Título: Duelo clássico
Autor: Queiroz, Sílvio
Fonte: Correio Braziliense, 22/04/2012, Mundo, p. 24

De um lado, o grito de guerra é de que a batalha não está ganha. Do outro, o lema é que nada ainda está perdido. O socialista François Hollande chega hoje ao primeiro turno da eleição presidencial francesa não apenas em vantagem nas pesquisas, mas como favorito absoluto para vencer com folga o tira-teima, daqui a dois domingos, e desalojar do Palácio do Eliseu o direitista Nicolas Sarkozy. Depois de uma alternância de posições, na virada de março para abril, as últimas pesquisas convergiram para um retrato claro das preferências: Hollande firmou-se em torno de 30% das intenções de voto, enquanto Sarkozy caiu para um patamar próximo aos 25%. Para o segundo turno, em 6 de maio, o candidato de esquerda oscila entre 55% e 58% das preferências, contra 42% a 45% para o atual presidente.

No patamar dos 15%, Marine Le Pen (Frente Nacional, extrema direita) e Jean-Luc Mélenchon (Frente de Esquerda) travam uma disputa à parte pelo terceiro lugar, de olho principalmente nas eleições legislativas de junho e na balança do poder sob um provável governo encabeçado pelo Partido Socialista. Os institutos divergem de maneira mais contundente nas expectativas sobre a taxa de abstenção, ao fim de uma campanha em que apenas Le Pen e Mélenchon conseguiram despertar algum interesse dos eleitores. Pesquisas do TNS-Sofres e do BVA indicam, respectivamente, que 21% e 24% dos 45 milhões de inscritos deixarão de votar. O Ifop projetou 32%, superior até ao recorde histórico de 27%, registrado em 2002 — que permitiu a Jean-Marie Le Pen, pai de Marine, superar o socialista Lionel Jospin e levar a FN pela primeira vez ao segundo turno. Em 2007, a abstenção caiu para 17%.

"Saiam em massa no domingo para depositar a sua cédula, porque cada cédula construirá a nossa vitória", convocou Sarkozy em seu último ato público de campanha, em Nice, na noite de sexta-feira. Depois de meses em que sua equipe se dividiu entre uma estratégia mais agressiva à direita e uma abertura para o centro, com queixas nos bastidores sobre a ausência de propostas claras para um país em crise e uma sociedade inquieta, o presidente depositou as esperanças de reeleição naquilo que a direita clássica chama, desde 1968, de "maioria silenciosa". E apelou justamente ao engajamento dos "franceses comuns": "Unam-se, mobilizem-se, defendam-se, tomem a palavra, imponham a sua vitória".

Ministério

Ao contrário do rival direitista, que encerrou a campanha oficial na região onde foi mais bem votado há cinco anos, Hollande fez sua aparição final na região de Champagne-Ardenne, que ele próprio admitiu tratar-se de território "pouco favorável" à esquerda. "Vim aqui para conquistar, não para ser recebido em triunfo e aplaudido", discursou o candidato socialista, que repetiu com insistência, nos últimos comícios, o alerta de que "nada está garantido". "É nas horas finais que o voto se decide, é como um milagre da democracia", insistiu, abandonando o tom racional e professoral que faz dele um orador pouco empolgante.

Se no palanque o lema é evitar o salto alto, nos bastidores do Partido Socialista já começaram as especulações e as articulações para a composição de um governo sobre o qual uma das poucas certezas é que terá à frente um político do partido. "Alguns tantos já começaram até a montar equipe de ministério e a escolher os diretores de administração", confidenciou ao jornal Le Monde, sem esconder o incômodo, um integrante do alto comando de campanha. O próprio Hollande, porém, já sinalizou que, caso as projeções se confirmem, o primeiro-ministro sairá do PS, e um auxiliar mais próximo ao candidato arriscou uma lista daqueles que chamou de "incontornáveis": Martine Aubry, primeira-secretária do PS, derrotada por Hollande nas primárias; Jean-Marc Ayrault, conselheiro do candidato e líder da bancada na Assembleia Nacional; e Laurent Fabius, ex-premiê (1984-1986) e expoente da ala esquerda do partido.

É nas horas finais que o voto se decide, é como um milagre da democracia"

François Hollande, candidato doPartido Socialista

Saiam em massa no domingo, porque cada cédula construirá a nossa vitória"

Nicolas Sarkozy, presidente e candidato à reeleição