O globo, n. 30790, 24/11/2017. País, p. 5

 

Número 2 de gestão Cabral, Régis Fichtner é preso

Chico Otavio, Daniel Biasetto, Miguel Caballero, Juliana Castro e Maurício Ferro 

24/11/2017

 

 

Ex-secretário do ex-governador, ele é suspeito de ter recebido 1,5 milhão; Georges Sadala também é detido

Em novo desdobramento da Lava-Jato no Rio, agentes da Polícia Federal (PF) foram às ruas ontem e prenderam o ex-secretário da Casa Civil Régis Fichtner — suspeito de receber pelo menos R$ 1,5 milhão em propina — e o empresário Georges Sadala Rihan. Eles são acusados de fazer parte do esquema do ex-governador Sérgio Cabral.

A operação “C'est fini” também prendeu os engenheiros Maciste Granha de Mello Filho e Henrique Alberto Santos Ribeiro. Eles são acusados de favorecimento no esquema de distribuição de propinas de Cabral, de acordo com a contabilidade paralela de Luiz Carlos Bezerra, réu confesso, condenado e solto.

O empreiteiro Fernando Cavendish, ex-dono da Delta Engenharia que cumpre prisão domiciliar, foi alvo de condução coercitiva e levado para depor. A PF também foi à casa do empresário Alexandre Accioly, dono da rede de academias Body Tech, onde fez busca e apreensão.

A ação, coordenada pelo Ministério Público Federal (MPF) e autorizada pelo juiz da 7ª Vara Federal Criminal, Marcelo Bretas, é mais um desdobramento da Operação Calicute, versão da Lava-Jato no Rio. As medidas cautelares foram autorizadas pelo magistrado.

As investigações indicam que, enquanto comandou a Secretaria da Casa Civil na gestão do ex-governador Sérgio Cabral, Fichtner autorizava a validação de precatórios como forma de compensar débitos de ICMS para empresas devedoras.

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Repasses eram feitos até no Palácio Guanabara

24/11/2017

 

 

Segundo investigação, Fichtner recebia R$ 100 mil de cada vez

Para se chegar até os alvos de ontem, os investigadores se basearam no depoimento de um dos operadores do ex-governador Sérgio Cabral, Luiz Carlos Bezerra. Ao MPF, ele afirmou que entregou dinheiro em espécie a Fichtner, apelidado de “Alemão”, “Regis” ou “Gaúcho” nas anotações em que era feito o controle da propina.

O operador contou que as entregas a Fichtner se deram entre meados de 2013 até abril de 2014 e que os valores entregues eram sempre de R$ 100 mil. Ele disse se recordar de ter feito essa entrega pelo menos cinco vezes, dentro do Palácio Guanabara e no escritório de Fichtner, que fica no prédio do Jockey Club, no Centro.

As investigações indicam que, enquanto comandou a secretaria da Casa Civil na gestão de Cabral, Régis Fichtner também teria atuado na compra de títulos de precatórios que estavam parados na fila à espera de pagamento. Desta forma, ele lucrava com o ágio pago por quem preferia dinheiro na mão antes do fim do processo.

Um dos beneficiados pelo esquema, indicam os investigadores, era Henrique Ribeiro, expresidente do Departamento de Estradas de Rodagem (DERRJ), responsável pela construção do Arco Metropolitano e presença regular entre as testemunhas convocadas por Cabral para depor a seu favor nos processos a que responde na Justiça Federal do Rio.

Homem forte de Sérgio Cabral, Régis Fichtner foi suplente do peemedebista no Senado de 2002 a 2007. Depois, assumiu a Casa Civil do então governador de 2007 a 2014. Só nesse último período, de acordo com os cálculos da contabilidade paralela apresentados pelo MPF, faturou “em torno de R$ 1,56 milhão de propina em espécie da organização criminosa”, diz a peça de acusação do Ministério Público Federal.

 

DEFESA NEGA ACUSAÇÕES

Georges Sadala é um dos personagens do encontro que ficou conhecido como “farra dos guardanapos”. A comemoração reuniu Cabral, secretários, assessores e empresários numa festa em Paris, em 2009. O nome da operação — “C'est fini” (“acabou”, em francês) — é uma referência a essa festa.

Sadala é apontado pelo MPF como operador financeiro dentro da organização criminosa comandada por Cabral.

Em nota, a defesa de Sadala afirmou que a prisão “atende a propósito meramente simbólico” para fechar o “enredo dos guardanapos”. Segundo a defesa, não há indício de crime. A defesa de Fichtner não se pronunciou.