Valor econômico, v. 17, n. 4354, 04/10/2017. Política, p. A7.

 

 

Coutinho confirma reunião com Mantega e Joesley

Fabio Murakawa e Vandson Lima

04/10/2017

 

 

O ex-presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento BNDES Luciano Coutinho confirmou ontem, na CPI mista da JBS, que participou de uma reunião com o empresário Joesley Batista e Guido Mantega no gabinete do então ministro da Fazenda, em 2010. E disse que se sentiu "desconfortável" com o encontro. Coutinho, porém, disse ter "vaga lembrança" do que foi conversado e negou ter recebido qualquer "solicitação indevida" de Mantega.

O encontro havia sido revelado por Joesley no acordo de delação premiada que o empresário firmou com a Procuradoria-Geral da República (PGR). Ele teria ocorrido entre o primeiro e o segundo turnos da eleição presidencial de 2010. No depoimento, Joesley disse ter feito "pressão política" para que o BNDES liberasse financiamento para a construção de uma fábrica de celulose em Mato Grosso do Sul.

Joesley disse ter pedido a Mantega, ao ex-ministro Antonio Palocci e ao senador José Serra (PSDB-SP), à época candidato à Presidência, que telefonassem a Coutinho para manifestar apoio à concessão do crédito. Na versão do empresário, Mantega marcou, então, uma reunião no Ministério da Fazenda com Coutinho e Joesley para discutir o assunto. Ainda segundo Joesley, o BNDES voltou, a partir daquele dia, a analisar o projeto. O financiamento acabou ocorrendo e a fábrica foi inaugurada em 2012.

"O que posso dizer é que não recebi nenhum pedido ilícito. Eu me senti desconfortável com isso [o encontro com Mantega e Joesley] porque eu recebia todos os empresários que pediam audiência no BNDES", disse Coutinho.

Na sessão de ontem, Coutinho foi várias vezes questionado por parlamentares a respeito de uma suposta interferência de Mantega, Palocci e Lula para que o BNDES favorecesse a JBS na concessão de empréstimos. Palocci atuou como consultor da JBS entre 2008 e 2010. Em maio deste ano, a Operação Bullish da Polícia Federal relacionou esse trabalho à empréstimos do BNDES à empresa de Batista. Coutinho foi um dos alvos dessa operação, tendo sido levado coercitivamente a depor à PF.

"Com toda a franqueza, eu nunca tive conhecimento de nenhum pedido ilícito ou de nenhuma consultoria das atividades do ex-ministro Palocci", disse Coutinho, em resposta a consulta do deputado Delegado Franceschini (SD-PR). "E isso não teve nem eu permitiria que viesse a ter qualquer interferência na lisura dos processos do BDNES."