O Estado de São Paulo, n. 45353, 19/12/2017. Política, p. A6.

 

Advogados fazem plantão para soltar Odebrecht

Fábio Serapião / Julia Affonso

19/12/2017

 

 

Empreiteiro poderá ser levado hoje para prisão domiciliar; Ministério Público Federal solicitou entrega de documentos

 

 

Advogados de Marcelo Odebrecht foram, ontem, até o prédio da Justiça Federal para garantir que o empresário conseguisse deixar o regime fechado hoje – prazo previsto em seu acordo de colaboração premiada –, após cumprir pena de dois anos e seis meses de prisão. A soltura estava atrelada à apresentação de uma série de documentos solicitados pelo Ministério Público Federal – o material, apurou o Estado, foi entregue. A saída de Odebrecht está prevista para hoje às 13h.

“A própria Justiça concordou com os termos quando ele foi assinado. Como a previsão do acordo é que ele seja solto amanhã (hoje), estamos aguardando que isso seja cumprido”, disse Nabor Bulhões, um dos quatro advogados de Odebrecht, ao sair do prédio onde entregou uma série de documentos solicitados pelo MPF à juíza Carolina Lebbos, a responsável por acompanhar a execução da pena do empresário.

Na sexta-feira passada, a força-tarefa da Lava Jato cobrou a defesa de Odebrecht para que apresentasse “documentos faltantes” – extratos de contas, valores de bens e imóveis, por exemplo – à 12.ª Vara Federal, em Curitiba, responsável pela execução penal do empreiteiro.

A Procuradoria da República queria avaliar se o empresário estava fazendo “jus aos benefícios” de seu acordo de delação premiada e se, por consequência, poderia mudar de regime de cumprimento de pena.

A defesa ficou no local por cerca de 20 minutos. Na saída, Bulhões apontou os “dois maiores objetivos” do empreiteiro. “Ele está preocupado com dois pontos: primeiro, voltar para a família. Segundo, ser efetivo na colaboração dele, como ele vem sendo efetivo na colaboração com a Justiça. São os dois maiores objetivos dele”, afirmou.

O herdeiro da família Odebrecht também terá de enfrentar as arestas criadas com seus parentes mais próximos ao longo do processo de prisão e de negociação e assinatura da colaboração premiada. Descontente com sua pena e com a decisão do pai, Emílio Odebrecht, em aceitar os termos do acordo, Marcelo rompeu com o patriarca do clã, com a irmã e o cunhado, o diretor jurídico da empresa Maurício Ferro.

 

Ultimo dia. A rotina de Marcelo na carceragem da PF foi a mesma: acordar, se exercitar e comer salada, arroz, feijão e uma proteína no almoço. A possibilidade da saída do empresário tampouco alterou o funcionamento do prédio Polícia Federal, no bairro Santa Cândida, em Curitiba.

Dezenas de pessoas que adentraram ao edifício de três andares só queriam saber de um assunto: onde ficava o guichê do passaporte. A presença do preso mais famoso do local e as movimentações de seus advogados em seu último dia de regime fechado passaram despercebidas.

 

Acordo. Odebrecht foi preso pela Polícia Federal em 19 de junho de 2015, na Operação Erga Omnes, 14.ª fase da Lava Jato, e condenado a 19 anos e 4 meses de prisão pelo juiz federal Sérgio Moro. Ao fechar seu acordo de delação premiada, o empreiteiro obteve o benefício de deixar o regime fechado após 2 anos e 6 meses de prisão e passar a cumprir prisão domiciliar. Ao todo, o empreiteiro vai cumprir 10 anos por lavagem de dinheiro e associação criminosa.

Visto num primeiro momento como condição de um bom acordo, dado o escopo de crimes praticados pela empreiteira durante sua a gestão, a permanência em regime fechado foi estressando a relação com advogados, funcionários e familiares. A relação piorou após a notícia da imunidade concedida a Joesley Batista. O herdeiro chegou a se desentender com o coordenador da negociação, o advogado interno da Odebrecht Adriano Maia. Para o empresária, foram colocados crimes a mais na sua conta do que os cometidos por ele.

Como preparação para a saída do filho da prisão, na condição de presidente do Conselho de Administração, Emílio Odebrecht anunciou uma nova regra na companhia: integrantes da família estão proibidos de ocupar o cargo de diretor-presidente da Odebrecht. O patriarca também anunciou que antecipará sua saída da empresa para começar a cumprir sua pena prevista no acordo de colaboração. Na sua negociação, Emílio conseguiu postergar o cumprimento da pena por dois anos para que pudesse coordenador a reestruturação da empresa.

 

Defesa. Um dos advogados de Marcelo Odebrecht, Nabor Bulhões, na frente do prédio da Justiça Federal, em Curitiba

 

‘Solto’

“A própria Justiça concordou com os termos quando ele foi assinado. Como a previsão do acordo é que ele seja solto amanhã (hoje), estamos aguardando que isso seja cumprido.”

Nabor Bulhões

ADVOGADO DE MARCELO ODEBRECHT