Valor econômico, v. 17, n. 4356, 06/10/2017. Política, p. A16.

 

 

Carlos Arthur Nuzman é preso por suspeita de corrupção e lavagem de dinheiro

André Ramalho e André Guilherme Vieira

06/10/2017

 

 

O presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), Carlos Arthur Nuzman, preso temporariamente ontem, durante a segunda fase da Operação "Unfair Play", é suspeito de enriquecer ilicitamente com desvios em contratações feitas pela entidade. Nuzman teria escondido parte de seu patrimônio na Suíça e ocultado 16 quilos de ouro, afirmam os investigadores. A Justiça decretou o bloqueio de seus bens ao limite de R$ 1 bilhão. Também foi preso o braço direito de Nuzman, Leonardo Gryner, diretor-geral de operações do Comitê Rio 2016.

Ambos integravam uma organização criminosa liderada pelo ex-governador Sérgio Cabral (PMDB), réu em 14 ações penais por corrupção e lavagem, segundo o Ministério Público Federal (MPF).

A determinar as detenções provisórias, a pedido do MPF, o juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Criminal Federal do Rio, apontou evolução patrimonial "exponencial" e incompatível" com os rendimentos de Nuzman, que cresceram 457% durante 10 dos 22 anos em que esteve à frente do COB, de acordo com a Receita Federal.

A tentativa de esconder patrimônio após a primeira fase da operação, no mês passado, foi uma das justificativas do MPF para requerer as prisões.

Conforme as investigações, Nuzman declarou à Receita a existência de 16 barras de ouro, de 1 kg cada, que mantinha no exterior, por meio de retificação da Declaração de Imposto de Renda Pessoa Física feita em de 20 de setembro de 2017. A procuradora da República Fabiana Schneider afirmou que a retificação foi feita para "tentar dar aparência de legalidade a um patrimônio que estava omisso, obscuro".

Segundo Fabiana, "enquanto os atletas buscavam medalhas, os dirigentes do COB guardavam o seu ouro na Suíça", ironizou a integrante da força-tarefa da Lava-Jato no Rio de Janeiro.

Para o MPF, que contou com a cooperação penal da França, o esquema de compra de votos para escolha do Rio como cidade-sede dos Jogos Olímpicos de 2016 envolveu volumes maiores que os US$ 2 milhões inicialmente identificados pela investigação.

Segundo o procurador Rodrigo Timóteo, Nuzman e Gryner mantiveram "diálogos diretos e francos" com Papa Massata Diack, filho do presidente da Federação Internacional de Atletismo, Lamine Diack, sobre compra de votos.

A procuradora Fabiana Schneider destacou haver indícios de que a compra de votos cooptou ainda outros integrantes africanos do Comitê Olímpico Internacional (COI). Nas conversas com autoridades brasileiras, Diack "se dirigia a um conjunto de pessoas, a quem denominava de 'nossos amigos'", afirmou.

O procurador Rodrigo Timóteo disse que empresários próximos de Sérgio Cabral foram beneficiados com a realização dos Jogos Olímpicos Rio 2016, numa "relação de ganha-ganha".

"Não bastava ganhar a Olimpíada, a organização criminosa, através de pessoas diretamente envolvidas na organização de Cabral, recebeu de alguma forma benefícios com a realização da Olimpíada", disse Timóteo.

Ele destacou que, após depositar US$ 2 milhões para a compra do voto do presidente da Federação Internacional de Atletismo, Lamine Diack, com o propósito de escolher o Rio como a cidade-sede dos Jogos, o empresário Arthur Soares, conhecido como "Rei Arthur", abriu o empreendimento hoteleiro LSH na Barra da Tijuca, no Rio, "acobertado desde o início com contratos com o comitê organizador".

O procurador falou também que o Comitê dos Jogos fechou negócios com outros empresários próximos a Cabral, como Marco De Luca - que assinou contrato no valor de R$ 90 milhões para prestar serviços de alimentação e 'hospitality' ao comitê organizador - e Jacob Barata Filho - para prestação de serviços de transporte para o Comitê. Barata é alvo de outra investigação desdobrada da Lava-Jato, a "Ponto Final", e teve duas prisões de primeira instância revogadas pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), em agosto.

A defesa de Barata Filho disse que todos os contratos mencionados pelo MPF são privados e que foram pautados por "critérios de capacidade técnica".

Os advogados de Nuzman informaram que, por ora, não se manifestarão sobre o assunto.