O globo, n. 30948, 01/05/2018. País, p. 7

 

Inquérito não mudou planos de viagem, diz Planalto

Adriana Memdes e Catarina Alencastro

01/05/2018

 

 

Ida à Ásia foi cancelada dias após PF pedir mais prazo para investigação

-BRASÍLIA- Depois de ter desistido de viagem que faria a quatro países do Sudeste Asiático, o presidente Michel Temer negou ontem, em nota divulgada pela Secretaria de Comunicação da Presidência da República, ter cancelado os compromissos devido às investigações do inquérito que apura supostas irregularidades em um decreto assinado por ele sobre regras para o setor portuário.

Apesar da negativa, o cancelamento da viagem para a Ásia, para a qual já havia sido mobilizada equipe, foi decidido dois dias depois de a Polícia Federal anunciar prorrogação por 60 dias do inquérito que investiga o presidente e aliados dele. Uma das filhas de Temer, Maristela Temer terá de depor amanhã à polícia sobre o caso.

“O inquérito que inclui acusações contra o presidente tem 150 dias e pedido de prorrogação de mais 60, não sendo causa urgente que justifique mudança de agenda. Somente pessoas desinformadas sobre tal circunstância espalhariam versão tão inverossímil”, diz a nota da Presidência.

 

“PREJUDICARIA VOTAÇÕES”

O texto não cita o depoimento de Maristela Temer e diz que a mudança nos planos se deu “unicamente” porque, tendo em vista o calendário eleitoral, os presidentes da Câmara e do Senado seriam obrigados a também deixarem o país simultaneamente, “prejudicando votações importantes” no Congresso. Candidatos, os presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e do Senado, Eunício Oliveira, teriam que viajar para não assumir a Presidência na ausência de Temer, o que os deixaria inelegíveis.

No último dia 13, Temer desembarcou em Lima para participar da Cúpula das Américas. Na ocasião, Maia viajou para o Panamá, e Eunício, para o Japão. O comando do país foi transmitido, então, à presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Cármen Lúcia. Caso mantivesse a viagem à Ásia, Temer iria fazer, entre 6 e 14 de maio, um tour por Cingapura, Tailândia, Indonésia e Vietnã.

Outro motivo alegado foi o interesse do governo em votar e sancionar antes do dia 8 um projeto de lei que permite a liberação de R$ 1,16 bilhão no Orçamento do Fundo Garantidor de Exportações (FGE) para cobrir calote da Venezuela e de Moçambique ao Brasil. Embora tenha sido esta a justificativa oficial do Planalto, a Câmara tem enfrentado dificuldades em votar pautas este ano devido ao calendário eleitoral.