O globo, n.30769 , 03/11/2017. País, p.5

Aloysio Nunes admite pedido de doação à Odebrecht, em 2010

EDUARDO BRESCIANI

EDUARDO BARRETO

 

 

PGR afirma que repasses são ‘ incontroversos’ e devem ter origem investigada

 

O ministro de Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira ( PSDB- SP), admitiu em depoimento prestado à Polícia Federal, no dia 3 de maio deste ano, ter solicitado recursos à Odebrecht para sua campanha ao Senado em 2010, mas negou o recebimento de verbas por meio de caixa dois. Ele também reconheceu que, quando era secretário estadual em São Paulo, se encontrou com um executivo da empresa, que se tornou delator, mas negou ter pedido qualquer vantagem.

Em petição encaminhada ao Supremo Tribunal Federal ( STF) no último dia 24, a procuradora- geral da República, Raquel Dodge, afirmou ser “fato incontroverso” que houve repasse para a campanha de Aloysio. O documento foi revelado ontem, em reportagem do jornal “Folha de S. Paulo”.

Executivos da Odebrecht alegaram, em delações premiadas, ter repassado R$ 500 mil à campanha de Aloysio Nunes, por meio de caixa dois. No parecer, Raquel afirma que é preciso esclarecer a origem desses recursos e cita delações de Carlos Armando Guedes Paschoal e Benedicto Junior, ex- executivos da empreiteira.

O delator Carlos Paschoal disse aos investigadores que uma pessoa indicada por Aloysio Nunes determinou em que hotéis da Zona Sul de São Paulo deveriam ser entregues duas parcelas de R$ 250 mil. Também em colaboração premiada, Benedicto Junior confirmou a acusação e disse que Paschoal tinha a função de fazer “avaliação eleitoral” do ministro e ex- senador. Aloysio nega o recebimento.

 

RAQUEL QUER NOVO DEPOIMENTO DE ALOYSIO

No depoimento à PF, o ministro confirmou ter solicitado doação à empreiteira, mas disse não saber a qual representante da Odebrecht fez o pedido. Segundo ele, a arrecadação ficou a cargo do coordenador financeiro da campanha, Rubens Rizek. Na prestação de contas de Aloysio, em 2010, não consta nenhuma doação oficial da Odebrecht.

O ministro também admitiu ter tratado com representantes de empresas sobre a obra do Rodoanel Sul, quando era secretário de estado. Paschoal foi um dos recebidos. O ministro nega ter feito qualquer pedido de vantagens nessas reuniões.

Na petição encaminhada ao STF, a procuradora Raquel Dodge pede que o tribunal determine um novo depoimento do senador para que ele esclareça quem indicou a Paschoal. “O senador deve ser reinquirido para declinar o nome da pessoa que apresentou ao colaborador Carlos Armando, na reunião em seu comitê eleitoral, para pedir recursos à sua campanha, já que referida reunião foi confirmada pelo parlamentar em seu depoimento”, afirma a PGR.

Se ficar provado que houve contrapartidas para a construtora em troca de dinheiro, o crime deixaria de ser o de caixa dois e passaria a ser o de corrupção, que tem pena mais elevada.

Aloysio Nunes e o senador José Serra ( PSDBSP) são citados no mesmo inquérito. Serra é investigado por suposto recebimento de propina na construção do Rodoanel Sul, na época em que era governador de São Paulo, entre 2007 e 2010.

Raquel Dodge ponderou que não deverão ser investigados os crimes atribuídos a eles que tenham sido cometidos antes de 2010. Tais crimes estariam prescritos, porque ambos têm mais de 70 anos e, consequentemente, o tempo de prescrição cai pela metade. No caso do repasse feito em 2010, caso seja enquadrado como corrupção, a prescrição se dará no próximo ano.