O globo, n. 30934, 17/04/2018. Rio, p. 7

 

Caso Marielle: Investigação aponta para milicianos

Pedro Zuazo

17/04/2018

 

 

Afirmação é do ministro da Segurança, Raul Jungmann, que chamou especialista em digitais formado nos EUA

O ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, afirmou ontem que a principal linha de investigação da Polícia Civil sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes aponta para o envolvimento de milicianos. Durante um evento da superintendência da Polícia Rodoviária Federal (PRF) no Rio, ele classificou o crime como “um caso raro”, e explicou que a falta de relatos de ameaças contra Marielle dificultam sua elucidação.

Oito equipes da Divisão de Homicídios da Polícia Civil apuram o crime, praticado no dia 14 de março no Estácio. Na semana passada, o “RJ TV”, da Rede Globo, mostrou que câmeras de trânsito filmaram o carro usado pelos assassinos, um Cobalt prata com a placa clonada, passando pela Estrada da Barra, na altura do Itanhangá, e pela Tijuca poucas horas antes do ataque. Uma das linhas de investigação tem como foco uma milícia da Zona Oeste.

— As investigações avançam e, como eu disse anteriormente, estão partindo de um grande conjunto de hipóteses que têm se afunilado. Uma das possibilidades que tem crescido é de que o crime seja ligado a milicianos. É bom lembrar que a morte de Marielle é um caso raro, porque não se identificou até aqui nenhum testemunho de ameaças que teriam sido feitas a ela. Isso deixa as investigações praticamente no âmbito da materialidade. As provas são mais materiais do que testemunhais. Ainda assim, as investigações avançam — afirmou Jungmann.

Em entrevista à rádio CBN, o ministro ressaltou que a vereadora fazia “uma ponte” entre o o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL), presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa e o chefe da Polícia Civil, delegado Rivaldo Barbosa. Essa intermediação teria começado quando ela ainda não era vereadora, na época em que o parlamentar coordenava a CPI das Milícias e o policial estava à frente da Divisão de Homicídios.

Jungmann também lembrou que os assassinatos do pedreiro Amarildo de Souza, em 2013, e da juíza Patrícia Acioli, em 2011, levaram mais de um mês para serem elucidados. Nos dois casos, PMs foram apontados como autores.

De acordo com o ministro, a Polícia Federal colocou à disposição da Divisão de Homicídios da Polícia Civil um PhD em ciência forense formado nos Estados Unidos, que é especialista na identificação de digitais. Marcas de dedos encontradas numa das balas disparadas no assassinato podem ser a chave para o sucesso da investigação.

— Ainda que as cápsulas possam não apresentar a totalidade dos pontos necessários para a identificação da digital, acredito que há traços suficientes para uma identificação aproximada — disse Jungmann.

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Procuradoria na Paraíba vai investigar munição

Antônio Werneck

17/04/2018

 

 

Projéteis de lote desviado também foram usados em assalto no estado

 

O uso em crimes de munição especial desviada do lote UZZ 18 — usadas na execução da vereadora Marielle Franco e de seu motorista, Anderson Gomes, no dia 14 de março — passou a ser investigado pelo procurador da República Antônio Edílio Magalhães Teixeira, do Ministério Público Federal da Paraíba. O foco é identificar falhas no controle de projéteis de uso restrito das forças de segurança e de defesa do país. Ele decidiu instaurar um procedimento na semana passada depois de confirmar, com a Polícia Federal, que a mesma munição usada no crime ocorrido no Rio também havia sido recolhida por peritos que atuaram na investigação de um assalto na agência dos Correios no município de Serra Branca, em Cariri, na Paraíba, a 230Km da capital João Pessoa.

— O assunto tem importância singular. Não só para nós aqui, na Paraíba, como para todo o país. O que sabemos até agora é que a munição de uso restrito, vendida para agentes do estado, foi usada no assassinato da vereadora Marielle e de seu motorista; no assalto na Paraíba; numa chacina na Grande São Paulo e em homicídios na Região Metropolitana do Rio — afirmou o procurador da República.

Pedidos de informações já foram feitos à Diretoria de Fiscalização de Produtos Controlados, do Exército; à Companhia Brasileira de Cartuchos (CBC); e à Superintendência da Polícia Federal na Paraíba. O prazo para as respostas é de 10 dias a contar da data do recebimento dos ofícios pelos órgãos.