O Estado de São Paulo, n. 45446, 22/03/2018. Economia, p. B1

 

Falha no linhão de Belo Monte deixa 70 milhões sem luz em 13 Estados

André Borges e Renata Batista

22/03/2018

 

 

Apagão. Linha de transmissão inaugurada em dezembro, e que custou R$ 5 bilhões, teve seus circuitos desligados por um erro técnico, prejudicando principalmente as regiões Norte e Nordeste; população ficou sem energia por pelo menos três horas ontem

Uma falha técnica na linha de transmissão da hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, deixou no escuro, por pelo menos três horas, 70 milhões de pessoas de nove Estados do Nordeste e de outros quatro da região Norte, de acordo com o Operador do Sistema Elétrico (ONS).

“Tivemos praticamente um colapso na região Nordeste”, disse o diretor-geral do ONS, Luiz Eduardo Barata. Ele deu prazo de até 15 dias para análise das causas da falha no disjuntor. Às 20h de ontem, 100% da energia estava restabelecida no Norte e 70% no Nordeste.

Houve paralisações também em cidades das regiões Sul e Sudeste. O efeito dominó na queda de energia ocorre porque a rede de Belo Monte está conectada ao Sistema Interligado Nacional (SIN), que conecta todos os Estados do País, com exceção de Roraima, o único que está fora dessa rede. O desligamento chegou a retirar 18 mil megawatts (MW) do sistema, volume equivalente a 22,5% da carga total do País consumida no momento do blecaute.

O motivo do corte está relacionado a um erro técnico ocorrido em um componente da linha de transmissão construída e operada pela concessionária Belo Monte Transmissora de Energia (BMTE). A queda ocorreu por conta de erro na calibração do disjuntor, equipamento que faz o controle automático da energia que passa pela subestação de energia de Belo Monte, no Pará. O componente estava calibrado para receber até 3.700 megawatts (MW) de potência, em vez de mais de 4 mil MW, como deveria. Ontem à tarde, quando a transmissão atingiu esse volume limite, o disjuntor simplesmente caiu, paralisando todo o resto da rede.

Improviso. A falha aconteceu justamente em uma parte da estrutura que a BMTE assumiu da espanhola Abengoa, empresa que faliu sem executar nenhuma obra no local. Para evitar que Belo Monte atrasasse a entrega de sua energia, a concessionária BMTE foi chamada pelo governo para assumir as obras que a Abengoa não fez e que estavam previstas para serem entregues em fevereiro deste ano. O governo também pediu que o cronograma fosse antecipado em dois meses, levando a concessionária a fazer ligações provisórias na subestação Xingu.

O linhão de 2,1 mil km de Belo Monte entrou em atividade no dia 13 de dezembro do ano passado. A linha de transmissão, que custou cerca de R$ 5 bilhões, tem início no município de Anapu, no Pará, a 17 km de distância da usina, e corta 65 municípios de quatro Estados – Pará, Tocantins, Goiás e Minas Gerais –, até chegar ao município de Estreito, na divisa de Minas e São Paulo.

A empresa Norte Energia, que é dona da usina e não tem relação com a linha de transmissão, informou que o apagão não teve origem na hidrelétrica e que “a usina também foi afetada pela falha ocorrida”.

No mês passado, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) já tinha apurado uma série de pendências de segurança nos projetos de transmissão que pertencem à Norte Energia, na rede que liga a usina até a subestação Xingu, para se conectar à linha principal da BMTE.

Levantamento de fevereiro da agência apontou que a Norte Energia descumpriu 23 medidas técnicas de segurança que têm o propósito de evitar desligamentos de suas operações. O não atendimento às exigências levou a agência a notificar a concessionária para alertar que a não adoção das medidas poderia resultar em novos “desligamentos”.

Por meio de nota, a BMTE confirmou as falhas na linha.