Delator que citou propina visitou a Dersa

 Fabio Serapião

 

 

Ex-executivo da Odebrecht esteve 10 vezes na estatal paulista quando Paulo Vieira de Souza, apontado como operador do PSDB, era diretor

 

 

O ex-diretor de Infraestrutura da Odebrecht em São Paulo Carlos Armando Paschoal esteve na Dersa em dez ocasiões, entre 2008 e 2010, período em que Paulo Vieira de Souza era diretor de engenharia da estatal. Ligado ao PSDB paulista, Vieira de Souza é apontado em delações de ex-executivos da Odebrecht e da OAS e do operador Adir Assad como destinatário de propinas provenientes de contratos de obras viárias em São Paulo.

As informações sobre as visitas de Paschoal à Dersa foram anexadas pela própria defesa de Vieira de Souza e citadas por ele em depoimento no inquérito no Supremo Tribunal Federal que investiga o suposto repasse de propina para a campanha do atual ministro de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Gilberto Kassab, à Prefeitura de São Paulo em 2008.

Os repasses, segundo o delator, teriam ligação com obras viárias, entre elas o túnel Roberto Marinho, executadas por meio de um convênio entre a Prefeitura e a estatal ligada ao governo paulista. Embora tenha confirmado, em depoimento à Polícia Federal, a informação da Dersa sobre as dez visitas, Vieira de Souza apontou ter se reunido somente três ou quatro vezes com Paschoal.

Uma das dez visitas registradas pela estatal foi em 2008, ano em que Paschoal diz em sua delação ter se reunido com Vieira de Souza para tratar do pagamento de propina. Segundo a Dersa, a visita foi em 25 de novembro daquele ano.

“A empresa não pode afirmar com quem o sr. Carlos Armando Paschoal se reuniu, mas os registros de controle de acesso indicam que o mesmo se dirigiu ao 10.º andar onde estavam localizados os gabinetes dos diretores da Dersa”, diz resposta dada ao questionamento enviado por Vieira de Souza via Lei de Acesso à Informação. Ao todo, a estatal informou uma visita em 2008, sete em 2009 e outras duas em 2010.

Em delação, Paschoal afirmou ter sido chamado para a reunião em 2008 pelo o ex-diretor da Dersa. Na versão do delator, Vieira de Souza teria informado que as empresas a serem contratadas teriam de pagar porcentual de 5% sobre os valores gastos pela estatal nas obras. Esses valores, disse o delator, teriam como destino “futuras campanhas políticas”.

 

‘Adiantamento’. Na mesma reunião, relatou Paschoal, Vieira de Souza teria solicitado um adiantamento de propina, chamada de “abadá”, de R$ 2 milhões para a campanha de Kassab à Prefeitura. O pagamento não teria sido efetuado porque a Odebrecht já teria acertado o repasse de valores via caixa 2 para a campanha do então prefeito, candidato à reeleição.

“Kassab tinha ciência dos termos acertados por Vieira de Souza no ano de 2008 para direcionamento das obras, tendo culminado com a entrega dos lotes para as empresas que compunham o grupo selecionado por Vieira de Souza naquela ocasião”, afirmou Paschoal à PF em junho do ano passado.

Outro delator da Odebrecht, o ex-superintendente da empreiteira em São Paulo Roberto Cumplido, também em depoimento à PF, confirmou a versão de Paschoal sobre o encontro e a solicitação de pagamento indevido em troca de contratos.

Cumplido disse não se recordar do valor solicitado por Vieira de Souza, mas que “chamou atenção” a necessidade de pagamento antecipado. “O que ficou conhecido como pagamento abadá, ou seja, paga-se antes para ganhar depois”.

 

Suíça. Em outro inquérito no Supremo, a defesa de Vieira de Souza já havia anexado informações que, em tese, expõem o exdiretor da Dersa. Ao solicitar ao ministro Gilmar Mendes – relator do inquérito envolvendo o senador José Serra (PSDB-SP) – o envio de uma investigação de São Paulo para o STF, os advogados

do ex-diretor da Dersa informaram que o Ministério Público Federal recebeu informações sobre contas em nome dele na Suíça. No material anexado pela defesa estava uma decisão da juíza da 5.ª Vara Criminal Federal de São Paulo, Maria Isabel do Prado, que revelou a manutenção de R$ 113 milhões pelo ex-diretor em quatro contas no banco Bordier e Cie.

 

Cargo

Paulo Vieira de Souza foi diretor da Dersa entre 2007 e 2010; em depoimento à Polícia Federal, ele negou as acusações de delator da Odebrecht

 

OS COLABORADORES

Benedicto Jr. (Odebrecht)

Disse que Vieira de Souza pediu propina de 0,75% sobre obra.

 

Carlos A. Paschoal (Odebrecht)

Relatou que Vieira de Souza cobrou R$ 2 mi para campanha política

 

Adir Assad (operador)

Relatou repasse de R$ 100 milhões a Vieira de Souza

 

Carlos Lemos (OAS)

Afirmou que OAS usou Assad para fazer repasse a Vieira de Souza

 

Registros. Controle de acesso da portaria da Dersa