Correio braziliense, n. 20093, 27/05/2018. Política, p. 4

 

Ação emergencial em 15 aeroportos

Ingrid Soares e Hamilton Ferrari

27/05/2018

 

 

No JK, 58 voos foram cancelados e 21 tiveram atraso no sexto dia do protesto dos caminhoneiros, que impediu o reabastecimento de querosene de aviação nos terminais

Apesar do acordo entre governo federal e caminhoneiros, os manifestantes resistem a interromper as paralisações. Mesmo o ministro do gabinete da Segurança Institucional, Sérgio Etchegoyen, garantindo que a situação começa a se normalizar, pelo menos 15 aeroportos do país estão com os serviços prejudicados, principalmente o de Brasília. No 6º dia de protestos, o Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek cancelou 58 voos e outros 21 registraram atraso.

O terminal passou a manhã de ontem sem receber combustível. À tarde, 10 veículos escoltados pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) chegaram com cerca de 240 mil litros de Querosene de Aviação (QAV) para ajudar no abastecimento de parte da frota. A quantidade ainda é insuficiente e, como medida contingencial, o aeroporto permite apenas o pouso de aeronaves com combustível capaz de realizar um novo trajeto completo, uma vez que não tem sido possível reabastecê-las no JK. A recomendação das empresas aéreas é de que os passageiros verifiquem a situação dos voos antes de irem ao aeroporto.

Os terminais ainda não têm previsão para normalização. Em Brasília, o diretor de Operações da Inframerica, Ruan Djedjeian, afirma que a situação dependerá do fluxo de caminhões que forem liberados. “Normalmente temos 20 caminhões por dia para abastecer a frota. Nos últimos cinco dias, recebemos 10. Hoje, chegaram mais 10, mas, como o volume estava zerado, vai demorar um pouco e estamos trabalhando em medida de retenção. Se a frota fosse restabelecida totalmente, levaria cerca de três ou quatro dias para normalizar as operações”, diz.

Quem teve a passagem cancelada passou horas no saguão do aeroporto de Brasília e, para pedir a remarcação, sofreu com a falta de informação. O químico Jorge Gusmão, 46 anos, teve o voo para Recife cancelado. Ele chegou às 6h no aeroporto acompanhado do filho João, 11. Até as 11h ainda aguardava um posicionamento da Latam. De mudança para a cidade nordestina, os dois estavam na esperança de conseguir um voo no mesmo dia. Gusmão reclama que a empresa pediu que a remarcação fosse feita via telefone ou internet, mas as linhas estavam congestionadas.

“Estamos com a mudança no caminhão e o que dava para trazer por aqui veio com a gente. Passei mais de 40 minutos no telefone e na Internet tentando remarcar, mas não consegui. O jeito é aguardar aqui mesmo”, lamenta. Ele é a favor das manifestações, mas ressalta que a população não pode ser prejudicada. “Precisam de ao menos uma trégua. A reivindicação é justa, mas está ficando abusiva e atrapalhando a vida dos brasileiros com o desabastecimento”, afirma.

Sem taxas

Em nota, as companhias informaram que os passageiros poderão alterar os voos sem a cobrança de taxa de remarcação e das diferenças tarifárias da passagem para nova data, sem multas, de acordo com a disponibilidade.

Além do Aeroporto JK, a Infraero divulgou uma lista de 14 aeroportos administrados pela pasta e que ainda estão em falta de combustível e operam com restrições: Carajás (PA), São José dos Campos (SP), Uberlândia (MG), Ilhéus (BA), Palmas (TO), Goiânia (GO), Campina Grande (PB), Juazeiro do Norte (CE), Recife (PE), Maceió (AL), Aracaju (SE), Vitória (ES), Petrolina (PE) e Joinville (SC).

A Latam teve 50 voo cancelados pelo país, 21 em Brasília. A empresa transportou em uma aeronave Boeing 777, entre Guarulhos e o Distrito Federal, 40 toneladas adicionais de combustível e, no retorno, levou 385 passageiros para Guarulhos (SP). Na Gol, sete voos foram cancelados. Pela Avianca, outros sete aviões que sairiam de Brasília permaneceram no aeroporto. No restante do país, 20 voos não decolaram e mais nove cancelamentos estão previstos para domingo. A Azul não teve nenhum voo cancelado em Brasília, mas, pelo país, foram 17. A lista segue sendo atualizada.

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Petroleiros cruzam os braços

27/05/2018

 

 

Trabalhadores da Refinaria Alberto Pasqualini (Refap), unidade da Petrobras instalada em Canoas, região metropolitana de Porto Alegre, cruzaram os braços no turno de 8h a 16h de ontem, em solidariedade ao movimento de greve dos caminhoneiros, informou o Sindicato dos Petroleiros do Rio Grande do Sul (Sindipetro-RS). Segundo a Petrobras, a operação não foi afetada. Isso porque os trabalhadores do turno anterior, de meia-noite às 8h, assumiram os trabalhos.

A diretora de comunicação do Sindipetro-RS, Élida Maich, informou que a paralisação foi decidida por cerca de 70 petroleiros reunidos na porta da Refap, na entrada do turno das 8h. A entrada da Refap foi bloqueada por manifestantes desde o início do movimento grevista dos caminhoneiros. Segundo a Petrobras, há bloqueios em várias refinarias, mas nenhuma unidade teve impacto na operação de produção.

A Federação Única dos Petroleiros (FUP) e seus sindicatos filiados também convocaram a categoria para uma greve nacional de advertência de 72 horas. A intenção é de que o movimento dos petroleiros comece a partir de quarta-feira (30/5). As entidades pedem redução de preços do gás de cozinha e dos combustíveis e a saída “imediata” do presidente da estatal, Pedro Parente.

Segundo a FUP, com “aval” do governo do presidente Michel Temer, o gestor “mergulhou” o país numa crise sem precedentes. “A atual política de reajuste dos derivados de petróleo, que fez os preços dos combustíveis dispararem, é reflexo direto do maior desmonte da história da Petrobrás. Os culpados pelo caos são Pedro Parente e Michel Temer”, comunicou a entidade em nota.

A FUP defende que o alinhamento internacional dos preços da Petrobras faria parte do “desmonte” da estatal. “O objetivo é privatizar as refinarias, os dutos e terminais, assim como já ocorreu com os campos do pré-sal, gasodutos, subsidiárias, entre dezenas de outros ativos estratégicos da estatal”, critica a entidade. A Refap foi uma das refinarias colocadas à venda, em abril, pela estatal, lembra a diretora do Sindipetro-RS. Segundo Élida, a paralisação poderá continuar, caso os funcionários do turno de 16h à meia-noite decidam cruzar os braços. Uma reunião será feita na entrada do turno.

Neste domingo, a FUP garantiu que os petroleiros farão novos atrasos e cortes de rendição nas quatro refinarias e fábricas de fertilizantes que estão em processo de venda: Rlam (BA), Abreu e Lima (PE), Repar (PR), Refap (RS), Araucária Nitrogenados (PR) e Fafen Bahia.