Valor econômico, v. 17, n. 4341, 15/09/2017. Brasil, p. A3.

 

 

IBC-Br faz subir projeções de crescimento

Thais Carrança e Eduardo Campos

15/09/2017

 

 

Menos de um mês após uma onda de revisões para cima das projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) de 2017 e 2018, depois da divulgação das contas nacionais do segundo trimestre, economistas já voltam para suas planilhas e consideram uma nova rodada de correções positivas.

Com alta inesperada de 0,41% em julho, na comparação mensal ajustada, o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) ofuscou a queda de 0,8% do setor de serviços, divulgada pelo IBGE na véspera. Além disso, o IBC-Br de junho foi revisado de avanço de 0,50% para 0,55%.

A elevação ficou no teto das estimativas coletadas pelo Valor Data, que iam de queda de 0,2% a alta de 0,41%, com média de 0,09%. No ano, a variação passou ao terreno positivo, com pequena alta de 0,14%. Em 12 meses encerrados em julho, a retração é de 1,44% na série sem ajuste. Em relação a julho de 2016, o índice tem alta de 1,41%.

A alta registrada em julho pelo IBC-Br e as revisões da série passada do indicador deixam uma herança estatística de 0,69% para o terceiro trimestre, calcula Fernando Montero, economista-chefe da corretora Tullett Prebon. Isso significa que, se o indicador fechar o trimestre no nível registado em julho, haverá uma expansão de 0,69% em relação aos três meses anteriores, feito o ajuste sazonal.

"O PIB está vindo com velocidade um pouco mais forte do que estávamos esperando", afirma Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do Ibre-FGV. "Ainda temos pouca informação de setembro, mas, se continuar nesse ritmo, vamos ter que revisar para cima."

O Ibre projeta atualmente alta de 0,1% para o PIB do terceiro trimestre, abaixo do avanço de 0,2% de abril a junho, devido principalmente à desaceleração do setor agropecuário. Para 2017, o instituto calcula as contas nacionais em crescimento de 0,7%, pouco acima do consenso do mercado, de 0,6%, segundo o boletim Focus, do BC.

A pesquisadora acredita que é grande a probabilidade de o número do ano ser revisado para cima, devido ao desempenho dos demais setores - notadamente, a indústria e o comércio, que surpreenderam com avanços de 0,8% e 0,2% (no conceito ampliado), respectivamente, nos dados mensais de julho.

Também o UBS já vê a possibilidade e elevar a sua estimativa de avanço de 0,5% do PIB este ano, mas continua projetando alta de 3,1% para 2018, impulsionado pela expansão do consumo. Segundo o banco, se o crescimento da atividade fosse zero até o fim do ano, o IBC-Br teria expansão de 0,9% em 2017 - o indicador é considerado um "termômetro" do PIB divulgado pelo IBGE.

A alta do IBC-Br em julho reforça a hipótese de que a economia está em trajetória de recuperação e de que não se trata de uma retomada sob condições frágeis, uma vez que está disseminada por diversos setores, avalia Helcio Takeda, diretor da consultoria Pezco. O economista acredita que pode ter havido uma contribuição positiva do setor agropecuário para o desempenho do mês.

Segundo ele, as exportações do agronegócio revelam variações fortes em agosto e setembro, principalmente para carnes, açúcar e suco de laranja. Isso seria um indício de bom desempenho da produção em julho, e talvez também em agosto, contrariando a expectativa de desaceleração para o agronegócio no trimestre.

O BNP Paribas avalia que o avanço acima do esperado da atividade não deve prejudicar a manutenção de juros baixos em 2018. O banco projeta a Selic em 6,5% no fim do ciclo de afrouxamento monetário - abaixo dos 7% das instituições que mais acertam previsões no boletim Focus - e acredita que esse patamar poderá ser mantido por um tempo longo, devido à elevada ociosidade da economia.