Correio braziliense, n. 19992, 17/02/2018. Política, p. 3
Bernardo Bittar e Rento Souza
17/02/2018
Apesar da escalada de violência das últimas semanas, o Rio de Janeiro enfrenta uma crise de segurança pública há décadas. A primeira disputa armada entre criminosos ocorreu em 1971, no Morro da Providência, onde traficantes já circulavam com metralhadoras e fuzis. A briga era pelo mercado de maconha que ganhava espaço na região. Alguns anos mais tarde, o Brasil assistiu ao começo da guerra do tráfico, em 1979, na Cidade de Deus, em uma troca de tiros entre a quadrilha comandada por José Eduardo Barreto Conceição, o Zé Pequeno, contra o bando liderado por Manoel Machado, conhecido como Zé Galinha.
O caso, levado ao cinema pelo filme “Cidade de Deus”, originou a guerra do tráfico que dominou comunidades, chegou ao centro da cidade e deu origem à segunda maior facção do país, o Comando Vermelho. A violência deixou um saldo de 2,9 mil mortos nas cidades cariocas em 2017.
A violência no estado chegou a ser criticada até pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Torquato Jardim. No ano passado, ele afirmou que a capital fluminense era controlada por facções que estavam infiltradas inclusive na polícia. A declaração pegou mal, mas não houve retratação. Os 43 mil homens da Polícia Militar e 10 mil agentes, delegados e investigadores da Polícia Civil não foram suficientes para impedir que criminosos realizassem ataques contra caminhões de cargas, bancos, realizassem assaltos, trocas de tiros e tirassem a vida de mais de 115 integrantes da Polícia Militar.
O Rio já teve atuação das Forças Armadas em diversos momentos. Em janeiro, houve novo protocolo de intenções de cooperação entre as forças de segurança na região. O acordo foi firmado entre o governo federal e o governo do Rio de Janeiro. À época, Torquato explicou que a ideia era “um conjunto de indicadores, de metas e de resultados. Integrarem a esse esforço a própria sociedade civil do Rio, que será convidada a tomar assento nesse esforço”. Por causa da onda de violência, um decreto ordenando a permanência da Força Nacional até dezembro do ano passado foi promulgado em setembro.
Os agentes ficaram na cidade para tentar diminuir o índice de crimes contra a vida e o patrimônio. Segundo a Prefeitura do Estado do Rio de Janeiro, as polícias civil e militar apreenderam 499 fuzis em território fluminense, o maior índice já registrado. Segundo o coronel José Vicente da Silva, ex-Secretário Nacional de Segurança, o efetivo de policiais no Rio de Janeiro é 30% maior que o de São Paulo, que não vive crise tão acentuada quanto a capital fluminense. “Quando a polícia perde a mão, a recuperação é extremamente lenta. Avalio que pode demorar de 2 a 5 anos para que o Rio volte a colocar a corporação nos eixos sem essa intervenção. Como ainda não há detalhes sobre este processo, mantenho a previsão”.
Forças policiais
A Polícia Militar do Rio de Janeiro conta com um efetivo de 43 mil homens, entre praças e oficiais
De acordo com o governo estadual, a Polícia Civil tem um contingente de
10 mil pessoas, contando com mais de 275 delegacias, postos e departamentos especializados
A Guarda Municipal atua na capital
do estado com 8 mil integrantes.
No entanto, por conta da lei estadual, o efetivo trabalha desarmado
e não atua no combate ao tráfico
Homicídios
Em janeiro deste ano, de acordo
com dados da ONG Fogo Cruzado,
146 pessoas foram assassinadas
O estado registrou uma média de
22 ocorrências de disparos de
armas de fogo por dia, sendo que
158 pessoas ficaram feridas