congresso", diz ele. "A ideia é ouvir profissionais que possam trazer sugestões de nomes que tenham mais identidade com os movimentos que estão ingressando no partido."

Quatro representantes de movimentos pró-renovação ganharam assento no Diretório Nacional do PPS, formado por 90 filiados. Laudares, um deles, também ganhou posição na Executiva do partido, que reúne 30 dirigentes.

Ele demonstra entusiasmo com a missão: "Há uma crise de descrédito muito grande com os partidos e a política. O PPS reconhece essa crise e está se mostrando aberto a pensar como deve ser o partido do futuro. Com mais participação, mais engajamento. Os partidos grandes não abriram nenhuma porta para renovação".

Embora patrocine o ingresso de novos nomes no PPS, Freire é o mais longevo comandante de partido político relevante no país. A última troca de presidente foi em 1991, quando a sigla ainda se chamava PCB. Laudares reconhece a contradição, mas louva o que chama de disposição do PPS em começar a agir diferente. "O PPS não é diferente dos outros, quase todos até hoje controlados por grupos que lideraram a redemocratização. Ele [Freire] tem honrado tudo o que a gente combinou. Vai ter democracia interna? Vamos ver. É uma construção em conjunto."