Correio braziliense, n. 19924, 10/12/2017. Política, p. 4

 

Alckmin leva, mas terá de disputar prévias

10/12/2017

 

 

PARTIDOS » Eleito por 470 votos dos 474 possíveis, o governador de São Paulo é o novo presidente do PSDB. Além da disputa interna, terá de convencer tucanos a aprovar Reforma da Previdência

Novo presidente por consenso do PSDB, Geraldo Alckmin assumiu ontem, durante convenção, um partido que ainda precisa lamber várias de suas feridas para retomar o protagonismo na disputa nacional. Alckmin recebeu 470 dos 474 votos possíveis dos delegados, mas não escapará de enfrentar prévias internas com o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio Neto, para concorrer ao Planalto em 2018. Defendeu, pessoalmente, o fechamento de questão em torno da reforma da Previdência, mas precisará convencer a bancada de deputados de que esse é o melhor caminho. E ainda precisará construir a própria candidatura, estacionada, até o momento, em 6% das intenções de voto em todas as pesquisas.

“Temos a competência para ajudar o Brasil. O país vive uma ressaca. Descobriu que a ilha da fantasia do PT nunca foi a terra prometida. A ilusão petista acabou em pesadelo na maior crise moral e ética de nossa história”, acusou o governador, lembrando que o atual governo — do qual o PSDB ainda faz parte, já que apenas Bruno Araújo (PE) e Antonio Imbassahy (BA) entregaram os cargos — assumiu com as contas públicas desgovernadas. Ressaltou o papel do PSDB na aprovação das reformas trabalhista, tributária e, agora, previdenciária. “Eu, pessoalmente, defendo o fechamento de questão a favor da reforma. Mas marcarei uma reunião da Executiva com a bancada, nesta semana, para debatermos isso”, prometeu, lembrando que fez a mesma reforma, a nível estadual, em 2011.

Foi a única menção de Alckmin ao governo. Ele não falou nada sobre o PMDB, legenda que resiste, pelo menos a curto prazo, a alinhar-se aos tucanos. Exceção feita ao presidente do partido, Romero Jucá (RR), que defende uma decisão somente no último instante para se coligar com os tucanos. “Esse não é o momento de falarmos em coligações. Só falaremos disso após a definição das candidaturas”, desconversou Alckmin.

Adversário do governador nas prévias internas, o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio, disse que “não aceitará qualquer tipo de aliança com o PMDB”. Em um ponto, os dois concordam: é preciso combater o PT. “Os brasileiros estão vacinados contra o lulo-petismo. Lula quer voltar ao poder, quer voltar à cena do crime. As urnas condenarão Lula pelo desgoverno, pelos 14 milhões de desempregos. Ele jogou brasileiros contra brasileiros e a nossa autoestima, pela janela”, disse Alckmin.

O governador paulista, que enfrentou o mesmo Lula em 2006, terminando o segundo turno com menos votos do que obteve no primeiro, disse que, se ambos se encontrarem novamente, “será um bom tira-teima”. Um dos maiores problemas, àquela época, foi a insegurança passada pelo próprio tucano no discurso sobre privatizações. Provocado pelo discurso petista, ele chegou a posar, no segundo turno, com um macacão repleto de adesivos de empresas estatais. “Eu sou favorável à privatização da Eletrobras. Tanto que vou privatizar a Cesp no início do ano que vem. Sou favorável às privatizações, às concessões e as PPPs”, enumerou ele.

Raciocínio x emoção

Embora os discursos ufanistas tenham triunfado em diversos momentos, coube ao ex-presidente Fernando Henrique trazer o partido para a realidade. “Nesse momento, é preciso não ter apenas raciocínio, mas emoção. É triste para muitos de nós que lutamos pela democracia o desastre que vivemos. Temos de ter a humildade de admitir que nós também erramos. Precisamos voltar a escutar o discurso do povo, o discurso rente ao chão”, defendeu FHC.

Segundo o ex-presidente, que retomou o seu perfil de sociólogo para debater assuntos como drogas e violência em comunidades carentes, o PSDB precisa reengatar a vida. “O Brasil é desigual e o PSDB tem que entrar no debate concreto do negro, da mulher. Senão ficará falando para a academia”, completou. Arthur Virgílio concordou: “Não nos iludamos que isso (a convenção) não espelha o Brasil. O Brasil nos repudia. Precisamos cortar na própria carne e punir os nossos. Precisamos de menos charanga e correr mais o país para assumir que o partido errou”, criticou.

Tentando aparar arestas internas e o desgaste sofrido após se apresentar como opção ao Planalto no ano que vem, o prefeito de São Paulo, João Doria, atuou quase como um apresentador de um programa de auditório durante o próprio discurso. “Em São Paulo, arrasamos o PT, não existe mais o cinturão vermelho. Quero dar meu apoio a Geraldo Alckmin não apenas para presidente do partido. Quero que a militância aplauda, de pé, o futuro presidente do país: Geraaaldoo Alckmiiinn”, pediu, quase em êxtase.