O globo, n. 30929, 12/04/2018. País, p. 8

 

Jaques Wagner defende candidato único da esquerda

Sérgio Roxo e Gustavo Schmitt

12/04/2018

 

 

Para ex-ministro, sem Lula, nome não seria necessariamente do PT

-CURITIBA- Cotado como plano B do PT, o ex-ministro Jaques Wagner defende que a legenda se junte a uma frente de partidos “progressistas” com um candidato único, caso Lula seja impedido de concorrer à Presidência da República. Nesse cenário, o nome para encabeçar a chapa não seria necessariamente um petista, e a escolha só ocorreria às véspera do prazo legal, em agosto, depois da consolidação de um programa de governo comum. Wagner tenta convencer a direção do PT a aderir à ideia, mas enfrenta forte resistência.

— Em todas as conversas com a direção do partido, tenho dito que não é hora de discutir nomes. É hora de discutir plataforma que unifique o campo progressista. É isso que vai dar força para a gente. O nome é uma consequência da força dessa plataforma — disse o ex-governador, ao visitar ontem o acampamento montado por apoiadores de Lula, na frente da sede da Superintendência da Polícia Federal no Paraná, onde o ex-presidente está preso.

De acordo com Wagner, se o ex-presidente Lula puder ser candidato, ele encabeçaria a frente:

— Se o Lula sair, é inevitável que ele centralize a maioria desse campo.

Inicialmente, Wagner disse que falar em plano B é trabalhar para “os adversários e concordar com a interdição de Lula”. Mas, em seguida, ele traçou um panorama sobre o cenário em que o expresidente seria impedido de concorrer por causa da Lei da Ficha Limpa. Para ele, nesse caso, o PT não pode ter a pretensão de obrigatoriamente encabeçar o bloco de aliados.

— Sou daqueles que defende que se você tem uma frente, não pode dizer que só eu tenho direito de puxar essa frente.

O governador da Bahia, Rui Costa, aliado de Wagner, já havia afirmado, antes da prisão de Lula, que o PT deve cogitar um candidato de outro partido se o ex-presidente for impedido de concorrer. Reservadamente, outras lideranças também reconhecem que esse seria um caminho a ser discutido, mas a posição é minoritária entre os caciques petistas.

— Estive com o Jaques Wagner e a posição dele é a mesma do partido, de reafirmação da candidatura de Lula — minimizou Márcio Macedo, um dos vice-presidentes do PT, depois de divulgada as declarações do ex-ministro.

Outro nome cotado como plano B do PT, o ex-prefeito Fernando Haddad, ao visitar ontem o acampamento, também aderiu ao discurso oficial de defesa da candidatura de Lula.

— O PT só aposta no presidente Lula. Não há outra discussão no partido — disse Haddad, que, nas últimas semanas, se consolidou como principal alternativa ao ex-presidente na legenda, apesar de ainda enfrentar resistências.

Jaques Wagner citou os pré-candidatos Manuela D’Ávila (PCdoB), Guilherme Boulos (PSOL) e Ciro Gomes (PDT) como possíveis cabeças da chapa da frente progressista:

— A escolha do nome vai depender de uma conjuntura que ninguém consegue traçar hoje.

Apesar da declaração do ex-ministro, petistas reconhecem que dos três, o único nome com experiência para liderar uma chapa competitiva é Ciro. O problema é que a postura do pré-candidato do PDT no episódio da prisão de Lula tem provocado perplexidade. Ele não foi ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC nos dois dias em que o ex-presidente ficou no local, na semana passada, e não esteve em Curitiba, como já fizeram Manuela e Boulos.

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Uma nova identidade parlamentar

Igor Mello, Bruno Góes e Adriana Mendes

12/03/2018

 

 

Petistas adicionam Lula a seus nomes; oposição adota Moro

Em protesto contra a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, petistas estão adicionando a palavra “Lula” aos seus nomes parlamentares oficiais. Ao menos 22 deputados federais do PT já aderiram ao movimento, segundo o líder do partido na Câmara, Paulo Pimenta (PT-RS). Mas já há opositores querendo usar a mesma estratégia, adotando o nome “Moro”, em referência ao juiz Sergio Moro.

Perguntado sobre a pretensão manifestada por deputados do PT e de outros partidos, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), respondeu:

— Não vou perder meu tempo com isso, não.

A presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR), postou no Twitter o ofício encaminhado ao presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), pedindo a alteração de seu nome parlamentar para Gleisi Lula Hoffmann. O mesmo foi feito pelo senador Lindbergh Farias (PT-RJ), que já adicionou o nome Lula ao seu perfil no Twitter. Segundo Pimenta, a iniciativa surgiu de uma reunião da bancada.

— Foi uma sugestão do deputado Leo de Brito (PT-AC), que foi acatada pela bancada — contou, ressalvando que a decisão de adicionar o nome de Lula é individual, sem imposição do partido.

A ideia é que o nome de Lula apareça nos painéis da Câmara e do Senado. Segundo a liderança do PT na Câmara, o pedido de mudança deve ser feito por toda a bancada, que conta atualmente com 60 parlamentares.

Para o deputado Carlos Zarattini (PT-SP), um dos que já aderiram à ideia, usar o nome de Lula é uma questão de “solidariedade”:

— A nossa decisão foi para prestar apoio a Lula. Vamos divulgar essa solidariedade que temos por ele.

Os parlamentares protocolaram ofícios na Mesa Diretora da Câmara para solicitar a mudança nos nomes. Segundo a interpretação de Paulo Pimenta, a alteração seria automática caso o novo nome tenha até 18 caracteres.

Já o deputado Sóstenes Cavalcante (PSD-RJ) protocolou pedido parar incluir “Moro” no nome parlamentar.

— Foi a forma que encontrei para protestar contra aqueles que querem incorporar o nome de um criminoso — disse Cavalcante.

No Senado, José Medeiros (Pode-MT) também demonstrou a mesma intenção:

— Se é para dividir lado, entre o presidiário e o juiz, eu prefiro ficar do lado do juiz. Peço que meu nome seja mudado para José Moro Medeiros.

Já o deputado Capitão Augusto (PR-SP) solicitou a mudança para “Capitão Augusto Bolsonaro”. O ofício também já foi enviado ao presidente da Câmara.

A estratégia petista gerou reação até na Câmara de Vereadores de Porto Alegre. O vereador Felipe Camozzato (Novo) alterou o nome que aparece no placar legislativo para “Felipe Lava Jato”. Em suas contas nas redes sociais, o parlamentar disse que tomaria a atitude por um dia.